Atrações internacionais da programação de hoje no Porão do Rock 2009, as bandas El Mato a un Policia Motorizado, da Argentina, e Eagles of Death Metal, dos Estados Unidos, não são exatamente campeões de popularidade por aqui. Mas a qualidade musical de um artista nem sempre está refletia na quantidade de fãs %u2014 e o crescente culto em torno dessas duas bandas só comprova isso.
Surgido na Califórnia, no final da década passada, da parceria entre Jesse Hughes e Josh Homme (lÃder do Queens of the Stone Age), o Eagles of Death Metal não é uma banda de death metal. O nome veio de uma brincadeira. Jesse conversava com os amigos sobre como seria uma banda de death misturada com o som dos Eagles (do super hit Hotel California, lembra?). Aliás, rock e humor andam juntos no som do quarteto. Nas entrevistas, Jesse não perde a irreverência em nenhum momento. "Minhas principais influências são Little Richard, Mick Jagger, Keith Richards, Dave Grohl, Ru Paul, The Sonics, Christina Aguilera, Britney Spears, é claro, um pouco Elvis Presley e Village People", respondeu sobre quem são suas referências musicais.
Guitarra quebrada
Tiração de sarro à parte, o som do grupo em seus três discos vai bem por esse caminho. Um rock setentão, com ecos de Rolling Stones, mas de pegada mais suja, mais punk. Em cima do palco, Jesse promete um performance arrasadora. "Quando estivemos em São Paulo, em 2007, eu imaginava que só umas 100 pessoas fossem nos assistir. Mas o show estava lotado. Eu nunca fiquei tão empolgado a ponto de quebrar alguma coisa. E, naquele dia, eu quebrei uma guitarra. A plateia estava como animais selvagens, prontos para me devorar vivo! E foi lindo", recorda. Para os fãs do Queens, um aviso: Josh Homme não tocará com o Eagles of Death Metal no Porão do Rock.
Surgida na cidade de La Plata, o quarteto El Mato un Policia Motorizado (nome escolhido por sua sonoridade e também pelo sentido inusitado) se apropria de influências do indie rock americano para criar um som bem próprio. Não à toa, foram reverenciados pela revista Rolling Stone argentina como a revelação nacional de 2007. "O reconhecimento sempre é lindo, não dá pra negar. Mas também não vemos isso como uma verdade absoluta, já que o conceito de revelação é relativo %u2014 o mesmo com os rankings e os prêmios", pondera o vocalista e baixista Santiago Motorizado, um admirador da Legião Urbana. "Entendo algumas coisas, outras não. Outras acho que entendo, as traduzo com minha imaginação, isso pode ser divertido também. Tenho um mp3 do Renato cantando uma música da Madonna que é incrÃvel"
Na bagagem, o El Mato tem um álbum e três EPs - estes, formam uma trilogia conceitual sobre nascimento, vida e o final dos tempos. O quarteto já tocou em São Paulo e fez uma turnê nacional pelo Sul do paÃs. "Ultimamente, está começando um intercâmbio entre Brasil e Argentina %u2014 pelo menos no campo do rock independente. Bandas novas muito boas vem tocar na Argentina. Conhecemos muitas delas, mas nossa favorita é o Superguidis, com que já tocamos algumas vezes. Esse moleque são incrÃveis, amamos eles", comenta Santiago sobre a banda gaúcha.
Entrevista Santiago Motorizado:
Como foi a recepção do público para os shows que vocês fizeram no Brasil em 2007? Qual a expectativa de tocar em BrasÃlia? Conhecem algo da cidade?
Foi estranho e bonito, não esperávamos nada. Realmente, se prestassem um pouco de atenção, estarÃamos contentes. Mas quando tocamos em São Paulo, em 2007, as pessoas dançaram, cantavam as músicas, foi incrÃvel. Da mesma forma, agora em BrasÃlia, esperamos o mesmo que antes de tocar daquela vez: fazer tudo direito e, se alguém prestar a atenção, melhor. Sabemos que os festivais grandes têm uma dinâmica diferente dos shows comuns, mas vai ser muito divertido. Não conhecemos a cidade, mas Niño Elefante (guitarrista) estuda arquitetura e nos falou muito de BrasÃlia.
Com o EP El dia de los muertos vocês encerraram a trilogia sobre o nascimento, a vida e o fim dos tempos. O que virá agora? Os próximos trabalhos também serão temáticos?
Não vemos como uma obrigação fazer outro disco conceitual, mas é algo que fica dando voltas em nossa cabeça, é bom como um disparador de ideias. Temos algumas canções, algumas sem letra e quase todas não estão definidas entre nós, mas ainda não discutimos por completo o disco novo.
Qual será o repertório mostrado no festival Porão do Rock? Alguma chance de vocês tocarem também músicas inéditas, que ainda não foram gravadas?
Certamente tocaremos músicas da trilogia, quem sabe alguma inédita. A lista de músicas sempre definimos antes de subir ao palco.
Santiago, é verdade que você admira as canções de Renato Russo? Entender as letras em português é difÃcil? Como e quando entrou em contato com o trabalho do Renato (ou da Legião Urbana, se for o caso)?
