Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Com selo de qualidade

Entre as referências de Brasília no exterior está o bandolinista Hamilton de Holanda. A conquista definitiva veio depois que ele ganhou o Prêmio Icatu-Hartford de Artes como o melhor instrumentista do Brasil e foi passar um ano na França, em 2002. %u201CEu despontei ali. E fui com a intenção de criar boas conexões com pessoas da parte de produção, de shows lá fora. Eu queria morar no Brasil e fazer esse trabalho de embaixador mesmo. Me considero sim um representante da cultura brasiliense, que foi a cidade onde aprendi tudo e que sempre me inspirou%u201D, conta. Hamilton acredita que a imagem da cidade é ainda muito vinculada ao poder e à política, e que sua missão consiste justamente nisso: em mostrar que o Planalto Central é um local, antes de tudo, que fervilha arte. %u201CAcredito que muita gente ainda tem essa %u2018monovisão%u2019 de que Brasília é o lugar só da política, da roubalheira. Mas a gente sabe que ela é muito mais do que isso e que produz cultura de alto nível%u201D, afirma. Para o bandolinista, o segredo do sucesso no exterior se explica pelo fato de a música brasileira, de uma forma geral, ser apreciada lá fora e, no caso dele, por ser música instrumental, a aceitação ainda é mais fácil. %u201CMúsica brasileira no exterior é igual jogador de futebol lá fora. Já chega com um selo de qualidade. E a minha música, como nasceu em Brasília, mistura muita coisa; mescla sentimentos. E pelo fato de ela ser instrumental, é mais tranquilo ainda de agradar, seja onde for%u201D, opina. Jazz Brasil Radicada na capital federal há 35 anos, a cantora baiana Rosa Passos construiu a carreira quase toda no exterior e credita o seu sucesso em terras estrangeiras pelo tipo de música que produz. %u201CÉ música brasileira mas ao mesmo tempo muito jazzística também%u201D, resume. A artista faz questão de ressaltar a qualidade dos artistas da capital. %u201CDigo sempre que sou uma representante da música brasileira. Mas Brasília tem um movimento musical importante, com gente de muito talento que merece também despontar lá fora. No entanto, precisa de incentivo, de oportunidades. Deveriam valorizar mais o que tem se produzido aqui%u201D, reitera. Mas Rosa lamenta. Segundo ela, é mais fácil fazer uma agenda de shows lá fora que no Brasil. Quem também vem se destacando no cenário internacional é o cineasta José Eduardo Belmonte. Seu último trabalho, o longa Se nada mais der certo, tem participado de festivais no exterior e conquistado plateias nos Estados Unidos, Inglaterra e França. Belmonte acredita que há uma enorme curiosidade por parte dos produtores internacionais de cinema com relação ao Brasil, e Brasília faz parte desse contexto. %u201CTem havido um interesse muito grande em histórias passadas em Brasília, um interesse no local. E a gente não tem dimensão disso. É engraçado como na Europa mesmo, há muitos produtores curiosos com a nossa cidade. Existe um potencial grande a ser explorado, mas falta estrutura%u201D, opina. Para o cineasta, a cultura é um meio importantíssimo de divulgação de uma cidade e de um país e que por isso, deveria ser mais valorizada. Entretanto, ele refuta o rótulo de %u2018embaixador%u2019, por considerá-lo muito %u2018pesado%u2019, mas não nega as suas raízes e faz questão de propagá-las mundo afora. %u201CO olhar brasiliense está sempre presente nos meus filmes. Acho que todo mundo que faz cultura é um pouco embaixador. A repercussão que a cultura dá é impressionante%u201D, destaca. Divulgar é preciso Há dois anos, a confraria das artes Ossos do Ofício juntamente com a Só Som Salva lançaram o Satellite 061 %u2013 Guia do Mercado Cultural de Brasília, revista criada para representar Brasília no exterior e também no Brasil, mostrando o quanto a vida cultural vem se