Rodrigo Maranhão é um cara sossegado, que foi criado em Copacabana mas se diz ;meio matuto;, que canta bem mas não se considera cantor, e se acha ;metido; por se apresentar como compositor. Rodrigo Campos é outro tímido, de jeito manso, sereno, que gosta de contar histórias em forma de música, inclusive as que ele viveu no bairro de São Mateus, onde cresceu, na Zona Leste paulistana. Ou ;zona lost;, como brinca Marcelo Jeneci, que também saiu de lá com a sanfona que ganhou de Dominguinhos e rodou o mundo como instrumentista até tomar coragem, há uns dois anos, de soltar a voz e escrever as próprias canções.
O primeiro levou um Grammy de melhor canção (por Caminho das águas, interpretada por Maria Rita) e o Prêmio Tim 2008 de revelação e cantor regional pelo ótimo álbum de estreia, Bordado. O segundo lançou um dos melhores discos de 2009, o independente São Mateus não é um lugar assim tão longe, e é autor (com Luisa Maita) de Beleza, a melhor faixa do novo trabalho de Mariana Aydar. O terceiro, bem, ele ainda vai gravar o primeiro CD solo. Mas já emplacou duas músicas em trilhas de novelas (Amado, na voz de Vanessa da Mata, e Longe, com Leonardo) e desponta como um dos mais talentosos da nova geração de compositores da MPB.
Três das nove boas atrações do projeto Pode Apostar, que começa amanhã e segue até 15 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil, Rodrigo Maranhão, Rodrigo Campos e Marcelo Jeneci apresentam seus projetos autorais pela primeira vez em Brasília. Campos já esteve aqui como integrante da banda de Fabiana Cozza; Maranhão, com seu grupo, o Bangalafumenga, do qual é vocalista e cavaquinista (antes, era do Monobloco); Jeneci, nos shows de Arnaldo Antunes, com quem toca (e compõe) há mais de três anos. Mas à frente do palco, com canções deles mesmos, só agora. E não é no esquema voz e violão, não. Todos vêm com banda e show completo, no capricho que merecem.
Como num filme
[SAIBAMAIS]Escalado para a noite de sábado, Rodrigo Campos apresenta as canções do primeiro disco, compostas de 13 anos para cá, inspiradas nas histórias do cotidiano da periferia de São Paulo. Rodrigo, que começou a tocar cavaquinho aos 12 anos (e recentemente acompanhou a cantora Céu na gravação do DVD de Herbie Hancock), tem uma maneira peculiar de escrever música: faz com o que o ouvinte imagine cenas e personagens, como se visse um filme. E no CCBB, pode ser que ele mostre alguma inédita também. ;Estou experimentando, tentando falar de outras coisas que me emocionam, não só de São Mateus;, adianta. ;Quero falar de amor, de vários tipos de amor. Com narrativa, com personagens que a gente não costuma ver nas canções. Já fiz umas quatro, cinco músicas, mas estou descobrindo ainda.;
Se para ele a boa recepção do conceitual álbum de estreia acabou virando um problema (;agora já rola uma preocupação;), para Rodrigo Maranhão, que está terminando o segundo disco (Samba quadrado deve ser lançado em janeiro), a saída é não pensar em cobranças. ;Deixo a expectativa para os outros. Tenho a minha trilha traçada há muito tempo e nunca parei de caminhar. Continuo andando. E agradeço todos os dias pelo que tenho, por estar trabalhando. Sucesso, pra mim, é isso;, ensina o carioca, que começou a escrever letra e música aos 15 anos e deu muita aula de cavaquinho para pagar o aluguel antes de se firmar como compositor.
Já Marcelo Jeneci, o mais pop dos três, começou na música aos 17, tocando acordeom e piano na banda de Chico César (que chegou a escrever carta ao Exército, pedindo dispensa do serviço militar para o menino fazer turnê pela Europa e os Estados Unidos). Após uns quatro anos com o cantor paraibano, passou outros quatro com Vanessa da Mata. Entre um show e outro, ainda fazia uns projetos paralelos com Elza Soares, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit... Depois, entrou na banda de Arnaldo Antunes e, encorajado por um disco do Los Hermanos (sim, é fã deles), decidiu compor também.
;Depois de 10 anos tocando pra lá e pra cá, resolvi arriscar uns instrumentos que eu não sabia tocar, como guitarra, violão...;, conta Jeneci. ;Isso ajudou a destampar a voz, o cancioneiro. Inconscientemente, acabei driblando a coisa racional e abrindo um canal para as canções aparecerem.; O primeiro disco, Feito pra acabar, será gravado em dezembro e janeiro. O repertório, ele vem amadurecendo em palcos paulistanos há um ano. As músicas são todas dele, mas os vocais são divididos com Laura Lavieri, cantora com quem forma uma duplinha bacana, tipo Carpenters (;ou Cascatinha e Inhana;, como lhe disse um ouvinte de rádio). Nunca ouviu? Vá lá.
PODE APOSTAR!
Shows de amanhã a 15 de novembro, às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Tr. 2 Lt. 22; 3310-7087). Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). A venda de ingressos começa no domingo anterior às apresentações da semana. Capacidade: 309 lugares. Classificação indicativa livre.
Programe-se
; Mariana Aydar - Amanhã, às 21h
; Rodrigo Campos - Sábado, 21h
; Nina Becker - Domingo, 20h
; Fino Coletivo - Dia 6, às 21h
; Rodrigo Maranhão - Dia 7, às 21h
; Marina de La Riva - Dia 8, às 20h
; Marcelo Jeneci - Dia 13, às 21h
; Curumin - Dia 14, às 21h
; Silvia Machete - Dia 15, às 20h
MARCELO JENECI
De onde: São Paulo
Idade: 27 anos
Disco: grava o primeiro, Feito pra acabar, em dezembro
Quem gravou: Vanessa da Mata (Amado), Arnaldo Antunes (Longe, Quarto de dormir), Leonardo (Longe), Zélia Duncan (Todos os verbos)
Na internet: www.myspace.com/jeneci
RODRIGO CAMPOS
De onde: São Paulo
Idade: 32 anos
Disco: São Mateus não é um lugar assim tão longe (Ambulante Discos, 14 faixas)
Quem gravou: Mariana Aydar (Beleza), Fabiana Cozza (São Mateus)
Na internet: www.ambulantediscos.com.br e www.myspace.com/saomateus
RODRIGO MARANHÃO
De onde: Rio de Janeiro
Idade: 39 anos
Disco: Bordado (MP,B/ Universal, 11 faixas)
Quem gravou: Maria Rita (Caminho das águas), Roberta Sá (Samba de um minuto e Olho de boi), Fernanda Abreu (Baile funk), Zélia Duncan (Beleza fácil, Chicken de frango, Gringo guaraná)
Na internet:www. myspace.com/ rodrigomaranhao