Escutei as primeiras canções em um disco da banda argentina Attaque 77, no qual eles fazem um cover. Depois, em outro disco, eles fazem outro cover. Na verdade, os covers da Legião são as melhores músicas desses discos. Depois, amigos me passaram músicas pela internet e me emprestaram um CD incrÃvel! Entendo algumas coisas, outras não. Outra acho que entendo, as traduzo com minha imaginação %u2014 isso pode ser divertido também. Também tenho um mp3 do Renato cantando uma música da Madonna que é incrÃvel!
Recentemente, vocês foram considerados uma revelação do rock argentino pela revista Rolling Stone. Isso mudou alguma coisa para vocês?
O reconhecimento sempre é lindo, não se pode negar. Também não o temos como uma verdade absoluta, já que o conceito de revelação é relativo - o mesmo com os rankings e os prêmios. Mas é lindo e divertido.
Vocês vivem só de música ou têm outros tipos de trabalho? Caso sim, qual a profissão de vocês?
Temos outros trabalhos, já que sabemos que viver de arte é algo instável, mais ainda sendo artistas independentes. Eu sou designer e ilustrador - em breve lanço um livro, um conto do escritor argentino Fabián Casas, ilustrado por mim, um conto infantil que está ficando ótimo. Doctora Muerte também é ilustrador, Niño Elefante estuda arquitetura e Pantro Puto é professor na faculdade de jornalismo de La Plata.
O rock cantado em espanhol não tem grande aceitação no Brasil. Na visão de vocês, por que acham que é assim? E o que vocês acham do rock brasileiro?
Ultimamente está começando um intercâmbio entre Brasil e Argentina, pelo menos no campo do rock independente, graças a Sylvie e Pablo, do selo Scatter Records. Vêm para a Argentina muitas bandas novas muito boas, conhecemos muitas sim, mas nossa favorita é a banda gaúcha Superguidis, esse moleque são incrÃveis, amamos eles.
Entrevista com Jesse Hughes:
Vocês não tocam death metal, mas gostaria de saber se você gosta do estilo. Quais são as suas bandas de death favoritas?
Dimmu Borgir, Vader... Sepultura, não é death metal, mas eu gosto.
Certa vez, o Josh Homme (lÃder do Queens of the Stone Age e fundador do Eagles junto com Jesse) definiu o som da banda como "bluegrass com slide guitar misturado com baterias simples e um vocal à Canned Heat". O quanto dessa afirmação vocês diria que está certa?
Ele está completamente correto. Ele acertou na mosca.
Falando nisso, quem você diria que são suas principais influências musicais?
Minhas principais influências são Little Richards, Mick Jagger, Keith Richards, Dave Growl, Ru Paul, The Sonics, Christina Aguilera, Britney Spears, é claro, Elvis Presely, e Vilagge People.
Já tinho ouvido falar em BrasÃlia?
Eu ouvi falar. Será nosso primeiro festival no Brasil. O legal desse tipo de evento é que você pode circular, dar uma conferida nas outras bandas, no que está rolando. Não dá para sacar exatamente como é a música do Brasil indo a um festival de música pop na Califórnia, entende?
Como foi a passagem de vocês por São Paulo, em 2007?
Foi uma dos mais incrÃveis vistas da minha vida. Nunca tinha visto tantos prédios e helicópteros na minha vida. Não tÃnhamos ideia de que seria assim, de forma alguma. Imaginávamos apenas umas 100 pessoas no show. Eu nunca fiquei tão empolgado a ponto de quebrar alguma coisa e naquele dia eu quebrei uma guitarra.
É possÃvel apontar as diferenças do público de um lugar para o de outro?
Em cada lugar, em cada cultura, as pessoas respondem de forma diferente a um show.
E como o público de São Paulo reagiu ao show de vocês, em 2007?
Como animais selvagens, prontos para me devorar vivo! E foi lindo.
Como você escolhe quais músicas tocar num show?
Uma mulher vodu joga ossos de galinha no chão para escolher as músicas.
Vão tocar músicas novas no show?
Sem músicas novas no show.
Heart on, o disco mais recente de vocês, vai ainda mais fundo na sonoridade dos anos 1970. Esse será o caminho para os próximos trabalhos da banda?
No estúdio em que estávamos gravando nosso disco mais recente, eu descobri uma máquina do tempo. Fui para anos 1970 e voltei com todas essas músicas.
E você, gosta de bandas novas?
Eu adoro música nova. Aliás, eu acabei de comprar o relançamento do catálogo dos Beatles.
E quanto ao Queens of the Stone Age. Eles são bons?
Eles são umas bichas. Brincadeira. Eles são uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos. Josh não é apenas meu grande amigo, mas a música dele é foda. Como eu acompanhei muitas das gravações recentes deles, eu sei o quando ele saca de rock%u2019n%u2019roll. Eu adoro o Queens.
E o que você achou do Them Crooked Vultures (projeto de John Homme com o ex-Led Zeppelin John Paul Jones e Dave Grohl, do Foo Fighters)?
A primeira vez que eu ouvi, eu tirei a minha cueca e dancei em volta de um macaco no meio da noite.