Nenhum terremoto do rock parece intenso o suficiente para derrubar o Elffus. Há 21 anos na labuta, a banda brasiliense resiste a todo tipo de abalo: depois de lançar dois discos em vinil, ela se adaptou à era do CD e, hoje em dia, navega serenamente na correnteza da internet. "Antes, era uma batalha levar nossos clipes para a MTV. Agora não temos essa necessidade. Em três dias no YouTube, nosso vÃdeo mais recente deu 800 acessos", compara o guitarrista Pedro Selva, 31 anos. "Eu acho tudo isso incrivelmente positivo. Para o músico independente, é um avanço não precisar das gravadoras para divulgar música", observa.
Rejuvenescer, nesse caso, parece até questão de honra. No novo disco, A outra face, o quarteto reforça uma antiga postura: muda de rosto, mas sem abandonar a persona rock %u2018n%u2019 roll. Desde o inÃcio da carreira, em 1988, eles misturam influências de blues, heavy, punk e funk. Tentam surpreender a cada reviravolta. Desta vez, os riffs do hard rock se destacam. "A banda nunca se prendeu a nenhum estilo. Para efeitos de marketing, isso pode ser considerado uma deficiência. Mas é vantajoso para o público. Conseguimos agradar a um pouco dos gregos e a um pouco dos troianos", afirma Pedro.
Nos shows, a versatilidade faz milagres. "Se a banda tocasse só heavy, ficaria restrita ao circuito de heavy. A ideia é flexibilizar o estilo", diz. Hoje, o Elffus promete novidades no lançamento do disco, no Teatro Sesc Newton Rossi, em Ceilândia (o ingresso custa 1kg de alimento). "O teatro tem uma estrutura maravilhosa. Vamos fazer um show à altura da casa. Quem está acostumado aos shows do Elffus vai encontrar algo totalmente diferente", avisa o guitarrista. No set, novas canções como
Inferno e
Último beijo (que rendeu clipe) encontram "clássicos" do inÃcio da carreira.
O CD
A outra face resume quase 10 anos de atividades da banda, formada ainda por Fernando Di Castro (baixo), Ãlcimo (bateria) e Alberto (voz e violão). A trilha independente tem dessas barreiras. Algumas músicas do disco, como
Lágrimas da chuva, foram compostas e gravadas em janeiro de 2008, durante as gravações. Outras, como
Inferno, rondam o repertório do Elffus desde 2003.
A gravação, acelerada, durou 30 horas %u2014 pouco menos de um mês. "A banda mudou de formação (Pedro entrou em 2003 e o baixista Fernando em 2002), mas evoluiu naturalmente. Cada músico coloca um pouco do seu estilo no som do grupo. Considero este disco um dos mais completos da banda. É a formação que o Elffus procura desde 1988", comenta.
ELFFUS
Show de lançamento do disco A outra face. Hoje, sexta-feira, às 20h, no Teatro Sesc Newton Rossi (Centro de Atividades Sesc Ceilândia - QNN 27, lote B, AE, Ceilândia Norte). Ingresso: 1kg de alimento. Não recomendado para menores de 14 anos.
CrÃtica - Sem dogmas ou firulas
A capa, de um azul sombrio, lembra álbuns de metal do inÃcio dos anos 1980. Mas, já nos primeiros riffs de
Inferno, o cenário gótico é destruÃdo a marretadas de hard rock. O Elffus não quer saber de firulas: entorna riffs etÃlicos da safra de AC/DC e Barão Vermelho, com uma poesia sacana que não nega a tradição do gênero. "Tudo o que eu quero é sexo, sexo e rock 'n' roll", avisam. E, para quem ainda tinha dúvidas, reforçam logo em seguida: "No filme da minha vida, a trilha é puro rock 'n' roll." Com canções talhadas para o palco (
Último beijo e
Arco-Ãris na escuridão lembram os momentos mais eufóricos do U2), o disco entrega a referência setentista quando paquera o blues. Ainda assim, não se deixa levar pelo clima deprê. "Não há tristeza, não há alegria, apenas um pouco de melancolia. Algo que só uma guitarra e uma voz rouca podem traduzir", cantam, enquanto a melodia descamba numa baladona que cheira a By my side, do INXS. Com dignidade.
Veja clipe de Último beijo, do Elffus