O escritor Pedro Tierra (foto) lança hoje, às 20h, no Instituto Cervantes, o livro Poemas do povo da noite. Reeditado pela Fundação Perseu Abramo e pela Publisher Brasil, o evento marca os 30 anos da Lei da Anistia, de 1979. Os poemas foram escritos pelo autor em centros de detenção e tortura e prisões em que esteve preso por lutar contra a ditadura. Os textos costumavam ser lidos em reuniões e atos de defesa pela redemocratização do país. Depois de sair da cadeia, aos 28 anos, Pedro Tierra participou da disseminação de sindicatos rurais, atuou na Central Única de Trabalhadores e foi secretário de Cultura do Governo do Distrito Federal, no mandato de Cristovam Buarque. Atualmente é assessor especial na Agência Nacional de Águas (ANA).
; Poema depois do suplício, de Pedro Tierra
(1974)
Hoje, o movimento
se faz imperceptível.
Os filhos estão mortos.
O povo, adormecido.
Não vem da rua aos teus ouvidos,
nenhuma canção de ninar.
Dir-se-iam depostas todas as armas,
o gesto de fogo enfim dobrado,
Entre os combatentes
há quem já não reconheça o caminho.
Há quem interrogue, com tristeza,
A praça vazia.
Se nesta hora o inimigo te procura,
recusa o jantar que te oferece.
Recusa a paz,
a vida que te oferece.
O jantar te daria um assento à mesa da noite.
Esta paz é a tua escravidão.
E se agora o inimigo te propõe a vida,
é chegada a hora de tua morte.
Ao companheiro Mário Alves, torturado até a morte a 16 de janeiro de 1971, que nos ensinou esta verdade.