postado em 07/08/2009 08:42
Do outro lado da linha, Jajá Cardoso, vocalista e guitarrista da banda baiana Vivendo do Ócio, atende o telefone com a voz ainda sonolenta. A entrevista estava marcada para as 11h, mas, ele justifica, a noite anterior foi de festa. Fosse diferente, alguém poderia questionar a inspiração das letras do grupo %u2014 linhas sobre farras, porres, amores mal resolvidos e outras casualidades geralmente notívagas. E, claro, o fato de eles terem passado esta semana no Rio de Janeiro %u2014 para uma série de participações em programas de rádio e um par de shows %u2014 também ajuda a explicar o clima de celebração.
Isso, no entanto, não impediu o músico de 23 anos de repassar com detalhes a breve história do Vivendo do Ócio. Jajá e o baixista Luca Bori começaram a compor despretensiosamente em 2006, após o encerramento das atividades da banda anterior dos dois. "Depois do colégio, a gente ficou meio que sem fazer muita coisa, sem trabalho. Daí o nome da banda", conta o vocalista. A parceria funcionou e logo eles formaram um power trio (com o baterista Mamede Musser, que os deixou no ano seguinte, quando saiu de Salvador). "Com o tempo, achamos legal colocar mais uma guitarra e convidamos o Davide, irmão do Luca", relata. Diego Reis assumiu as baquetas e a formação tem sido a mesma desde 2007.
Os quatro se apresentaram em todos os lugares possíveis da capital baiana. "Salvador não tem muita opção pro rock. Então não recusávamos nenhum convite para show. Logo, a galera já estava cantando nossas músicas, começaram a sair notas sobre a gente nos jornais", lembra Jajá. Como candidatos do programa de tevê Gas Sound (uma competição de bandas cujo prêmio era a gravação e o lançamento de um CD), foram galgando posições até a grande final. "Outras bandas tinham um estilo mais em evidência na mídia. Até o resultado, foi um 'seja o que deus quiser'", avalia.
Nem sempre tão normal, o disco, foi produzido por Rafael Ramos (Pitty, Cachorro Grande, Dead Fish). Jajá cita Strokes, Killers, Bloc Party, Los Hermanos, Beatles e Stones como algumas das referências sonoras do quarteto. Os britânicos do Arctic Monkeys também vêm à mente em várias músicas. "É uma banda que a gente gosta, ser associado a eles é um elogio. Mas acho que as pessoas dizem isso porque eles estão em evidência."
O guitarrista não precisa se incomodar com as comparações %u2014 inevitáveis, aliás. As guitarras são rápidas, os solos curtos e repetitivos e, assim como Alex Turner, Jajá versa com facilidade sobre relacionamentos complicados ("Eu te dou meu coração como resgate e assim ficamos em empate") e os excessos da noite anterior ("Esqueça, foi ruim, já passou! Eu estava bêbado, louco, chapado, acabou"). Se, por vezes, o Vivendo do Ócio se aproxima demais das influências, traduz à sua maneira os sons de que a banda gosta. Pode não ser muito original, mas tem personalidade.
VIVENDO DO ÓCIO
Conheça a banda de Salvador no www.myspace.com/ vivendodoocio. O CD de estreia, produzido por Rafael Ramos, está sendo lançado pela Deckdisc. Preço médio: R$ 25.
Tocar em festivais ainda é obrigatório para os independentes?
É praticamente essencial. A banda independente ainda não consegue alcançar muito longe, infelizmente. Nossa banda tem sete anos, só agora estamos conseguindo aparecer. A estrutura de um festival junta grupos conhecidos e desconhecidos, e isso é interessante. Brasília tem bons festivais, o problema é que a cena ainda é muito fechada. Para entrar no esquema, não adianta ter só talento. Tem que ter indicação. Mas damos um jeito de nos infiltrar.
Eder, vocalista e guitarrista do Gonorants. A banda é uma das atrações do Festival Overmeeting 2009, amanhã e domingo, na Ermida Dom Bosco (Lago Sul), a partir das 14h. No total, serão 10 grupos. Entrada franca. Não recomendado para menores de 12 anos.