Ao longo dos anos, a ingenuidade e o romantismo de personagens boêmios de outrora foram substituÃdos por generosa dose de informação, drama e didatismo. Desde o quase lendário bêbado Nezinho do Jegue (Wilson Aguiar), de O bem amado, de Dias Gomes, passando por Heleninha Roittman (Renata Sorrah), em Vale tudo, até Renata (Bárbara Paz), em Viver a vida, a intenção dos personagens bêbados nas tramas se diferenciou progressivamente ao longo dos anos.
"O alcoolismo é um dos maiores flagelos sociais por ser considerado uma droga lÃcita. É de onde se tira o falso prazer, a falsa alegria", sinaliza Manoel Carlos, autor de Viver a vida.
Para Bárbara Paz, que teve de mergulhar em pesquisas para compor a personagem que sofre de drunkorexia, nome utilizado para retratar a anorexia alcoólica, o panorama que encontrou foi aterrador. A atriz teve contato com diversas mulheres que sofrem da doença e que deixam de comer porque já ingerem calorias demais com bebidas alcoólicas. "È uma doença bem moderna, muito mais comum do que a gente pensa. No caso da Renata, o problema parece ser genético. O pai morreu por ser alcoólatra e a mãe adora uma birita", avalia Bárbara.
Os casos de personagens femininas bêbadas parecem ser ainda mais dramáticos. "É impressionante como até hoje Heleninha Roittman é abordada. Fico pasma com a quantidade de informações que se tem sobre ela na internet", observa Renata Sorah.
Em Mulheres apaixonadas, de Manoel Carlos, Vera Holtz viveu a alcoólatra Santana, que se submetia a vexatórios escândalos públicos quando bebia demais. Uma das polêmicas da personagem era ser uma professora bêbada. Santana chegava a ingerir vidros de perfume. "Ela fez com que muitas pessoas caÃssem na real. Eu era abordada por mães de alcoólatras nas ruas. Mas tentei fazê-la de uma maneira mais leve, por mais dramática que fosse", lembra Vera.
Heleninha, pra sempre
Sempre que se fala em alcoolismo na televisão, o nome da personagem Heleninha Roittman é imediatamente lembrado como um Ãcone no tema. A personagem de Renata Sorrah em Vale tudo aparecia em grande parte das cenas da trama de Gilberto Braga, sempre tilintando os gelos de seu copo de uÃsque - preenchido com doses duplas.
Apesar da trama ter sido exibida há mais de duas décadas, Gilberto Braga teve uma preocupação pouco comum na produção: a abordagem de uma forma didática, com uma preocupação de mostrar as bebedeiras da personagem como doença, mas sem cair no didatismo tão comum e repetitivo das tramas atuais. "Frequentei várias reuniões do AA na época. A Heleninha procurava o AA para se curar. Para mim, a bebedeira não tem nenhum romantismo ou poesia. Tenho certeza de que, naquela época, já conseguimos ajudar muitas pessoas mostrando que isso é uma doença", enfatiza Renata.
Assista aos porres de Heleninha