Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Céu une malemolência do samba e do reggae em Vagarosa

Quatro anos após estrear com o álbum CéU e receber generosos elogios tanto no Brasil quanto em outros países onde o disco foi lançado ; nos Estados Unidos, CéU foi o primeiro trabalho de um artista estrangeiro a integrar a série Starbucks hear music debut, vendido em lojas tradicionais e na rede Starbucks ; , a cantora e compositora paulista Céu está de volta com Vagarosa.

Entre um e outro disco, Céu teve tempo para cantar ao vivo as músicas do primeiro disco em todos os lugares onde quis, ter uma filha, Rosa, e participar de projetos como o Sonantes, ao lado dos músicos-amigos Gui Amabis, Rica Amabis (Instituto), Dengue e Pupillo (Nação Zumbi), que rendeu um disco. "Participo de projetos de pessoas que gosto, acho trabalhar em coletivo mais divertido", afirma.

[SAIBAMAIS]

Marcado pela malemolência do samba e do reggae, Vagarosa reflete a calma com que Céu conduz a carreira e sua relação com a música. o disco traz participações de Luiz Melodia, em Vira lata, de Thalma de Freitas e Anelys Assumpção, em Bubuia, do guitarrista Fernando Catatau (Cidadão Instigado), em Espaçonave e Bubuia, e, é claro, dos amigos do Sonantes.

Depois de tantos elogios ao primeiro disco, houve preocupação de fazer um segundo que agradasse do mesmo jeito?
Nunca programo as coisas. Faço sempre de acordo com o que faz sentido para mim. Porque a honestidade é comigo mesmo, é o fator inicial e principal para meu trabalho na música. Claro que tem um peso de segundo disco, já que o primeiro foi comentado mundo afora. Mas não procurei ficar pensando nisso não.

O que, a seu ver, mais diferencia Vagarosa de CéU?
Ele traz letras que têm a ver com as coisas que vivenciei nos últimos anos, de fazer turnê, tocar fora, me tornar mãe ; isso foi muito importante, algo especial. Acho também que a grande diferença é o som mais orgânico, mais tocado, menos beat, eletrônico. Já houve quem dissesse "como se leva para o palco um som como esse?". Mas, na verdade, é até mais fácil.

Vagarosa foi produzido a oito mãos. Como foram conciliadas tantas ideias?
Na verdade, a produção deveria ser minha e do Beto (Villares), mas no meio do disco ele teve que sair para fazer o da Zélia Duncan (Pelo sabor do gesto) e, naturalmente, duas pessoas que estavam muito próximas, que eram o Gustavo (Lenza) e o Gui (Amabis), acabaram assumindo a produção junto comigo. Então foi tranquilo, tudo a seu tempo.

Vagarosa tem a participação do baterista Gigante Brazil, que morreu no ano passado. O disco levou muito tempo para ser feito?
Logo depois que gravou meu disco, o Gigante faleceu. Pouco depois eu tive que fazer uma pausa, porque estava grávida de oito meses e quis parar para ter minha filha e me dedicar a ela por um tempo. Então foi bem nesse periodo; No final, ele levou um tempo normal para a produção de um disco, de um ano e meio.

O Sonantes é um projeto paralelo? Terá continuidade?

Sempre tive vontade de ter uma banda. Participo de projetos de pessoas que gosto, acho trabalhar em coletivo mais divertido. A gente morava no mesmo prédio, se via na padaria, teve essa proximidade. Aí a resolveu fazer um projeto. Nem chamamos banda, porque não tinha disco nem shows. É uma experiência onde cada um põe a mão sem o outro dar pitaco (risos). E a gente deseja um dia pôr no palco, mas não há nenhum plano, nada programado.

Como aconteceu de Luiz Melodia participar de Vagarosa? Já havia uma proximidade?
Luiz eu conheci em um projeto em que cantei com ele, no Ibirapuera (em São Paulo). Era um show com a Orquestra Bons Fluidos, no qual nós dividíamos o palco e cantávamos canções um do outro. Foi uma grande chance, porque muito fã do Melodia, considero-o o maior cantor do Brasil. E essa chance me fez tomar coragem. Fiz a musica e achei que era a cara dele, então o convidei.

Você tem um bom trânsito no exterior. Pretende gravar em inglês em algum momento?
Só canto em português. No primeiro disco, gravei uma canção em inglês, Concrete jungle, e no show canto uma versão de uma música do Ray Charles. Mas não existe um comprometimento. Talvez seja bem arriscado. Acho sempre que devo fazer o que mais gosto, mesmo que não seja o mais confortável para os outros, no caso o público estrangeiro. Na verdade, acho que se eles me chamaram para cantar deve ser justamente por causa do português (risos)

Você sempre grava composições próprias. O que deve ter uma música que o faça abrir exceções, caso de Rosa menina Rosa (Jorge Ben Jor) no novo disco?
Gosto de compor e meu trabalho está relacionado ao meu estilo de composição, as letras contam essas histórias. Mas tem músicas que incorporam coisas do meu momento, como é Rosa morena Rosa, que tem o nome da minha filha e por isso eu quis gravar. Mas nada impede de vir a gravar um disco com música de outros compositores. Não tem essa amarra.