Viver a vida mal começou, mas já mostrou que tem muito combustível para queimar até o último capítulo. A rivalidade entre Helena (Taís Araújo) e Luciana (Alinne Moraes), por exemplo, deverá dar pano pra manga e Manoel Carlos, com sua reconhecida habilidade, certamente saberá como conduzir essa arenga, onde entra de lambuja ; do lado contrário à mocinha, claro ; a amarga Tereza (Lilia Cabral). Aliás, também já é possível perceber que será uma disputa acirradíssima entre mãe e filha ; ou seja, Luciana e Tereza ; para saber qual das duas é mais azeda.
Com uma clara investida na trama principal, os capítulos exibidos até agora praticamente foram entregues às três atrizes, que souberam fazer bom proveito. Taís Araújo se mostra à vontade no papel da jovem Helena, usa seu carisma para traduzir o astral, a leveza e a coragem que costumam ter as Helenas de Manoel Carlos. Alinne Moraes consegue angariar a antipatia do espectador a cada fala, como convém a uma antagonista, e Lilia Cabral ainda está muito; Lilia Cabral. Mas, pelo que se conhece da atriz, ela saberá dar novas nuances a Tereza ao longo da trama.
A propósito, ainda que possa se repetir aqui e acolá, Lilia não é páreo para José Mayer, de volta ao papel do coroa sedutor que ele já conhece de cor e salteado ; e o público também. Mas isso não chega a ser grave se considerarmos que, de maneira geral, o elenco masculino começou ofuscado pelas presenças femininas. Ainda é cedo para avaliar, por exemplo, o desempenho de Bárbara Paz, mas nas poucas cenas que teve a atriz demonstrou que vai saber aproveitar muito bem sua primeira chance na Globo. Tem tudo para protagonizar um drama à moda de Heleninha Roitman.
No mais, Viver a vida é bem Manoel Carlos. Conversas prosaicas à beira da piscina, ordinários conflitos classe média e o charme que a vida à beira-mar proporciona, seja em Búzios ou no Leblon. Estender a história ao balneário, de certa forma, é uma novidade na obra do autor, já que suas tramas invariavelmente se detêm na orla carioca. Além disso, a história ainda deverá se estender a cenários na França, Egito e Jordânia e não por rápidas cenas, já que o elenco passou mais de um mês gravando nessas locações.
Prato cheio para o diretor Jayme Monjardim, bastante chegado a explorar paisagens deslumbrantes, como já fez nas primeiras cenas em Búzios, com muitos pores de sol e uma luz mais viva e quente. Bem diferente da leveza que Ricardo Waddington imprimiu a outras novelas do autor, como História de amor, Laços de família e Mulheres apaixonadas, e bem mais apropriada à proposta de retrato do cotidiano do autor.