Um dos espaços mais representativos da cultura nordestina em Brasília está pedindo socorro não é de hoje. Idealizada em 1986 pelo poeta e escritor cearense Gonçalo Gonçalves Bezerra, que foi buscar na sede piauiense inspiração para o projeto brasiliense, a Casa do Cantador(1), ponto de encontro de xilogravuristas, cantadores, repentistas, cordelistas, emboladores e violeiros de todo o país, está literalmente caindo aos pedaços. A reportagem do Correio, dando sequência à série de reportagens sobre o estado dos aparelhos culturais da cidade, foi ao local e constatou que a situação é precária.
Segundo a coordenadora do espaço, Rosa Alves, um relatório com todos os problemas detectados foi apresentado a menos de dois meses ao secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho. Ela comenta ainda que um projeto de reforma orçado em R$ 707 mil está em processo de licitação, mas até agora nenhuma posição foi apresentada pelo governo.
;Já peguei a casa em péssimo estado;, lamenta a coordenadora, há dois anos gerenciando o local. ;Desde a inauguração, o lugar nunca passou por algum tipo de reforma e, naturalmente, foi se deteriorando com o tempo. Agora é preciso arrumar e reativar o espaço para os artistas e o público;, reivindica.
Ouça entrevista com Rosa Alves, coordenadora da Casa do Cantador
Oficialmente, a Casa do Cantador ainda continua ligada à Administração Regional de Ceilândia, mas a Secretaria de Cultura já se posicionou com relação à reforma da área. A subsecretária de Políticas Culturais do GDF, Ione Carvalho, reconhece o estado precário do lugar, mas explica que os trâmites para a reforma não dependem apenas da secretaria. ;O que cabia a nós foi feito, que é o levantamento arquitetônico para conservação e restauro desse edifício. Já temos o orçamento da reforma e agora só aguardamos a parte mais importante, que é o financeiro, ou seja, a liberação da verba. Quem vai decidir que tem dinheiro ou não é a Secretaria de Planejamento;, detalha. ;Todos os espaços culturais da cidade estão em estado similar, queremos arrumar, temos consciência dessa necessidade e estamos esperando o sinal verde para seguirmos adiante;, continua.
Cara nova
[SAIBAMAIS]Desde que assumiu o posto, Rosa Alves luta pela revitalização da Casa do Cantador. Diante da falta de recurso, foi adequando o lugar na medida do possível, dando vida, por exemplo, a uma cordelteca. ;Quando cheguei não tinha móveis, internet, nada. Os livros estavam encaixotados e sem uso. Catalogamos todos e devolvemos às estantes;, conta. ;O que estava ao nosso alcance nós fizemos, mas é só uma maquiagem. A Casa do Cantador é conhecida nacionalmente, não pode ficar nessas condições;, emenda.
Do novo projeto de revitalização, que passou pelo crivo de Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro, Rosa apresenta algumas novidades, como um lugar mais amplo reservado à cordelteca e a construção de um novo restaurante. A menina dos olhos do documento é uma oficina de cordel dedicada a crianças. O projeto estará integrado às escolas. ;Essa cultura está morrendo, só existe nos livros. Então é preciso ensinar tudo às novas gerações;, observa. ;Mas todos esses projetos só serão possíveis após a reforma;, pondera ela, depois de um suspiro de esperança.
1- Abrigo
A Casa do Cantador foi idealizada em 1986 com o intuito de valorizar e divulgar a cultura do Nordeste, o espaço também serve de abrigo para os artistas de passagem pela cidade. Com sede em Ceilândia Sul (QNN 32, Área Especial G), o lugar também é utilizado para eventos como manifestações e festivais de cantadores, repentistas e poetas cordelistas.
Ouça entrevista com a subsecretária de Políticas Culturais, Ione Carvalho, que fala sobre o processo de restauração da Casa de Cultura