Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Conceição Freitas, Dad Squarisi e Márcio Cotrim fazem lançamento múltiplo, hoje à noite, no Espaço Chatô

Humor, técnica e emoções são elementos que se misturam quando o assunto em pauta é o lançamento, hoje à noite, de seis livros de um trio de profissionais comprometidos com a lida da notícia, mais precisamente no Correio Braziliense. Dad Squarisi, Conceição Freitas e Márcio Cotrim ; que, juntos, somam mais de 50 anos de experiência em redação ; lançam hoje, cada um deles, dois livros no Espaço Chatô. Dad Squarisi segue repassando ensinamentos para melhor desenvoltura na língua portuguesa ; fundamental, em tempos de Novo Acordo Ortográfico. Márcio Cotrim se aprofunda nas pesquisas etimológicas, aliadas com o bom humor. Já os desafios de Conceição Freitas estão em aplicar sentimentos fortes na construção de crônicas sobre Brasília e num conto, que marca sua estreia na ficção.

Jornalista ;vestida; de poesia
;Não posso me misturar com o que escrevi;, delimita Conceição Freitas, a manauara (criada em Belém) que, há 17 anos, trabalha no Correio. A ressalva, porém, só vale para o conto Amantíssima, com a protagonista Maria Chica detida no aprendizado de enxertar ;no corpo a concretude do amor;. Deslumbrada com a afinidade alcançada na parceria com Fernando Lopes, que ilustra o livro, Conceição assume, no texto ;jorrado;, um erotismo carregado, capaz de expor parte dos ;porões internos; da multiplicidade contida na própria personalidade.

A atmosfera devassa, que cita ;gente que se esfrega;, é apenas uma das facetas do conto. De pessoal, Conceição assume o combustível, o ;desaguar da saudade de um grande amor perdido;. A veia literária da repórter ; que se deixa ;deslizar em textos maiores e mais densos; ; se estende ainda para o dia a dia, na condição de quem ;se veste de jornalista, para vir trabalhar;. O resultado integra Só em caso de amor ; 100 crônicas para conhecer Brasília, outro livro com lançamento hoje, no Espaço Chatô.

;O livro das crônicas carrega a paixão por Brasília, o que ela me provoca de paixão e até de desgosto. Nisso, o que me encanta, fundamentalmente, é o surto de genialidade e loucura que houve aqui, entre 1956 e 1960, que permitiu aos brasileiros a construção de uma cidade tão inovadora, para a época, em tão pouco tempo;, explica a autora, há cinco anos, titular da coluna Crônica da Cidade. O apanhado de escritos resgata estados de espírito de quem se inquieta na interação com Brasília. ;A crônica não é ficção, é uma observação um pouco mais lírica da realidade. Me permito, no máximo, um ;fingimentozinho;, uma pequena ;apimentada; no que foi observado;, conta Conceição Freitas.

Conceição Freitas fala sobre os seus livros


Dividido em três partes ; Descoberta da cidade, Pra gostar de gente e O cerrado na história ;, Só em caso de amor traz narrativas construídas a partir de dom persistente na vida de Conceição. ;Gostar de gente é uma sofisticação humana, só quem é muito humano gosta, de verdade, de gente. Gente é um bicho muito difícil, contraditório e irregular. É um exercício diário;, diz, aos 51 anos. Numa passada de olhos, o livro entrega a admiração da escritora por figuras como Waldick Soriano, ;o homem mais sedutor; que ela conheceu, e da centenária goiana anônima Dona Nega, exemplo de recato extremo e domínio do português arcaico, que, enlutada, recolheu o ;sorriso suave; conferido em vários encontros com a autora.

Numa seleção em que predominou o critério intuitivo, em meio a 1.500 crônicas produzidas, o livro, repleto de referências históricas, pode até revelar ;desencantos; com a capital, de alguém que a habita há 23 anos, mas, como dito num trecho, pesa mesmo é o amor.


SÓ EM CASO DE AMOR ; 100 CRÔNICAS PARA CONHECER BRASÍLIA
De Conceição Freitas. LGE Editora, 210 páginas. R$ 30.


