No palco do Teatro de Sobradinho, a religião tem presença garantida. Lá, sempre que pode, são realizados encontros a serviço de vários credos. "Como quase não temos verbas, essas comunidades religiosas acabam sendo grandes parceiras ao alugar o teatro", justifica Pereira Ramos, há oito meses administrador do espaço. Mas a situação já esteve pior. "Teve uma época em que o lugar estava tão abandonado que os mendigos tomaram conta do pedaço, chegaram até quebrar algumas coisas", lamenta.
Os recursos são poucos. "Grande parte das crianças que participa dessas atividades contribui com alguma coisa", comenta Cristina Barboza, professora de artes cênicas e visuais do teatro. "Mas quem não tiver condições de contribuir participa dos eventos do mesmo jeito", garante o administrador Pereira Ramos.
Outro problema é a falta de manutenção. Sem passar por nenhuma reforma desde sua criação, a sala sofre com a precariedade de equipamentos essenciais para o funcionamento de um espaço cultural. Os 300 assentos precisam de uma nova cara. "Os aparelhos de iluminação e som estão bastante deteriorados", lamenta Ramos, que participa de um tímido movimento de revitalização do Teatro de Sobradinho(1). "A gente se vira com ajuda de parceiros. A única coisa que pedimos é mais recursos para o teatro", pede.
A Administração da Regional de Ensino de Sobradinho contesta as críticas. Embora admita que os recursos destinados à manutenção do lugar seja insuficiente, vê exageros quanto ao estado crítico do lugar. "A Regional de Ensino tem uma verba e na medida do possível a gente vai mantendo. Não é uma verba generosa, mas o próprio espaço consegue se manter revertendo o que arrecada com os eventos em benefícios", rebate a assistente pedagógica da Regional de Ensino de Sobradinho, Ana Maria Araújo. "Talvez uma reforma geral, numa proporção maior, a secretaria não tenha condições de fazer. Mas o espaço está adequado para as atividades", garante.
Ocioso
A polêmica motivou o deputado distrital Raad Massouh (DEM) a entrar, em junho deste ano, em contato com o gabinete da Secretaria de Educação, solicitando a devolução do espaço à Secretaria de Cultura. Segundo ele, o lugar se encontra ocioso e deveria ser usado de forma mais eficaz. Opinião compartilhada em peso pela classe artística de Sobradinho. "Hoje, se a gente quiser apresentar um espetáculo lá tem que levar o equipamento de iluminação e som. Caso contrário, não se apresenta", lamenta a diretora de peças infantis Raquel Lima. "Acho que a Secretaria de Cultura administraria melhor o teatro, porque o espaço exige recursos maiores. A Secretaria de Educação não tem verba nem para as escolas?", ironiza a artista, que em 1988 encenou no palco do teatro a peça Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado.
Diretora do grupo de teatro Unidade Teatral Intensiva (U.T.I.), desde 2004 na ativa em Sobradinho, Vanessa Di Farias roga por tratamento de choque na programação do local. A medida beneficiaria a cena artística da cidade. "O espaço é bacana, é um privilégio dos artistas e da comunidade ter um teatro como esse. Mas precisa ser melhor aproveitado, utilizado para o fim que realmente foi criado", reclama. "Não vejo uma programação cultural regular. Hoje, infelizmente, ele é ocupado por muitos eventos esportivos e religiosos"
1 - Temporadas populares
O Teatro de Sobradinho foi criado em 1985 com verba dos governos local e federal. Na época, o espaço era vinculado às duas pastas, unidas nas secretarias de Educação e Cultura. Entre 1995 e 1999, o lugar foi agraciado com o projeto Temporadas Populares, com ingressos vendidos a R$ 3. Companhias teatrais do Rio de Janeiro também marcaram presença. O local serviu de palco para as primeiras apresentações na cidade da Cia. Os Melhores do Mundo.
O número
300
Total de cadeiras oferecidas pelo teatro
Ouça entrevista com a assistente pedagógica da Regional de Ensino de Sobradinho, Ana Maria Araújo.