PARIS - Vozes dissonantes no mundo da política e do cinema se fizeram ouvir nesta terça-feira na França contra o apoio unânime de vários políticos e artistas ao cineasta franco-polonês Roman Polanski, detido na Suíça a pedido da justiça dos Estados Unidos, que o indiciou por abuso sexual de uma menor há 30 anos.
"É um problema da justiça", afirmou nesta terça-feira o eurodeputado ecologista Daniel Cohn Bendit, que criticou principalmente o ministro da Cultura francês, Frederic Mitterrand, por ter se metido no assunto.
[SAIBAMAIS]No domingo, Mitterrand comentou que a prisão de Polanski é algo "absolutamente espantoso", por "uma história velha que não faz realmente sentido".
"É uma história muito difícil, porque é verdade que houve uma violação a uma menina de 13 anos", disse Cohn Bendit, que durante a campanha para as eleições europeias de junho passado foi acusado de ter escrito um polêmico livro em 1975 sobre a sexualidade infantil.
O cineasta e produtor francês Luc Besson também tomou distância dos numerosos artistas que denunciaram "uma armadilha policial" contra Polanski, de 76 anos, vencedor do Oscar em 2002 com o filme "O pianista". Ele deve ser extraditado para os Estados Unidos dentro de 40 dias.
"Tenho por ele grande estima, é um homem que aprecio muito e conheço um pouco porque nossas filhas são muito amigas, mas há uma justiça e é a mesma para todo mundo", afirmou Besson.
"Tenho uma filha de 13 anos, e se ela fosse estuprada eu provavelmente não pensaria a mesma coisa", ponderou.
Polanski é foragido da justiça dos Estados Unidos desde 1977 por ter mantido "relações sexuais ilegais" com uma adolescente de 13 anos. O diretor de "O bebê de Rosemary" tinha então 43 anos.
Polanski foi preso no sábado ao desembarcar na Suíça, onde receberia um prêmio por sua trajetória cinematográfica no Festival de Cinema de Zurique.
Mais de cem artistas assinaram uma petição de apoio ao cineasta, que vive em Paris desde o fim dos anos 70.
"O fato de pertencer à casta superprotegida do jet-set desobriga seus membros de respeitar as leis e os autoriza a evitar processos judiciais durante 30 anos?", indagou de forma brutal Marine Le Pen, filha do líder da ultradireita francesa Jean Marie Le Pen.
Seu pai já havia criticado os ministros da Cultura e das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, pelo apoio expressado a Polanski.
"Esta história é um pouco sinistra, francamente. Um homem de semelhante talento, reconhecido no mundo inteiro (...). Tudo isto não é simpático", afirmou na segunda-feira o chanceler francês, que enviou uma carta à secretária de Estado americano, Hillary Clinton, pedindo a libertação do cineasta.
A presidente da L'enfant bleu, associação de defesa dos direitos da criança, expressou "surpresa diante do alvoroço midiático" gerado pela detenção de Polanksi, que vive com a atriz e cantora francesa Emmanuelle Seigner.
"Creio que as pessoas estão confundindo as coisas: este homem é, sem sobra de dúvidas, um homem talentoso, mas é também um homem que e portanto está submetido às regras sociais de nosso mundo", considerou Brigitte Bancel Cabiac, que também se disse surpresa com o fato de "a justiça dos Estados Unidos ter demorado tanto tempo para prendê-lo", sendo Polanski um artista tão conhecido.