O misterioso "Livro Vermelho", do suíço Carl Jung (1875-1961), considerado uma das obras inéditas mais importantes da história da psicologia e conhecido apenas por alguns poucos amigos do psicólogo, foi exibido nesta quarta-feira (7/10) pela primeira vez em Nova York.
O livro escrito entre 1914 e 1930, considerado a principal fonte da obra de Jung, ficará em exibição até 25 de janeiro no Museu Rubin de Nova York, no bairro Chelsea, e especializado em artes do Himalaia.
O "Livro Vermelho", como era chamado pelo autor, consiste em uma viagem exploratória pelo inconsciente e nunca havia sido divulgado ao público fora do círculo de amigos a Jung.
No formato ofício com uma capa de couro vermelha, a obra, que tem como verdadeiro título 'Liber Novus' (Livro Novo), tem 205 páginas escritas a mão por Jung e várias ilustrações que lembram os manuscritos com iluminuras medievais.
A exibição do livro coincide com a publicação em edição fac-símile bilíngue com tradução para o inglês pela editora W.W.Norton & Company.
Depois da morte de Jung, em 1961, o volume permaneceu em mãos de seus familiares, que se negaram a autorizar sua publicação e, inclusive, permitir o acesso a estudiosos, antes de finalmente concordar com sua divulgação.
Todos os psicólogos do mundo conheciam a existência desta obra do discípulo - e logo maior rival - de Sigmund Freud, mas apenas algumas pessoas tinha conseguido ter acesso a seu conteúdo até esta quarta-feira.
O livro é produto de um método introspectivo desenvolvido por Jung e conhecido como "imaginação ativa". Em suas páginas, o autor reproduz o resultado dessa exploração interior mediante palavras e ilustrações.
Muitos dos desenhos pintados por Jung são figuras mitológicas e mandalas, ou seja, diagramas simbólicos circulares utilizados pelo hinduismo e budismo.
A partir da experiência do "Livro Vermelho", que, depois da morte de Jung passou boa parte fechado num cofre forte de um banco suíço, o psicólogo desenvolveu sua teoria dos arquétipos e do inconsciente coletivo.
Na exposição, o visitante é convidado a contemplar como Jung buscou traduzir seus sonhos e fantasias em símbolos e formas gráficas contemporâneas, incluindo os diagramas circulares tibetanos.
"A mostra lança uma luz nova sobre a gênese da obra de Jung e a construção da psicologia moderna, e abre portas para compreender como as mandalas e as estruturas similares são interpretadas através das distintas culturas", explicou Martin Brauen, curador do museu.
Junto ao livro de quase 90 anos, a exposição apresenta uma série de desenhos a óleo e pastel, assim como esboços relacionados com a obra e outros documentos originais de Jung.
Entre os manuscritos exibidos em Nova York figuram, além disso, os "Livros Negros", que contêm ideias e fantasias que levaram à criação do "Livro Vermelho" do psicólogo nascido em 1875.