Na enquete realizada semana passada pelo Correio, em que músicos e jornalistas elegeram os melhores discos, músicas e a ;banda dos sonhos; do rock brasiliense, Rodrigo Txotxa foi apontado como o melhor baterista, indicado por 11 dos 30 votantes. Desse quarteto imaginário, com Renato Russo nos vocais, André X no baixo, Fejão na guitarra e Txotxa empunhando as baquetas, apenas o baterista pôde ser visto em ação no Porão do Rock, na Esplanada dos Ministérios ; Renato e Fejão morreram em 1996 e o baixista da Plebe Rude teve de ser substituído por Pedro Ivo (ex-Prot(o)), já que estava de viagem marcada para a Europa dias antes do evento.
Para quem viu Txotxa tocando no festival, domingo, nos shows da Plebe e do Maskavo Roots (com a formação original reunida depois de 12 anos), ficou claro o porquê da predileção por seu trabalho. Versátil e habilidoso, o músico é um dos mais requisitados de Brasília. A lista de grupos pelos quais passou ao longo de seus 20 e poucos anos como baterista é extensa: The Pertubeids (a primeira banda, ainda na adolescência), Conexão Brasília, Cravo Rastafari, Bois de Gerião, Spigazul, William Breadman Project, Maskavo Roots, Os The Everaldos, Beto Só e os Solitários Incríveis e os projetos cover Invasão Britânica, Kaiserkellers e Clash City Rockers. Ele ainda substituiu os bateristas titulares do Prot(o), Virgem Again, Watson e Phonopop em algumas ocasiões. ;Deve ter umas aí que eu esqueci...;, comenta Txotxa.
Bom de bola
Aos 36 anos, o brasiliense toca atualmente na Plebe Rude e no InNatura (dos ex-Natiruts Bruno Dourado, Izabella e Kiko Peres). ;Juntando a agenda das duas bandas, eu diria que tenho, em alguns meses, uma rotina que consegue me derrubar durante a semana. Nunca recebi proposta maior do que a da Plebe, e não sei se aguentaria uma vida na estrada. Gosto muito da minha casa, de ficar com a minha mulher, de ver minha família, de encontrar os amigos e tal. A ideia de não poder se programar para uma festa de aniversário ou para um casamento por causa de um show nunca me agradou;, diz o baterista-jornalista (ele trabalha na TV Escola). ;Por outro lado, essa minha percepção do que vem a ser a vida na estrada para valer tem mais imaginação do que realidade. Por isso, se pintasse uma oportunidade de sair em turnê ; o máximo que já fiquei fora de casa foi uma semana ;, pensaria com carinho;, pondera.
Txotxa começou a tocar bateria em 1986, aos 12 anos, convencido pelo amigo Prata (guitarrista do Maskavo) de que ele seria um bom baterista já que era bom de bola. O apelido pelo qual é conhecido surgiu na mesma época. É uma variação de Otávio, seu segundo nome. ;Me chamavam de Totávio, que acabou virando Txotxa;. Mesmo tendo feito algumas aulas, ele se considera um autodidata.
A formação musical se deu vendo outros bateristas, ao vivo ou em vídeo. Ele cita John Bonham (Led Zeppelin), Tony Williams (Miles Davis), Stewart Copeland (Police), Carlton Barrett (Wailers) e Steve Gadd como algumas de suas principais influências. ;Acabo ouvindo de tudo por estar muito ligado em música, na música séria e honesta, que leva tempo para ser feita e merece o respeito de todos. Seja um disco casca grossa do John Coltrane, seja uma batida miserenta do Chiclete com Banana, sempre podemos pescar alguma coisa diferente, que funcione para nós;, avalia.
;Ele domina todas as linguagens;, observa Bruno Dourado, do InNatura. ;Um cara do samba pode não conseguir tocar reggae. O Txotxa é versátil, toca bem tudo quanto é estilo: reggae, samba, blues, ska, rock;;, conta o percussionista. ;Ele é um cientista do ritmo. Desde adolescente. Ele não gostava de pagode, mas tocava pra estudar. Essa versatilidade está ligada a isso;, comenta o baixista Ricardo Marrara, ex-Maskavo Roots.
E foi pela capacidade de se moldar ao que a banda precisa que ele se destacou. ;Além de habilidade técnica, ele tem uma visão ;holística; dentro da banda. É o único baterista com quem já toquei que consegue arranjar as músicas;, ressalta Guilherme Nóbrega, guitarrista do William Breadman Project. ;Não adianta só ter técnica, tem que ter bom gosto. E ele não deixa a técnica atrapalhar o suingue;, diz Philippe Seabra, da Plebe Rude. ;Nos últimos 10 anos, Txotxa foi a minha principal influência, meu tutor. Ele nunca me deu uma aula, mas foi convivendo com ele, ouvindo as fitas de referência que ele gravava pra mim e o vendo tocar que eu cresci musicalmente. Tanto que quando ele vai se apresentar, eu digo que estou indo à aula;, conta Gabriel Coaracy, ex-baterista do Bois de Gerião, hoje no Móveis Coloniais de Acaju.
Elogios à parte, Txotxa mantém a modéstia: ;Estou sempre me questionando, me criticando, me cobrando. Às vezes, consigo chegar perto de um ;gostei de como toquei isso aqui;;. O que ele quer é apenas fazer bem a sua parte. ;Confesso que não acharia nada ruim se, num dia de show, eu não precisasse me preocupar com absolutamente nada, nem antes nem depois. Simplesmente chegasse e tocasse, tendo a certeza de que o instrumento está do jeito que eu gosto e que o som está 100%. Rapaz, isso talvez seja um sonho.;