desenvolvendo na capital federal. %u201CBrasília tem uma representatividade de peso, aqui e fora do país. É a cidade que aglutina todos os estados e por isso tem uma grande diversidade cultural. Aqui tem o maracatu de Pernambuco, tem o choro, o samba carioca, o congado de Minas, as violas do cerrado. A cidade tem potencial, mas falta incentivo, apoio do Estado. Daí a importância desse guia%u201D, revela Débora Aquino, uma das idealizadoras do projeto. Com cerca de 400 verbetes nas áreas de música, artes visuais, cênicas, audiovisual, espaços culturais, festas e festivais, revistas eletrônicas, entre outros, a terceira edição da Satellite 061 será lançada na próxima Womex (The World Music Expo), tida como a maior feira de música do mundo, que será realizada de 28 de outubro a 2 de novembro, na Dinamarca. %u201COs dois anos anteriores em que participamos serviram para fazermos contatos. Agora, a intenção é vender mesmo os artistas de Brasília. Vários produtores do mundo inteiro participam desse evento que é ímpar%u201D, destaca a também idealizadora Marta Carvalho. Eles brilham lá fora Hamilton de Holanda Nascido no Rio, mas criado em Brasília, o bandolinista é tido como um dos principais instrumentistas do país. Ganhou destaque internacional, principalmente, após ter conquistado o Prêmio de Melhor Instrumentista Icatu-Hartford de Artes 2001, o que lhe permitiu viver em Paris por um ano com o objetivo de ampliar seus horizontes musicais e compor. Já fez turnê por vários países e conquistou público e crítica, quando ao adicionar duas cordas extras, 10 no total, reinventou o bandolim. Patubatê Grupo criado há 10 anos que mistura percussão em sucatas com música eletrônica, que se destaca no cenário musical brasileiro pela peculiaridade dos instrumentos utilizados e pela grande capacidade profissional e musical dos componentes. Com influência dos trabalhos dos norte-americanos Stomp e Blue Man Group e do brasileiro Uakti, o Patubatê alia criatividade à valorização dos ritmos brasileiros. O grupo tem se apresentado por todo o Brasil e, mais recentemente, pela Europa e Estados Unidos. Rosa Passos A cantora baiana radicada em Brasília há 35 anos é considerada pelos aficionados como a versão feminina de João Gilberto e fez sua carreira quase toda no exterior. Em setembro de 1996, Oscar Castro-Neves, músico brasileiro residente nos Estados Unidos, a convidou para participar de uma noite brasileira no Jazz at the Bowl, no Hollywood Bowl, na Califórnia. Desde a estreia americana de Rosa, sua carreira internacional tem crescido ao longo dos anos, tendo inclusive, já se apresentado no Carnegie Hall, em Nova York. Recentemente, três CDs de Rosa Passos, Amorosa, Romance e Entre Amigos, entraram para o acervo da Biblioteca do Congresso Norte-Americano. José Eduardo Belmonte Formado em cinema pela Universidade de Brasília (UnB), o cineasta paulista, mas radicado na capital federal, fez seu primeiro curta-metragem, Três (1995), sob orientação de Nelson Pereira dos Santos. O primeiro longa foi Subterrâneos, filmado inteiramente no Conic. Em 2008, seu quarto longa, Se nada mais der certo, levou os prêmios de melhor longa de ficção e de melhor atriz do Festival do Rio daquele ano. Em 2009, o longa recebeu os prêmios de melhor filme, roteiro e ator no 19º Cine Ceará e está sendo premiado em vários festivais e mostras mundo afora. Udi Grudi Um dos mais antigos grupos de circo teatro contemporâneo do Brasil, surgiu em Brasília em 1982. Materiais reciclados e inusitados são usados como matéria prima na criação de instrumentos musicais originais. Os espetáculos já conquistaram vários prêmios nacionais s internacionais e percorreram países como Alemanha, Argentina, Bélgica, Bolívia, Canadá, China, Cuba, Dinamarca e Escócia. Veja trecho do filme Se nada mais der certo, do cineasta José Eduardo Belmonte