Madri - O escritor peruano Mario Vargas Llosa, que apresentou nesta segunda-feira Sabres e utopias, compilação de artigos de sua autoria sobre a América Latina, mostrou que continua sem papas na língua ao advertir para uma "clara involução" da democracia na região.
"Na América Latina tudo ainda está por definir na política", resumiu o escritor, explicando que, enquanto na Espanha a democracia é "irreversível, isso não existe na América Latina, com a exceção do Chile".
"A prova é que todos os dias estamos vendo retrocessos e, embora haja fatos muito positivos, existe uma clara involução do ponto de vista democrático em Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua", afirmou.
O escritor lamentou que "nos últimos 30 anos haja uma grande despolitização" dos escritores latino-americanos, apesar de a situação política não ter se consolidado.
"Arte e literatura se empobrecem se não recebem constantemente uma transfusão viva e atual, sobretudo da política", advertiu.
Vargas Llosa fez fortes críticas a alguns dos atuais líderes da região.
O escritor peruano considerou que o boliviano Evo Morales "não é um presidente democrático", pois seu governo "tem una clara orientação autoritária e racista".
Já na Venezuela, disse que o presidente Hugo Chávez é "o maior titereiro da região", referindo-se à pessoa que manipula os fantoches.
O presidente equatoriano, Rafael Correa, "é um demagogo, um populista que vai causar uma catástrofe econômica com sua política", lançou.
Em relação à Colômbia, considerou lamentável que o presidente Alvaro Uribe concorra a um terceiro mandato, já que isso é "tremendamente prejudicial para a democracia".
Já o Peru, onde o presidente Alan García "mudou e dá garantias ao investimento estrangeiro", é a "espinha na garganta de Chávez".
Para terminar, o escritor também disse ver Cuba "com muita tristeza" e não quis falar da situação em Honduras.
Aos 73 anos, o autor de "A cidade e os cachorros" apresentou nesta segunda-feira no Círculo de Belas Artes de Madri "Sabres e utopias. Visões da América Latina", que compila ensaios, crônicas, reportagens, perfis e cartas sobre a região publicadas desde os anos 60 pelo escritor em vários meios.