Diversão e Arte

Cine Itapuã, no Gama, está Interditado

Principal espaço cultural do Gama a cada dia fica mais deteriorado. Comunidade artística cobra revitalização urgente do local

postado em 07/09/2009 08:00

As histórias sobre as promessas de reforma de um dos espaços culturais mais importante do Gama, o Cine Itapuã, hoje Centro Cultural Itapuã, daria um filme dramático. Mas um drama que jamais passaria nas telas do cinema, interditadohá quase um ano por condições inadequadas. Ocupando uma área de 3.270m;, no Setor Central, hoje o emblemático local necessita de revitalização urgente: tem cadeiras quebradas, piso detonado, instalações hidráulica e de energia sucateadas. A fachada frontal, toda de vidro, está deteriorada pela ação do tempo e há muitas janelas quebradas. Integrantes do conselho artístico da cidade denunciam que, durante à noite o lugar é frequentado por usuários de drogas e algumas pessoas, inclusive, usam o espaço para atos obscenos.

A equipe do Correio esteve no espaço e conferiu o estado lastimável da sala. Os dois grandes projetores do cinema, por exemplo, estão abandonados perto do hall de entrada, ao lado de uma enorme tela do pintor local Dalmácio, ironicamente, um artista gamense desiludido com o abandono e descaso em relação aos aparelhos culturais da cidade. ;Não há nenhum tipo de sensibilidade cultural por parte das autoridades, nem valorização dos artistas locais;, lamenta Valbert Nascimento, integrante da banda Alarme, desde 1988 na ativa.

Segundo ele, a última reforma realizada foi há 10 anos. Depois disso, nenhuma fechadura foi trocada. "Reforma não, uma maquiada apenas. O que eles fizeram, de fato, foi pintar o cinema todo de azul em homenagem ao governo da época. Ficou sinistro", recorda o músico.

A realidade é triste. Com a desativação do local, um dos mais antigos de Brasília, os artistas da cidade acabaram ficando praticamente órfãos, carentes de lugares para apresentações. Único ponto cultural alternativo da região, o Teatro de Bolso(1), mais conhecido por Galpãozinho, se encontra em situação pior. Tradicional palco da cena roqueira da cidade, o lugar não abre as portas desde 2005.

"O Gama tem uma vida cultural bastante ativa. Abriga uma quantidade enorme de artistas. Talvez seja, das satélites, a que mais tem artistas, mas falta espaço para todos", garante o produtor cultural Francisco Sales. Nascido no Gama, ele também lamenta a falta de teatros e cinemas numa cidade com quase 200 mil habitantes. "Esses espaços atendiam não só os moradores daqui, mas da redondeza também. Nem o shopping tem cinema", reclama.

Há dois meses no cargo, o administrador regional do Gama, Cícero Neíldo Furtado, diz ter plena consciência da necessidade de revitalização dos espaços culturais do Gama. Ele conta que aguarda um sinal verde do GDF para abrir uma licitação. Explica, por exemplo, que um pré-orçamento para reforma, entre R$ 600 mil e R$ 700 mil, já foi feito no Centro Cultural Itapuã.

"Conheço aquele lugar muito bem porque sou morador antigo do Gama e frequentei lá quando ele dava condições para o usuário frequentar. De lá para cá, foram feitos vários paliativos para ajudar a recuperar o local, mas chegou num ponto que não tem mais como tomar medidas alternativas, tem que reformar geral", reconhece. "O governador Arruda prometeu, durante uma audiência pública, recuperar alguns espaços culturais da cidade", conta.

Enquanto aguardam uma resposta do poder público, os artistas gamenses se viram como podem. "O que está faltando é vontade política", aponta o produtor Francisco Sales.

1 - Alternativo
Considerado um espaço alternativo e conhecido pelos tradicionais shows de rock, o Galpãozinho, como é carinhosamente chamado pelos moradores da cidade, fica localizado na área central do Gama. Com capacidade para 60 pessoas sentadas, desde 2004 não abre as portas.

RESISTÊNCIA
O Centro Cultural Itapuã foi fundado em 1963, por uma empresa particular. O antigo Cine Itapuã tem capacidade para 500 pessoas. É o segundo espaço cultural mais antigo de Brasília, só perde para o Cine Brasília, fundado em 1960. Na década de 1980, após possibilidade de o prédio ser vendido para uma igreja, um grupo de empresários locais comprou o local e doou ao GDF, que o delegou à Administração Regional da cidade. Nesse período, serviu de palco para um cineclube, além de apresentações de artistas como Belchior, Paulinho Pedra Azul e Oswaldo Montenegro. Até sua interdição, em outubro do ano passado, era o único centro de encontro dos artistas da cidade.

MUDANÇA POLÊMICA
A mudança da principal biblioteca da cidade, localizada na área central do Gama, para um lugar menor e mais afastado da rodoviária, tem provocado polêmica entre os usuários. A adequação, segundo o administrador da cidade, se deve ao estado precário do antigo local, que necessita de reformas urgentes. A situação se complicou com a possibilidade de a antiga sede ser cedida ao MEC para a realização de sete cursos profissionalizantes. Se isso acontecer, os moradores do Gama perderão de vez o cativo espaço. "A mudança é de caráter provisório, mas se realmente o MEC acertar com o GDF e vier com propostas boas a nova biblioteca ficará no Setor Leste mesmo", comenta o administrador Cícero Furtado. Alguns estudantes rebatem a decisão. ;Por mais confortável que seja, a nova biblioteca é muito pequena. Só tem capacidade para 50 pessoas", lamenta o estudante Leonardo Reis, 22 anos. "Mas se a biblioteca ficar definitivamente no Setor Leste é evidente que vamos dar uma ampliada nela", tranquiliza Cícero.

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