Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Capítulo inicial de 'Viver a vida' contrasta com folhetim anterior, mas não chega a empolgar

Com a beleza de Búzios de pano de fundo, estreou, anteontem, Viver a vida, a nova novela das oito da Globo, de Manoel Carlos. Embalado pela suave voz de Gal Costa deve ter sido fácil para o telespectador fazer a passagem, tirando de vez dos ouvidos a indecifrável música indiana da abertura da novela anterior. A trama começou sem pressa, com um close na protagonista, Taís Araújo, a Helena da vez. A top model, com ares de superstar, está na cidade para um desfile e, enquanto não pisa na passarela, conta sua vida para um programa de TV. Por pouco, a lengalenga não desliza para a monotonia logo de cara. Corta. A próxima cena é uma correria danada pelos becos de uma favela. Sandra (Aparecida Petrowky) e o namorado, Benê (Marcello Melo), fogem da perseguição da polícia. Ele escapa e ela é abatida com um tabefe desferido por um policial. Aparece com a cara roxa e inchada na casa da irmã, Helena, no Leblon. Ou alguém imagina que Manoel Carlos deixaria seu amado bairro carioca de fora da trama? De volta a Búzios, agora é a vez de o mocinho dar a cara pela primeira vez. Mocinho? José Mayer, que interpreta Marcos, já está longe disso. Mas para quem gosta daquele estilo meio canastrão é um prato cheio. Ele vem acompanhado de Teresa, sua ex-mulher, irritante e brilhantemente construída por Lília Cabral, que já disse a que veio. A gente vai odiar muito aquela dondoca. E a filha mais velha do casal, a destemperada Luciana (Alinne Moraes), que pensa que rivaliza com Helena nas passarelas. O casal de protagonista se conhece em um encontro para lá de prosaico. E surgem novos personagens: Jorge e Miguel, os gêmeos de Mateus Solano, respectivamente, namorados de Luciana e Renata (Bárbara Paz). Helena, finalmente, abre o desfile e Luciana, ao encerrá-lo, se esborracha no chão. E culpa a concorrente. Foi o máximo de ação que a trama ofereceu em seu início. Não adianta esperar agilidade e grandes acontecimentos na trama de Manoel Carlos. Ele, que não se diz afeito à fantasia, gosta de falar do cotidiano, do trivial. Da vida como ela é. Bem entendido, vida de novela, cheia de glamour, em que ricos vivem à grande e os pobres, poucos em cena, se safam, vez ou outra, das balas perdidas. Fique o telespectador sabendo que Marcos e Helena vão se casar, ter uma filha e se separar; e que Luciana, que ficará paraplégica, não voltará a andar nunca mais. O mote da trama é a superação. Tanto é assim que o autor vai usar, ao fim de cada episódio, um recurso que ele já adotou em Páginas da vida: anônimos vão contar como enfrentaram dificuldades da vida. Na estreia, Virgínia Diniz Carneiro, de 85 anos, mineira de Belo Horizonte, revelou como superou a paralisia infantil e foi feliz. Com Taís Araújo e sua beleza tomando conta de um nada empolgante primeiro capítulo, muito do que se pode esperar de Viver a vida é se a atriz dará conta do recado ao carregar, por meses a fio, uma personagem que tem no nome o peso maior da novela.