Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Em documentários, o diretor Nelson Hoineff revela características e segredos de dois personagens da TV

"Não sou um cineasta, sou um homem de televisão", diz, com toda a legitimidade, o diretor Nelson Hoineff, que, com o recém-lançado Alô, alô, Terezinha!, já se prepara para nova exposição na mídia, à frente de outro documentário, Caro Francis, selecionado para o 11º festival Internacional de Cinema (FicBrasília). Ouça trecho da entrevista com o diretor Nelson Hoineff Reativando, pelos filmes, a memória dos brasileiros em torno de figuras tão díspares quanto Chacrinha e o jornalista Paulo Francis, Hoineff comemora o saldo positivo de adaptações da linguagem comum à tevê. "Ela, que sempre teve baixa autoestima, incorporou sintaxes, mas sobretudo a acomodação de outros meios de expressão", critica o profissional, que, sem falsa modéstia, relembra de méritos como ter respondido pela renovação impressa com o jornalístico Documento especial. "Hoje, a televisão é relativamente mais livre e menos oficialista do que era há 30 anos, pela contribuição do programa", avalia. Acostumado ao público medido em milhões (na tevê, com programas como Realidade e Primeiro plano), Hoineff evita associar o termo documentário aos novos produtos. "A palavra ficou muito desgastada, ligada a público que represente pequena elite de meia dúzia. Os espectadores esperam, a partir da palavra documentário, ver pessoas que vivem em cima do lixo ou uma coisa chata. Com Alô, Alô, Terezinha, espero encantar tanta gente quanto o Indiana Jones", brinca. Um dos segredos para o sucesso, segundo Hoineff, está em conduzir uma horizontalidade em relação à abordagem do personagem explorado. "Existe um vício da tevê - da verticalidade -, frente ao objeto, que chega a ser julgado: "Eu sou a grande mídia e você (fica aí embaixo) é o objeto que estou examinando". Isso sempre me deu urticária. Fazíamos no Documento especial tanto reportagens sobre prostituição quanto de denúncias de corrupção no Congresso com naturalidade e éramos respeitados pelos dois lados. Não existia o discurso: ''Eu sou o intelectual e você é a prostituta'. A gente logrou isso no Caro Francis e no Alô, alô, Terezinha!", observa. Com dois filmes "sobre transgressões" no mercado, o cineasta assume em Caro Francis - "realizado a partir de 19 anos de amizade com o homenageado" - a falta "de isenção jornalística, como denuncia o título. O filme é feito, frequentemente, na primeira pessoa". Na tentativa de descobrir o amigo, a partir de nós que existiram na vida dele, o diretor se deparou com elementos como a migração do trotskismo para o conservadorismo. "No Pasquim, ele havia feito a cabeça de toda uma geração através da postura trotskista, e, em seguida, contribuiu nas ideias de outra geração, numa postura, conservadora, radicalmente oposta à anterior", explica. No filme, depoimentos do cinegrafista Hélio Alvarez, do ex-diretor de jornalismo Hélio Costa e de Chico Anísyo ajudam a cercar "o personagem do Francis criado e potencializado na tevê". No longa, figuram fatos, como a frustração de ele nunca ter se tornado um escritor tão reconhecido como foi na esfera jornalística, o suposto erro médico no diagnóstico do infarte do qual foi vítima e contornos multifacetados da pessoa que Francis foi. "Uma das minhas maiores descobertas foi em relação ao ser humano: ele era a pessoa mais generosa que conhecia. Filmando, percebi que isso, ao contrário do que imaginava, era do conhecimento de muitas pessoas", comenta Hoineff. Sem refresco Há 40 anos exercendo a crítica cinematográfica, Nelson Hoineff avalia que não tem sido poupado por suposto corporativismo que pudesse estar infiltrado entre repórteres e críticos. Especializado, com estudos internacionais, na captação de imagens em alta definição, o diretor se valeu dos conhecimentos para a produção dos dois filmes. "Usar um aparato mais antigo, em documentário, intimida muito o objeto", ensina. Ainda em quesito técnico, ele tem comemorado a %u201Cnotável digitalização de acervos da televisão, que não é mais vista como meio efêmero". "Nos anos 1980, você desgravava uma fita para gravar o jogo em cima", relembra. A atual preservação tem beneficiado a atividade, como apontou o trabalho em Alô, alô, Terezinha!, que a exemplo dos dois novos projetos desenvolvidos - filme sobre recomeço, com revelações de Cauby Peixoto, chamado Começaria tudo outra vez (em rodagem)" e Nilo Machado, em torno da figura do diretor e produtor de fitas eróticas nacionais - se vale de registros de arquivo. Com vasto material excedente, o longa (saído de 300 horas de gravações) já resultou em produção para o Canal Brasil, que exibirá, em fevereiro de 2010, série sobre as chacretes, em 13 episódios. TRÊS PERGUNTAS//RITA CADILLAC Aos 55 anos, Rita Cadillac tem consciência do meio caminho andado, uma vez que pretende morrer centenária. Cheia de vida, ela jura não ter muitos cuidados e esbanjar pouca vaidade. "Você tem que viver a sua idade: amadurecer e viver dentro das limitações do %u2018ponto cinco%u2019 que faz parte dos 55", brinca a dançarina que enfeita as telas em Alô, alô, Terezinha!, enquanto prepara o lançamento do documentário Rita Cadillac - A lady do povo (de Toni Venturi). ! por se conservar na mídia, ela conta que segue "batalhando da mesma forma", e lembra que entrou no programa do Chacrinha por acaso (em 1974): "Fazia um show do Haroldo Costa, fora do país, e vim ao Brasil para dançar num espetáculo do Paulo Silvino. Um amigo do Leleco, filho do Chacrinha, foi ver e detectou meu perfil de chacrete. A temporada com o Chacrinha foi prevista para três meses, que se estenderam para nove anos". A experiência rende até hoje shows pelo país, e, em especial, apresentações beneficentes em presídios, "quando a Secretaria de Segurança Pública permite". A sua conhecida máxima ainda está valendo" Sim - quero ser enterrada de bruços. Mas, como quero morrer depois dos 100 anos, acho que vou precisar de prótese (risos). O Chacrinha tinha defeitos? Claro! Ele era explosivo, meio bipolar, como se fala hoje em dia, mas, na verdade, aquilo era mau humor mesmo (risos). O temperamento era explosivo, mas era bom pai, bom marido, maravilhoso amigo e patrão. Em que ele te ajudou? E do que ele mais gostava em você? Sou quem sou graças a ele: aprendi tudo com o Chacrinha. Posso não ter sido a melhor das alunas, mas tive uma média 7 (risos). Ele nunca deu preferência a uma ou outra chacrete. Ele apreciava a minha coragem de me expor. Eu era considerada a mais safadinha, mas com a coragem e a dignidade que carrego até hoje. Como as pessoas reagiram a sua entrada em filme pornô? Cheguei a pensar que, depois de feito, acabaria a Rita Cadillac. Mas aconteceu justamente o contrário: as pessoas podem não ter aprovado, mas compreenderam e aceitaram. Fiz o pornô exclusivamente pelo dinheiro: hoje tenho minha casinha. Foi o meu Big Brother Brasil, independentemente de valores. Ouça trechos da entrevista com a ex-chacrete Rita Cadillac, integrante de Alô, alô, Teresinha!