A dubiedade é uma tônica no trabalho do jovem artista plástico e videomaker brasiliense Márcio Mota, 25 anos. Em boa parte do que produz, é possível encontrar ao mesmo tempo o belo e o feio, o sádico e o engraçado, o atrativo e o repulsivo. Não foi diferente com um dos seus mais recentes projetos, o vídeo Olho no lance, um dos 47 selecionados de 405 inscritos para a 4; edição do Vivo arte.mov ; Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis, que acontece em Belo Horizonte de 12 a 15 de novembro. Márcio é o único representante do Distrito Federal no evento, que vai premiar os sete primeiros colocados com um celular de última geração, sendo que os três melhores colocados receberão uma remuneração em dinheiro (R$ 10 mil, R$ 5 mil e R$ 3 mil).
;Nem esperava ser selecionado para este festival. Como o meu vídeo já estava pronto, decidi mandar. Eu achava que ele era um trabalho muito forte, meio pesado para entrar. Mas fiquei feliz com o resultado. Quem sabe ainda não fico entre os vencedores durante a mostra?;, almeja.
Com duração de dois minutos, Olho no lance aborda a paixão do brasileiro pelo futebol de forma inusitada. As emoções em relação ao esporte nacional oscilam entre a euforia máxima e o sofrimento mais profundo. O artista plástico conta que selecionou as imagens (todas retiradas da internet e retratando cirurgias oculares) e como elas tinham um conteúdo forte, pensou em um discurso na mesma medida.
;Pensei inicialmente em associá-las com a política, mas aí encontrei uma narração de um locutor no Campeonato Brasileiro e tinha tanta emoção, tanto vigor na voz dele que acabei optando por isso. E acabou dando certo, ou seja, juntando universos que são diferentes para criar uma estética totalmente incomum;, conta.
Segundo Márcio, as reações de quem assiste ao vídeo acabam sendo inusitadas. Enquanto há quem ache bem interessante, outros morrem de rir, e alguns, de tanta repulsa, nem conseguem ver o vídeo por inteiro.
Olho no lance faz parte de uma série de vídeos de Márcio que utilizam colagens e apropriação de imagens da internet. E unindo imagens e áudios completamente distintos, ele obtém resultados bem curiosos. ;Esse tipo de trabalho consiste em pesquisar imagens na internet e quando eu vejo que ela me afeta de alguma maneira, seja repulsão ou atração, eu a capto;, explica.
Márcio é bacharel em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB) e agora está se formando em licenciatura na mesma área. Desde 2007, ele também participa como videomaker do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, com o qual expôs trabalhos no Museu da República, no Centro Cultural da Caixa em Brasília, no Rio de Janeiro e também na Funarte, na capital federal.
Música
Além das artes plásticas e da produção de curtas, ele é o baterista da banda de Planaltina Gilbertos Come Bacon. O nome do grupo, cuja maior parte dos músicos é também de artistas plásticos, vem de uma gíria planaltinense que denomina ;gilberto; aquele ;zé-ninguém;. Enquanto que ;comer bacon; se refere a quem fala muita abobrinha ou besteira. A banda mescla rock, com outros estilos, como o rap, hardcore, baião, frevo, hip-hop, entre outros e já gravou um disco.