Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Blues e rock invadem a tarde de domingo brasiliense

Another Blues Band e Rafael Coury lançam seus respectivos discos hoje no Rayuela, onde pretendem também gravar DVDs

Durante três noites no início de novembro de 2007, a taberna do Bistrô Rayuela foi a casa do Another Blues Band(1). Não se tratava, porém, de um simples show do grupo. O local fora o escolhido para abrigar a gravação do CD Do Mississipi a Chicago, com escala no cerrado, que comemora os 16 anos de atividade da banda. Nesse período, Gustavo Vasconcellos (bateria), Haroldinho Mattos (guitarra e voz), Mário Salimon (vocal) e Pedro Martins (baixo) se apresentaram em bares, teatros e espaços diversos na disputada noite brasiliense.

Quase dois anos depois de gravado, o registro enfim chega ao mercado. Trajetória comum para uma banda cover e que ainda tem de bancar os gastos com o material. O lançamento será hoje, a partir das 18h, na área externa da Livraria e Bistrô Rayuela. ;Escolhemos lá por questões comerciais, já que a GRV (gravadora) e o Rayuela são dois empreendedores culturais que de uma certa forma pensam e agem de uma maneira muito semelhante. Além de o local ser o ambiente ideal para a gravação de um disco de uma banda de blues;, analisa Gustavo Vasconcellos.

O repertório escolhido pelos músicos inclui clássicos do estilo que, como o nome do disco sugere, passeia pelo gênero norte-americano e suas vertentes. ;A gente só colocou no disco aquilo que nós julgávamos que nos representava. Ou seja, o Another Blues Band tem uma personalidade musical;, avisa Gustavo, diretor artístico da gravadora GRV. ;Aquilo que soou como a gente se ver representado, nós mantivemos. O que achávamos que não estava 100% natural, nós descartamos;, reitera.

Isso explica, então, o clima leve sentido em Do Mississipi a Chicago, com escala no cerrado. Ao longo das 11 faixas do disco, a plateia que participou das gravações participa ativamente com momentos de verdadeiro entusiasmo. Principalmente quando um endiabrado Haroldinho Mattos solta solos de guitarra eletrizantes.

Highway 49, clássico de Joseph Lee Willians, dá início à viagem sonora. Em seguida, I woke up this morning (Lee Barnes Alvin) e Jumpin; jack flash (Rolling Stones) levam o público ao delírio. ;No momento em que a gente coloca a nossa compreensão e transforma aquilo numa coisa personalizada, eu considero isso um trabalho autoral;, analisa Gustavo. O ponto alto do disco é na releitura de Bluest blues (ouça abaixo), outra canção de Lee Barnes Alvim. A falha, porém, fica por conta da troca das músicas Wake up moma, novamente de Lee Alvim, com In the midnight hour (Wilson Pickett) na impressão do CD.

1- Outra banda
Formado em 1993 por dois integrantes do Oficina Blues (Gustavo Vasconcellos e Pedro Martins), o grupo surgiu para assumir a agenda do Oficina Blues na extinta casa noturna Trem do Lago. Durante duas semanas, o grupo ;titular; não pôde realizar os shows que estavam programados. Para não perder o contrato, eles chamaram mais dois ex-integrantes (Haroldinho Mattos e Mario Salimon) e escolheram o nome por significar ;Uma outra banda de blues;, visto que os músicos não queriam que fossem confundidos com a antiga banda.

A voz da guitarra
José Carlos Vieira


Enquanto Caetano Veloso diz que só é possível filosofar em alemão, Rafael Cury amplia o pensamento: só é possível cantar rock em inglês. É assim que ele dá o seu recado com o lançamento do CD Trapped in the past, acompanhado com as guitarras pesadas de Celso Salim e Dillo D;Araújo. O disco está nas ruas há dois anos, mas só agora, com ajuda do FAC, ganha nova dimensão e novo lançamento.

A voz rouca e possante de Rafael, que nos faz lembrar daqueles rock stars dos anos 1970, também poderá ser ouvida hoje no Rayuela, ao lados dos rapazes do Another Blues Band. Eles vão aproveitar o show para a gravação dos respectivos DVDs.

Rafael faz parte daquele grupo de roqueiros que conhecem de música. Afinado, e em sintonia com eletricidade das guitarras de Dillo e Celso, o cantor também assina as 12 músicas do disco. Destaques para On my own (com Dillo) e Looney boogie (com Celso). As pegadas de músicos como Marcelo Abreu (bateria), Marcelo Marssal (baixo) e Sergio Duarte (harmônica) também podem ser sentidas no CD. Indagado por que o inglês, Rafale diz que desde os 15 anos curte o bom e velho rock nas origens. ;Me sinto mais confortável cantando em inglês. Não é uma estratégia de marketing e gosto pessoal mesmo;. Mesmo assim, tem projeto para um novo trabalho bilíngue.

Com Trapped in the past, Rafael e sua turma preparam uma lona agenda de shows ainda este ano, que deve começar por Ubatuba (SP) e Angra dos Reis (SP). É como Rafael gosta de repetir: ;Rock sempre;.