postado em 05/11/2009 08:00
Cinco saxofones, quatro trompetes, quatro trombones, piano, guitarra, contrabaixo, bateira, percussão e voz. De tudo isso sai o bom jazz com pitadas de melodias brasileiras. Nos palcos de Brasília, um grupo de 20 músicos sobrevive nesta batida há 27 anos, completados em outubro.
A Brasília Popular Orquestra (Brapo), no entanto, não é daquelas convencionais ; as mais conhecidas têm como base as cordas. Essta se mantém sobre os instrumentos de sopro. Tratamos aqui de uma big band, grupo instrumental geralmente formado por artistas de jazz.
Originária do início do século 20, nos Estados Unidos, a banda de muitos músicos se utiliza de repertório jazzístico com arranjos bem elaborados e que recebem toques de outros estilos musicais. Na década de 1960, a moda das big bands começou a pegar no Brasil. No Distrito Federal, a Brapo surgiu duas décadas depois do desejo de um músico professor que inovou e misturou ritmos brasileiros aos arranjos americanos.
Esse professor é Manoel Carvalho de Oliveira, que também é o atual band leader do grupo, além de reger a orquestra, faz às vezes de saxofonista e clarinetista. ;Eu vim de Pernambuco para Brasília. Lá já tocava jazz. E, quando cheguei aqui, senti uma carência de uma big band;, conta ele.
Pois foi como professor na Escola de Música de Brasília (EMB) que Manoel começou a reunir profissionais para realizar seu sonho, ainda na década de 1980. ;Chamei alguns colegas da escola e, com os ensaios, começou a surgir o entusiasmo dos alunos e de outros professores;, lembra.
A primeira apresentação ocorreu justamente no auditório da EMB, em 28 de outubro de 1982. De lá para cá, a orquestra recebeu talentos novos e se despediu de outros tantos. Mas a paixão pela música sempre se manteve viva. ;O mercado para as apresentações oscila muito. Participamos muito de congressos, formaturas, festivais e festas particulares. Em setembro, por exemplo, tocamos no festival de música instrumental de Cavalcante (GO). Em maio, fizemos uma homenagem aos 100 anos de Benny Goodman, na escola de música;, conta Manoel.
Mas é a carência de espaços culturais e públicos para a aproximação da plateia com os músicos que preocupa o band leader. ;A gente sente falta de empresários que abram espaços em casas para shows semanais, como acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em Brasília, temos um bom público. Vejo que as pessoas se entusiasmam com a big band;, acredita.
Ainda assim, em mais de duas décadas, a orquestra resistiu. A maioria dos integrantes do grupo se furta de atividades paralelas para poder tocar na Brapo. Manoel é um exemplo. Ele acaba de se aposentar como professor da EMB ; ficou lá por 30 anos ; e continua ativo como clarinetista da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional.
Legado
A iniciativa de fundar a Brapo lhe rendeu ainda duas orquestras deixadas como legado aos alunos da Escola de Música. ;Me aposentei e deixei uma big band no turno da manhã e outra no turno da noite, para que eles continuem juntos, tocando, de forma mais didática;, explica Manoel.
Ele lembra que a Brapo é uma das únicas, ;senão a única;, big band profissional que sobreviveu na capital do país. ;Nos mantivemos ativos estes anos todos. Isso porque, a maior dificuldade das bandas é manter o repertório. Eu tenho mais de mil arranjos feitos nestses anos por meio de pesquisas;, destaca.
Por isso mesmo, na Brapo toca-se de tudo um pouco: do repertório dançante ao instrumental. Desde música americana, como o genuíno jazz, passando por arranjos de bossa nova e até forró e boleros. O maestro desenvolve trabalho baseado nos repertórios das grandes orquestras nacionais e internacionais, como a Tabajara (de Severino Araújo) e as de Tommy Dorsey, Duke Elington, Glenn Miller e Henri Mancini. Sempre com tratamento jazzístico. ;Nos shows para grandes festas ,usamos músicas mais atualizadas, mais animadas também. Vale tudo para agradar ao público;, acrescenta Manoel.
; Assista ao trecho de vídeo com show da Brapo