Parece inacreditável, mas nos anos 1950, Billy Wilder, no auge da carreira e alguns Oscars na gaveta, se rendeu terminantemente à opinião do público. Foi quando, numa sessão de Crepúsculo dos deuses ; sua corrosiva crítica ao mundo fake hollywoodiano ;, no interior dos Estados Unidos, a plateia se estatelou de tanto rir com a sequência de abertura do filme. Nela, um William Holden canastrão, mortinho da silva, aparece num bate-papo descontraído com os amigos defuntos num necrotério. Todos confidenciando como cada um fora parar ali. Se na época do lançamento da produção o diretor de clássicos como Farrapo humano (1945), Quanto mais quente melhor (1959) e Se meu apartamento falasse; (1960) tivesse submetido o seu trabalho a um teste de audiência, o vexame teria sido evitado.
Desde 2007 destaque da programação do Teatro da Caixa, o projeto, idealizado pelos cineastas Renato Barbieri e Marcio Curi, tem se transformado em importante suporte para o desenvolvimento do cinema brasileiro. Para se ter uma ideia da relevância da iniciativa, 25 diretores de diferentes gerações submeteram suas obras à opinião do público e especialistas em sessões abertas. Gente do naipe de José Eduardo Belmonte, Toni Venturi, Carlos Alberto Riccelli e Anna Muylaert, que emplacou seu filme É proibido fumar, uma das atrações do teste, na mostra competitiva da 42; Edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
;Acho o projeto sensacional, você poder passar seu filme para o público antes de ele ficar pronto e evitar erros ou mal entendidos;, comenta a cineasta paulista, que não pensou duas vezes quando teve oportunidade de repetir a dose, com a exibição, na última sessão de 2009 do teste de audiência, realizada terça-feira passada, de seu mais recente trabalho, o longa Para aceitá-la continua na linha. ;Essa iniciativa é incrível para todo mundo, para mim, sobretudo, no que diz respeito a É proibido fumar. Para o projeto novo também, já que mostrei o primeiro corte e foi realmente uma prova de fogo, muito positivo, só me deu força para continuar no projeto;, elogia.
Ouça trecho da entrevista com o cineasta Renato Barbieri
Um dos destaques do primeiro ano da edição do teste com o documentário Filhos de João, admirável mundo baiano, também na briga pelo Candango de Melhor Filme no Festival, o baiano Henrique Dantas só tem a agradecer. ;Foi nessa sessão que vi meu filme sair da condição de abóbora e virar uma carruagem. Que senti que tinha nas mãos um filme;, conta Dantas. ;Estava um pouco desacreditado, inseguro e a reação positiva ao filme no teste surgiu como um grande apoio;, emenda.
A próxima edição do projeto está prevista para fevereiro.
No mapa
Idealizado com o objetivo de estreitar as relações entre o público e o cinema brasileiro, o Teste de Audiência, desde 2007 em atividade, tem provado ser uma espécie de bússola para os realizadores cinematográficos. Os filmes, a grande maioria em fase avançada de finalização, são escolhidos a partir de uma curadoria feita pelos realizadores Renato Barbieri e Márcio Curi. Exibidos sempre com a presença do diretor em sessões abertas ao público, curadores e uma equipe especializada em estatísticas da UnB, os filmes são debatidos ao fim de cada projeção. Os dados aferidos a partir dos questionários respondidos pelo público são tabulados pela equipe de estatísticas. É a partir desses números que os organizadores do teste de audiência dão os diagnósticos dos pontos positivos e negativos da obra.
Ouça trecho da entrevista com a cineasta Anna Muylaert