Poder paralelo é uma das novelas mais bem escritas apresentadas nos últimos anos pela tevê brasileira. Os personagens são bem construídos, os conflitos têm credibilidade e as cenas de ação, quase sempre, são impecáveis. A agilidade do texto de Lauro César Muniz surpreende e é um dos diferenciais. Mas, provavelmente, contribui para sua derrocada na audiência. Atualmente, não é difícil ver o folhetim fechar com média abaixo de dois dígitos, entre 8 e 9 pontos. O que, certamente, não agrada à direção da emissora, que já trocou inúmeras vezes seu horário de exibição.
Com tantas mudanças, faz falta o velho hábito dos autores de dissecar suas histórias ao longo dos capítulos. Mas Lauro não segue essa regra e, por isso, fica difícil acompanhar a trama depois que se perde alguns capítulos. O próprio mocinho Tony (Gabriel Braga Nunes) é um bom exemplo. A interpretação do ator é digna de elogios, ainda mais diante de tanta inconstância na trajetória do capo da história. O rapaz perdeu a mulher e as filhas em um atentado e, logo depois, apareceu completamente apaixonado pela repórter Lígia (Miriam Freeland). Ingressou na máfia com a desculpa de se vingar e, alguns capítulos mais tarde, se revelou um agente da polícia americana.
Há cinco meses no ar, Tony é capaz de aparecer, no mesmo dia, jurando amor eterno - e, aparentemente, sincero - tanto à namorada quanto à amante, a atriz Fernanda (Paloma Duarte). Ter um mocinho que, ao mesmo tempo, é mafioso, policial, apaixonado e completamente infiel já é, no mínimo, confuso. Ainda mais para quem não pode acompanhar diariamente o folhetim - que até agosto, por conta do reality show A fazenda, era exibido em horários diferentes ao longo dos dias da semana.
Mas tamanha complexidade é incapaz de apagar as gratas surpresas no elenco da novela. Uma delas é Luciana Braga, que reapareceu na tevê recentemente em Negócio da China e emendou o trabalho com sua entrada em Poder paralelo. A segurança da atriz na pele da bandida Laila fica evidente em todas as cenas. O mesmo se vê nas aparições de Adriana Garambone, intérprete da frágil Maura. A atriz já contou com mais recursos no texto e na história para se destacar, mas consegue marcar bem a presença em uma fase quase paralisada de sua personagem. Exceto a possibilidade de um romance água com açúcar com um arquiteto e os problemas amorosos do filho, falta ação nas cenas de Maura. E nem por isso Adriana se apagou no meio de tantos outros nomes.