Auxílio luxuoso e com humor
Apontando o treino como bom instrumento para o domínio da língua portuguesa, há 15 anos, a editora de Opinião do Correio, Dad Squarisi, investe no repasse de conhecimento, por meio da coluna Dicas de Português (publicada em 15 jornais do país). ;Os leitores são fundamentais, a coluna é feita para eles. Eles opinam muito: elogiam, criticam e sugerem assuntos. Fico muito atenta às necessidades;, conta Dad. Uma nova dupla de livros, Superdicas de ortografia e Redação para concursos e vestibulares ; Passo a passo, junta-se aos seis já lançados pela professora, que é formada em letras pela Universidade de Brasília.

Com aspectos teóricos elaborados ao longo de uma década, Redação para concursos e vestibulares (que traz exercícios formulados pela jornalista e educadora Célia Curto) é, segundo a autora, ;completo para quem quer escrever um bom texto;. A primeira parte trata do planejamento da redação, com ênfase na escolha e delimitação do assunto, traçado de objetivo e formatação do esqueleto de uma redação. ;Quando se diz que escrever é pensar, se trata de organizar o esqueleto do texto. Na segunda parte, estão as técnicas para introduzir, desenvolver e concluir o texto. Daí vem a técnica de organizar os parágrafos. Em seguida, lidamos com a coesão, ou seja, dizer coisa com coisa: as palavras devem conversar umas com as outras e o mesmo se aplica aos parágrafos;, explica Dad Squarisi.

Normas ortográficas e gramaticais dão sustento à outra publicação, Superdicas de ortografia. ;O livro é escrito com muito bom humor, fiz com muita graça, usando mitologia, fábula e histórias. Não é puramente didático, é de leitura agradável;, avalia Dad. Nascido como guia para desmitificar o Novo Acordo Ortográfico, o livro teve propósito alargado por sugestão da professora. ;A reforma é muito tímida, então propus que fossem apresentadas soluções para ;calos da língua;, como o emprego dos porquês, o uso de termos como ;a fim; ou ;afim e; e escolha do ;x; ou do ;ch;;, finaliza.

Dad Squarisi comenta os seus livros "Superdicas de Ortografia" e "Redação para concursos e vestibulares"


NOITE DE AUTÓGRAFOS
Hoje, às 19h, lançamento de seis livros escritos por Conceição Freitas, Márcio Cotrim, Dad Squarisi e Célia Curto, no Espaço Chatô (SIG, Q. 2, sede do Correio Braziliense).

Sustos bons para o leitor
Com 17 livros publicados, o escritor Márcio Cotrim, funcionário há 18 anos do Correio, aproveita a dobradinha de livros a serem lançados, Iscas de ambrosia ; 1.240 frases saborosamente bem-humoradas e O pulo do gato 3 ; O berço de palavras e expressões populares, para ;dar sustos bons nos leitores, que ouvem, gravam e disseminam; as breves pesquisas dele, sempre relacionadas às origens de palavras ou ao garimpar de pérolas literárias.

;Não há método: vale é o sabor da espontaneidade na composição de obras como essas;, sublinha o autor de artigos, que assina ainda a coluna dominical O Berço da Palavra. Consultas em enciclopédias e livros de etimologia, além da coleta de depoimentos pessoais confiáveis, fazem parte do cotidiano do jornalista carioca que, incomodado pela proliferação das frases de autoajuda, busca reproduzir o ;humor nu e cru, da melhor qualidade;.

;Tenho uma demanda de leitores muito grande. O leitor pergunta, explica e até discute, numa relação em que ele sempre ganha;, conta o autor. Diretor-executivo da Fundação Assis Chateaubriand, há 12 anos, Cotrim vê nas atividades culturais e educacionais motivo de entusiasmo: ;A graça vem da surpresa do leitor;, aponta. ;Assunto inesgotável;, a análise da origens e palavras, impressas em O pulo do gato 3, se junta a novo filão: a coletânea de citações, em Iscas de ambrosia. A publicação traz tiradas, entre outros, de Millôr Fernandes, Eça de Queiróz.

Ouça entrevista com o colunista Márcio Cotrim, sobre o livro "O pulo do gato 3"