Diversão e Arte

Em documentários, o diretor Nelson Hoineff revela características e segredos de dois personagens da TV

postado em 08/11/2009 12:06
"Não sou um cineasta, sou um homem de televisão", diz, com toda a legitimidade, o diretor Nelson Hoineff, que, com o recém-lançado Alô, alô, Terezinha!, já se prepara para nova exposição na mídia, à frente de outro documentário, Caro Francis, selecionado para o 11º festival Internacional de Cinema (FicBrasília). Ouça trecho da entrevista com o diretor Nelson Hoineff Reativando, pelos filmes, a memória dos brasileiros em torno de figuras tão díspares quanto Chacrinha e o jornalista Paulo Francis, Hoineff comemora o saldo positivo de adaptações da linguagem comum à tevê. "Ela, que sempre teve baixa autoestima, incorporou sintaxes, mas sobretudo a acomodação de outros meios de expressão", critica o profissional, que, sem falsa modéstia, relembra de méritos como ter respondido pela renovação impressa com o jornalístico Documento especial. "Hoje, a televisão é relativamente mais livre e menos oficialista do que era há 30 anos, pela contribuição do programa", avalia. Aos 55 anos, Rita Cadillac diz que fez filme pornô para comprar casaAcostumado ao público medido em milhões (na tevê, com programas como Realidade e Primeiro plano), Hoineff evita associar o termo documentário aos novos produtos. "A palavra ficou muito desgastada, ligada a público que represente pequena elite de meia dúzia. Os espectadores esperam, a partir da palavra documentário, ver pessoas que vivem em cima do lixo ou uma coisa chata. Com Alô, Alô, Terezinha, espero encantar tanta gente quanto o Indiana Jones", brinca. Um dos segredos para o sucesso, segundo Hoineff, está em conduzir uma horizontalidade em relação à abordagem do personagem explorado. "Existe um vício da tevê - da verticalidade -, frente ao objeto, que chega a ser julgado: "Eu sou a grande mídia e você (fica aí embaixo) é o objeto que estou examinando". Isso sempre me deu urticária. Fazíamos no Documento especial tanto reportagens sobre prostituição quanto de denúncias de corrupção no Congresso com naturalidade e éramos respeitados pelos dois lados. Não existia o discurso: ''Eu sou o intelectual e você é a prostituta'. A gente logrou isso no Caro Francis e no Alô, alô, Terezinha!", observa. Com dois filmes "sobre transgressões" no mercado, o cineasta assume em Caro Francis - "realizado a partir de 19 anos de amizade com o homenageado" - a falta "de isenção jornalística, como denuncia o título. O filme é feito, frequentemente, na primeira pessoa". Na tentativa de descobrir o amigo, a partir de nós que existiram na vida dele, o diretor se deparou com elementos como a migração do trotskismo para o conservadorismo. "No Pasquim, ele havia feito a cabeça de toda uma geração através da postura trotskista, e, em seguida, contribuiu nas ideias de outra geração, numa postura, conservadora, radicalmente oposta à anterior", explica. No filme, depoimentos do cinegrafista Hélio Alvarez, do ex-diretor de jornalismo Hélio Costa e de Chico Anísyo ajudam a cercar "o personagem do Francis criado e potencializado na tevê". No longa, figuram fatos, como a frustração de ele nunca ter se tornado um escritor tão reconhecido como foi na esfera jornalística, o suposto erro médico no diagnóstico do infarte do qual foi vítima e contornos multifacetados da pessoa que Francis foi. "Uma das minhas maiores descobertas foi em relação ao ser humano: ele era a pessoa mais generosa que conhecia. Filmando, percebi que isso, ao contrário do que imaginava, era do conhecimento de muitas pessoas", comenta Hoineff. Sem refresco Há 40 anos exercendo a crítica cinematográfica, Nelson Hoineff avalia que não tem sido poupado por suposto corporativismo que pudesse estar infiltrado entre repórteres e críticos. Especializado, com estudos internacionais, na captação de imagens em alta definição, o diretor se valeu dos conhecimentos para a produção dos dois filmes. "Usar um aparato mais antigo, em documentário, intimida muito o objeto", ensina. Ainda em quesito técnico, ele tem comemorado a %u201Cnotável digitalização de acervos da televisão, que não é mais vista como meio efêmero". "Nos anos 1980, você desgravava uma fita para gravar o jogo em cima", relembra. A atual preservação tem beneficiado a atividade, como apontou o trabalho em Alô, alô, Terezinha!, que a exemplo dos dois novos projetos desenvolvidos - filme sobre recomeço, com revelações de Cauby Peixoto, chamado Começaria tudo outra vez (em rodagem)" e Nilo Machado, em torno da figura do diretor e produtor de fitas eróticas nacionais - se vale de registros de arquivo. Com vasto material excedente, o longa (saído de 300 horas de gravações) já resultou em produção para o Canal Brasil, que exibirá, em fevereiro de 2010, série sobre as chacretes, em 13 episódios. TRÊS PERGUNTAS//RITA CADILLAC Chacrinha e Paulo Francis: duas pessoas totalmente diferentes que influenciaram geraçõesAos 55 anos, Rita Cadillac tem consciência do meio caminho andado, uma vez que pretende morrer centenária. Cheia de vida, ela jura não ter muitos cuidados e esbanjar pouca vaidade. "Você tem que viver a sua idade: amadurecer e viver dentro das limitações do %u2018ponto cinco%u2019 que faz parte dos 55", brinca a dançarina que enfeita as telas em Alô, alô, Terezinha!, enquanto prepara o lançamento do documentário Rita Cadillac - A lady do povo (de Toni Venturi). ! por se conservar na mídia, ela conta que segue "batalhando da mesma forma", e lembra que entrou no programa do Chacrinha por acaso (em 1974): "Fazia um show do Haroldo Costa, fora do país, e vim ao Brasil para dançar num espetáculo do Paulo Silvino. Um amigo do Leleco, filho do Chacrinha, foi ver e detectou meu perfil de chacrete. A temporada com o Chacrinha foi prevista para três meses, que se estenderam para nove anos". A experiência rende até hoje shows pelo país, e, em especial, apresentações beneficentes em presídios, "quando a Secretaria de Segurança Pública permite". A sua conhecida máxima ainda está valendo" Sim - quero ser enterrada de bruços. Mas, como quero morrer depois dos 100 anos, acho que vou precisar de prótese (risos). O Chacrinha tinha defeitos? Claro! Ele era explosivo, meio bipolar, como se fala hoje em dia, mas, na verdade, aquilo era mau humor mesmo (risos). O temperamento era explosivo, mas era bom pai, bom marido, maravilhoso amigo e patrão. Em que ele te ajudou? E do que ele mais gostava em você? Sou quem sou graças a ele: aprendi tudo com o Chacrinha. Posso não ter sido a melhor das alunas, mas tive uma média 7 (risos). Ele nunca deu preferência a uma ou outra chacrete. Ele apreciava a minha coragem de me expor. Eu era considerada a mais safadinha, mas com a coragem e a dignidade que carrego até hoje. Como as pessoas reagiram a sua entrada em filme pornô? Cheguei a pensar que, depois de feito, acabaria a Rita Cadillac. Mas aconteceu justamente o contrário: as pessoas podem não ter aprovado, mas compreenderam e aceitaram. Fiz o pornô exclusivamente pelo dinheiro: hoje tenho minha casinha. Foi o meu Big Brother Brasil, independentemente de valores. Ouça trechos da entrevista com a ex-chacrete Rita Cadillac, integrante de Alô, alô, Teresinha!

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