Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Confira a entrevista completa com Toto Castiñeiras, palhaço do Cirque du Soleil

De qual cidade argentina você é e quantos anos tem?
TOTO: Mar Del Plata (Buenos Aires), 35 anos.

Como começou a carreira artística? Porque ser palhaço?
TOTO: Formalmente começou quando usei pela primeira vez um nariz de palhaço, depois de fazer muito teatro. Isso foi por volta de 1995. Informalmente eu atuo desde criancinha. Aos 14 anos atuava na rua com um grupo de teatro, com quem aprendi alguns segredos do ofício que até hoje aplico ao meu trabalho. O trabalho de humor sempre esteve comigo, muitas vezes tendia a fazer as pessoas rirem mais do que chorar, porque sempre esteve comigo esta dualidade do ator cômico, que balanceia a comédia com a desgraça.

Há quanto tempo está no Cirque du Soleil e como entrou para a trupe canadense?
TOTO: Trabalho desde 2004 no Cirque du Soleil. Na verdade nunca pensei em trabalhar nesta companhia. Eu estava fazendo um trabalho de clown em Buenos Aires, em um teatro bastante popular, e um grupo de olheiros do Cirque du Soleil foi até o meu camarim e perguntou se eu estaria interessado em integrar a companhia. Na sequência foi convidado à ir à sede da companhia, em Montreal, e em 15 dias estava pronto para começar as atividades. Tudo começou em Vancouver, no Canadá.

Você imaginou que um dia faria parte do maior circo do planeta? O que vc acha da companhia?
TOTO: Como comediante, eu sempre quis ser popular e querido. Fazer com que as pessoas riam é criar um vinculo único e particular, como um ato de amor massivo. Sempre soube que iria trabalhar para muitas pessoas. Sempre busquei essa sensação e este trabalho. Hoje, o circo é o espaço para que eu possa expressar-me com humor.

[SAIBAMAIS]O seu estilo e o número apresentado lembram um pouco o Charlie Chaplin, as gags chapliana. Quais são suas influências?
TOTO: Minhas influências são minhas experiências pessoais, todo este material acumulado desde que me entendo por gente. Chaplin, não é uma influência, não vejo muito Chaplin. Foi um gênio de sua época, sim. Eu me sinto conectado com os grandes humoristas argentinos. Os que eu sempre vi e os que eu entendo porque compartilham uma cultura e uma forma de viver cotidiana. Admiro os humoristas que foram e são referências em seu trabalho: Pepe Biondi e Nini Marshall.

Seu número é extremamente interativo, com gags provocativas que às vezes expõe as pessoas ao ridículo. Essa brincadeira faz parte do jogo, evidentemente. Como você avalia essa relação com a "vítima"?
TOTO: Somos amigos. Ficamos bem, amamos, rimos juntos, criticamos e odiamos em determinados momentos, mas no final tudo termina bem. Damos as mãos e ficamos bem para sempre.

Você não acha que um circo cuja aposta são os números ousados de malabarismo e ginástica etc... oculta um pouco a presença a figura do palhaço, por tradição, a essência do circo?
TOTO: Os palhaços são o coração do circo, porque existe o outro. Sem acrobacia, não há palhaço. E muitas vezes mais vale a cena curta e genial, do que a comprida entediante. Pessoalmente não creio que a aposta maior seja a ginástica. As pessoas vão ao circo para ver também o palhaço, e a presença do clown no circo, é bastante valorizada e presente nos espetáculos.

Você tem consciência da responsabilidade que tem dentro do Cirque, tem consciência de como consegue despertar nas pessoas a importância do riso no circo?
TOTO: Cada parte do Circo é fundamental e a responsabilidade de cada um é a mesma. Cabe a mim fazer rir, e eu faço a minha parte. Para o outro que tenha que saltar e montar uma torre humana, a responsabilidade será a mesma. A risada no circo é importante, porque é um espetáculo onde a tensão é grande.

Você já conhecia o Brasil? O que já conhecia do país?
TOTO: Nunca estive no Brasil. Viajei uma vez ao Rio de Janeiro e a Búzios para o casamento dos meus amigos Grace e Tony (artistas aéreos de Quidam ; ela brasileira, ele alemão). De modo que é uma aventura para mim estar aqui.

O que está achando do Maradona no comando da seleção argentina? Vc acredita que o grupo conquistará uma vaga para a Copa?
TOTO: Hahaha Maradona. Não entendo de futebol! É uma obrigação patriótica dizer que espero que tenham um lugar na Copa, mas na realidade não me interesso muito pelo tema.

É verdade que uma vez o noivo de uma menina subiu em cena para te pegar? Onde foi esse episódio? Em que país e lugar?
TOTO: Uma vez o noivo de uma garota subiu ao palco para exigir explicação sobre o que falávamos e tivemos que improvisar para que ele descesse do palco. Outra vez, subiu uma garota e seu noivo foi atrás. Essa situação foi mais amigável e no final da apresentação, ambos terminaram se beijando comprovando o seu amor. Às vezes é difícil lidar com essas situações, mas com humor encontramos a forma certa de enfrentá-las.

Vc costuma apresentar outras gags, outros números em Quidam?
TOTO: Não. No momento estou realizando oficina de números de improvisação e clown para os artistas e equipe de Quidam. Também já trabalhei como treinador.