PARIS, 28 setembro 2009 (AFP) - O mundo do cinema ficou em polvorosa após a detenção, no fim de semana na Suíça, do diretor franco-polonês Roman Polanski, por uma antiga acusação de abuso sexual de menor.
Polanski foi detido na noite de sábado em Zurique, logo ao desembarcar do avião. Ele devia receber um prêmio para o conjunto de sua obra por ocasião do Festival de Cinema da cidade. O diretor de 76 anos passou duas noites na prisão.
Procurado desde 1977 pela justiça americana por ter mantido "relações sexuais ilegais" com uma adolescente de 13 anos, ele pode ser extraditado nos próximos dias para os Estados Unidos.
"É inadmissível que um evento cultural internacional homenageando um dos maiores cineastas contemporâneos possa ser transformado em armadilha policial", insurgiram-se várias personalidades do mundo do cinema.
"Os festivais de cinema do mundo inteiro sempre permitiram a divulgação e a circulação das obras, e a apresentação das mesmas pelos cineastas", lembraram os artistas, em uma petição que começou a circular na noite de domingo.
O diretor brasileiro Walter Salles assinou a petição, assim como vários outros grandes nomes do cinema como Pedro Almodovar, Michael Mann, Wim Wenders, Alejandro González Iñarritu, Bertrand Tavernier, Claude Lelouch, Julian Schnabel, Ettore Scola, Wong Kar Wai e Abderrahmane Sissako.
"Esta detenção abre a porta a derivas cujos efeitos são imprevisíveis", alertaram Gilles Jacob e Thierry Frémaux, diretor e delegado geral do Festival de Cannes, onde Polanski recebeu a Palma de Ouro em 2002 pelo filme "O Pianista".
Na França, a Sociedade dos Diretores de Filmes advertiu contra a abertura de um precedente "que pode ter consequências desastrosas para a liberdade de expressão".
Em comunicado comum, os escritores Milan Kundera, Pascal Bruckner, Bernard-Henri Levy e a atriz Isabelle Adjani exigiram das autoridades suíças a libertação "imediata" de Polanski, pedindo que este "genial cineasta" não seja "transformado em mártir de um imbróglio juridico-político indigno de duas democracias como a Suíça e os Estados Unidos".
Os diretores de cinema poloneses também se mobilizaram, conclamando seu governo a evitar um "linchamento judicial".
A Associação suíça dos roteiristas e cineastas denunciou "um escândalo jurídico que vai prejudicar a reputação da Suíça em todo o mundo".
Na Suíça, uma centena de artistas e intelectuais assinaram nesta segunda-feira uma petição em favor de Polanski, dizendo-se "consternados pela péssima imagem" que a detenção do cineasta dá de seu país.
Domingo, o ministro francês da Cultura, Frédéric Mitterand, qualificou de "absolutamente aterradora" a detenção de Polanski "por uma história antiga que não faz muito sentido". Ele destacou que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, está acompanhando o caso "com muita atenção".
Nesta segunda-feira, o ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, anunciou ter escrito a sua colega americana Hillary Clinton para pedir a libertação do cineasta.
"Francamente, acho essa história um pouco sinistra. Um homem com tanto talento, reconhecido no mundo inteiro e principalmente no país que o prendeu... isso não é legal", comentou.