Basta uma rápida olhada em livros de autoajuda para perceber a enxurrada de receitas milagrosas que prometem resultados eficazes em curtos períodos de tempo ; principalmente na esfera do amor e do trabalho. Mas será possível aplicar o mesmo princípio quando o assunto é seu filho? Para o norte-americano Kevin Leman, autor do recém-lançado Transforme seu filho até sexta (Editora Mundo Cristão), sim.
O livro ensina um programa semanal com atitudes disciplinadoras, embasado em exemplos e depoimentos de pessoas que testaram e aprovaram o método. O autor usa a experiência como psicólogo e pai de cinco filhos para dar dicas sobre como proceder diante de respostas malcriadas ou birras em locais públicos, por exemplo. ;Se você for a um shopping, é comum observar pais passando por situações constrangedoras. A impressão que temos é que as crianças é que dão as cartas;, diz Eiko Okazaki, psicoterapeuta familiar e porta-voz do livro no Brasil. Segundo ela, os pais contemporâneos encontram dificuldade em exercer sua autoridade.
Para Okazaki, essa deficiência em manter a disciplina resulta na transferência da responsabilidade pela educação dos filhos a escolas ou psicólogos. Isso explicaria a popularização de livros sobre temas educacionais, bem como o sucesso de programas televisivos como Supernanny. ;A escola não ensina e os psicólogos não resolvem tudo. O que o livro quer mostrar é que o truque para dar certo são as transformações que têm que acontecer na cabeça dos pais.;
Autoritarismo X democracia
Marlene Monteiro Pereira é coordenadora do curso de pedagogia do Unicesp e acredita que, embora a proposta de livros que pretendem ajudar na educação dos filhos seja válida, os resultados obtidos são paliativos. ;O problema sempre acaba voltando, às vezes, mais forte do que antes. Educar não é uma receita pronta, mas os pais estão tão atarefados que é mais fácil ler a bula.; Outro grande vilão da educação, para Marlene, é o diálogo escasso entre pais e filhos. ;Quando os pais procuraram sair do modelo do autoritarismo, acabaram se perdendo na tentativa de serem democráticos. São dois extremos.;
Mas será possível mudar o comportamento de uma criança em apenas cinco dias? ;Acho impossível. Você pode mudar por um tempo, mas não interiormente;, opina a pedagoga. Ela reconhece, porém, que alguns conceitos fundamentais que os pais devem ter em mente estão presentes no livro, como dedicar mais tempo às crianças e prestar atenção nos exemplos que são passados a elas dentro de casa.
[SAIBAMAIS]Apesar do teor educativo do livro, trechos como ;as crianças são sindicalizadas e têm um projeto para enlouquecê-lo; e ;pequenos hedonistas de chupeta; receberam censuras da doutora em psicologia do desenvolvimento humano Ângela Uchoa Branco, que os classificou como ;desrespeitosos;. Para Ângela, as dicas são genéricas e é uma ilusão achar que uma criança será disciplinada em cinco dias. ;Esse livro pretende resolver os problemas de todas as famílias. Mas as birras não são iguais.; Eiko Okazaki rebate: ;Não acho a linguagem agressiva. Quando o autor diz que os pais estarão preparados para a guerra, ele quer dizer que vão ter trabalho, mas que estarão prontos psicologicamente para isso;.
Quer testar?
Polêmicas à parte, eis o método
Segunda-feira
No primeiro dia, a proposta é descobrir qual a ;estratégia; da criança. Por que seu filho faz o que faz ; e continua a fazê-lo? A ordem principal é manter-se calmo e racional: diga uma vez só, vire as costas e vá embora.
Terça-feira
O autor baseia seus ensinamentos no que chama de ;novo abecedário;, que contém as três principais coisas que preocupam os pais: atitude, bom comportamento e caráter. Nesse dia, os pais devem observar seu próprio comportamento (como ameaças e promessas não cumpridas) e seguir três estratégias para moldar o caráter da criança: deixar a realidade ensinar, responder com palavras em vez de reagir e seguir a máxima de que ;B; não acontece até ;A; estar concluído, ou seja, se seu filho ainda não atendeu ao seu último comando, você não deve passar para a etapa seguinte.
Quarta-feira
É o dia de fazer planos para o futuro: como você quer que sua família seja? Quem você quer que seu filho se torne e qual tipo de pai você quer ser? É nessa fase que os leitores identificam se são pais do tipo permissivo, autoritário, com autoridade ou responsável e, a partir daí, traçam métodos para se aproximar dos filhos. Uma das sugestões é conversar com os adolescentes sobre a música que escutam ou fazer comentários positivos sobre eles na frente de outras pessoas.
Quinta-feira
O quarto dia é voltado para a identificação de um novo abecedário: aceitação, bem-querer e competência ; responsáveis por determinar os pilares do autovalor de qualquer pessoa. Além de identificá-los, o leitor aprenderá a colocá-los em prática com seus filhos. Para isso, os pais devem mudar atitudes simples, como deixar de fazer as coisas pelos filhos, não repetir instruções ou enaltecer as crianças excessivamente e encorajá-las sempre, pois o autor defende que ;o encorajamento enfatiza a ação, e não a pessoa;.
Sexta-feira
Todos os princípios aprendidos e o plano de ação devem ser revisados. Após a revisão, a intenção é que os pais estejam preparados para diagnosticar e tratar os problemas dos filhos. O lema do dia é ;não vejo a hora de meu filho se comportar mal, porque estou pronto para a guerra;. É o dia de colocar todos os ensinamentos em prática ao mesmo tempo, sem explicações.
Fonte: livro Transforme seu filho até sexta, Kevin Leman