Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Francis Hime confirma a pegada em álbum duplo

À época do seu sexagésimo aniversário, Francis Hime tinha a impressão de que a vida começava aos 60. Dez anos depois, mudou de opinião. Acredita que ela começa aos 70, tal é a vontade que sente hoje de criar e produzir. ;A diferença é que, com a idade, vem uma serenidade, você fica mais observador e se aborrece mais porque passa a prestar atenção em detalhes que às vezes nem fariam tanta diferença;, confessa. Isso, no entanto, não o impede de se envolver em uma infinidade de projetos. Um deles é o CD O tempo das palavras; Imagem, que acaba de lançar. Trata-se de um álbum duplo: o primeiro disco traz canções inéditas feitas com novos e antigos parceiros; no segundo, Francis toca sozinho, ao piano, as composições que fez para trilhas sonoras de filmes.

O TEMPO DAS PALAVRAS... IMAGENS
Álbum duplo de Francis Hime.
37 faixas produzidas por Francis Hime.
Lançamento Biscoito Fino.
R$ 44,90Curiosamente, Imagem é o primeiro disco de piano solo do músico, que começou a aprender a tocar o instrumento aos 6 anos de idade. A ideia foi do crítico Tárik de Souza, curador da caixa com toda a obra do compositor, outro projeto em andamento, que deveria sair a tempo de comemorar os 70 anos de Francis, mas atrasou. ;Essa caixa trará um disco com minhas trilhas executadas por orquestra, mas o Tárik me sugeriu que gravasse esse, eu e o piano. Gostei tanto que fiquei me perguntando como é que até hoje não tinha feito ainda um disco assim. Agora quero gravar outros;, conta.

Francis Hime impressiona pela jovialidade e pelo entusiasmo com que fala de sua música, da paixão por futebol, de seu envolvimento em um grupo de artistas que atuam em defesa dos interesses da classe. Aos 50 anos de carreira, está longe de ter uma relação burocrática com seu ofício. ;Meu desejo é inventar mais coisa. Para isso, todo esse tempo ainda é curto;, diz ele, que tem histórico invejável de parceiros de criação. Ruy Guerra, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Geraldo Carneiro, Edu Lobo, Joyce e Olivia Hime (com quem está casado desde 1969) são alguns dos mais notáveis.

Parcerias

Em O tempo das palavras;, Pinheiro, Olivia, Joyce e Edu Lobo comparecem e Paulinho Moska marca sua entrada no clube dos parceiros de Francis Hime com Há controvérsias. Mais uma que simplesmente aconteceu, sem planejamento. ;Mando as músicas livremente para os parceiros, seguindo a intuição, pensando em quem mais tem a ver. Às vezes surgem letras inesperadas, porque a música é outra entidade, né?;, comenta sobre seu método de criação. ;Colocar letra em música é sempre um mistério, porque o letrista tem que ter sua interpretação, saber o que está nas entrelinhas da canção;, avalia. Pode acontecer também o contrário, de ele trabalhar a partir de uma letra. ;Às vezes me mandam, às vezes leio um livro e gosto.;

Na composição para cinema, o grande parceiro é, segundo Francis Hime, o diretor. ;Por sorte tenho trabalhado com cineastas que gostam de música, porque a criação é feita em consonância com ele, na moviola, vendo que tipo de canção se adequa a cada cena, ou mesmo se é o caso de usá-la. O diretor é o grande maestro;, descreve. Foi assim que surgiram as trilhas de Dona Flor e seus dois maridos, O homem que comprou o mundo, A estrela sobe, A noiva da cidade, Lição de amor, Um homem célebre, Marcados para viver e Marília e Marina, todas incluídas em Imagem.

;Esse disco é uma viagem no tempo, porque não há registro em disco de muitas dessas composições. Fui à cata das partituras, remanejei arranjos, criei nova estrutura para algumas canções e reagrupei-as de acordo com os filmes. No fim, é um disco 90% inédito;, diz o compositor, que, embora goste de todas as trilhas que fez, ;como filhos;, tem predileção pela de Lição de amor, (1)filme de Eduardo Escorel. ;Foi a que mais me interessou no aspecto psicológico dos personagens;, explica.


1 - Amar, verbo intransitivo
Produzido em 1976, o filme Lição de amor é uma adaptação ; feita por Eduardo Escorel e Eduardo Coutinho ; do livro Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade. Na história passada nos anos 1920, uma alemã de 35 anos (Lilian Lemmertz) que vive no Brasil é contratada por um empresário paulista (Othon Bastos) para iniciar sexualmente seu filho (Marcos Taquechel) de forma limpa, sem que ele tenha que se ;sujar; com prostitutas e aproveitadoras.