Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Há 10 anos sem uma casa de cultura, artistas de Planaltina reclamam da falta de espaço e incentivos

;Planaltina tem 150 anos, uma Via Sacra que faz parte do calendário oficial de eventos do Distrito Federal e ainda assim não tem a sua casa de cultura;. A reclamação é do músico, artista plástico e poeta Luiz Felipe Vitelli, mas encontra eco em toda a comunidade artística da cidade localizada a 38km de Brasília. ;Faltam iniciativas voltadas para o esporte, a música e as artes em geral. Aqui em Planaltina temos de improvisar tudo;, comenta o músico Wellington Oliveira. Não há teatro, centro cultural, casa de shows ou galeria de exposições. Planaltina possui apenas um museu, o Histórico e Artístico, cujo acervo é fixo: fotos e objetos dos pioneiros que construíram a cidade. Resultado de iniciativa privada, o pequeno Espaço Cultural Oberdan Cardoso não consegue contemplar as necessidades de toda a produção planaltinense. O fotógrafo Célio Rodrigues realizou lá uma exposição de imagens capturadas na Via Sacra. ;Foram três mil visitantes ao longo de três meses. A cidade é carente, mas tem público interessado em cultura;, garante. Cabe então a quem quiser se expressar por meio das artes buscar soluções alternativas. ;Só nos resta o auditório da administração ; que atende a todos nós como pode, mas é um local pequeno e longe das condições ideais. Ainda dependemos da possibilidade de utilizá-lo, já que o auditório também é ocupado pelos eventos da administração;, relata Isabel Cavalcante, professora de teatro e arte-educadora. Isabel é fundadora do grupo Língua de Trapo, que já participou dos projetos Festival de Arte na Escola (desenvolvido pela Fundação Athos Bulcão), em 2007 e 2008, e Teatro na Mochila (que circulou por Recanto das Emas, Cruzeiro, Núcleo Bandeirante e Planaltina). Este mês, ela estreia no auditório da administração de Planaltina o espetáculo O caminho das águas. ;Cada montagem é uma batalha. Faço bazar, rifa; tudo para conseguir dinheiro e montar os espetáculos;, conta. Na ausência de iniciativas públicas para melhorar a cultura na cidade, o ator, diretor e agitador cultural Preto Rezende decidiu montar um pequeno teatro na própria casa. Em breve estará pronta a sala Lieta di Ló. ;Planaltina pede políticas para a cultura na cidade. É preciso pensar em maneiras democráticas e incentivadoras para que essas comunidades não fiquem tão dependentes da contrapartida dos eventos de artistas de outras cidades contemplados pelo FAC;, diz Preto. Aliás, artistas de Planaltina não são escolhidos pelo Fundo de Apoio à Cultura desde 2007. Preto é criador do Senta que o leão é manso, grupo na ativa há 23 anos e primeira etapa para diversos atores surgidos na cidade. Caso de Vanderson Maciel: ;Precisamos desenvolver o acesso à cultura para que as pessoas tenham o hábito de consumir eventos culturais. E também para que os artistas continuem na área e não tenham de procurar outro tipo de emprego ; como geralmente acontece;, diz o ator que também é funcionário público. Saulo Humberto Soares, professor da Fundação Educacional e há 7 anos o Cristo da Via Sacra, enxerga na cultura não apenas uma maneira de se expressar, mas de tornar Planaltina um lugar melhor: ;Se hoje a cidade é tida como violenta é porque o jovem não tem o que fazer por aqui;. Também ator, Luiz Augusto Silva acrescenta que é necessária uma atitude mais pró-ativa por parte dos artistas. ;A gente questiona muito o governo, mas faltam iniciativas e união. Temos que ir lá, juntos, e cobrar: ;Por que a maior parte da verba do governo para a cultura se concentra no centro do DF, se as cidades ao redor também produzem cultura?;; Só na promessa Planaltina reclama por sua casa de cultura há anos ; um espaço para expor e exercitar a criatividade e a troca de conhecimentos. Professor de pintura em uma sala cedida por um campo de futebol society, Aldemi Nascimento dos Santos gostaria de dar aulas gratuitas para alunos carentes. ;Já procurei vários espaços, mas nenhum tem verba para isso. Eu queria dar uma opção para os jovens não ficarem na rua;. Músico com dois discos lançados, Tião Candido vislumbra esse espaço como um local que permita a apresentação e a apreciação de manifestações que não encontram vazão normalmente na cidade. ;A maioria dos shows por aqui é de música sertaneja. Por que não há também música erudita? E a música popular, como fica?;, reclama. O poeta Luiz Felipe Vitelli faz coro: ;Sempre que a administração faz um evento musical aqui, ele é voltado para sertanejo ou forró. Outros segmentos da música ficam de fora;. Musicista e pesquisadora, Cláudia Andrade trabalha na restauração do acervo do Museu Histórico de Planaltina. Ela procura maneiras de lançar a biografia do músico Erasmo de Castro, um dos fundadores de Planaltina e autor de inúmeras composições de folia de roça. ;Ele foi um grande incentivador da catira feminina. Não sei como, mas ainda tenho esperanças de conseguir lançar o livro; ; Poema de Luiz Felipe Vitelli CERCAS EMBANDEIRADAS Luiz Felipe Vitelli O Guará esta cercado De bandeirantes e candangolândias por todos os lados Com Riacho fundo de águas claras. Sem ter mais cerrado pra onde correr, Mas tem o parkway o park shopping No zoológico e dois veterinários: Vicente Pires e Lucio Costa. Um setor de indústrias e oficinas estrutural. O cruzeiro à sudoeste das octogonais. Não tem Plano Piloto, nem de fuga. Nem estado de graça e nem de espírito! Está em verdadeiro estado de sítio e etílico, Com toque de reencolher E nada mais. ; Vídeo: O caminho das águas, música de Tião Candido ; Fotos do artista plástico Aldemi Nascimento Santos