Por Fernanda Takai
Depois de muito tempo sem férias oficiais, resolvi sair por 10 dias da rotina de trabalho. Faz mais de ano que tinha prometido levar minha filha pra conhecer a neve. Toda vez algum compromisso me fazia adiar a viagem. No começo do mês de julho, estava com tudo confirmado para uma temporada na Argentina. Como a maioria absoluta dos brasileiros que iam pra lá, também cancelei por causa da gripe do porco.
Conversando com minha agente de viagens que também é uma amiga de juventude, vi que uma opção para manter minha promessa e ir pra neve no Hemisfério Sul era... a Nova Zelândia! Seria um tanto longe, mas pra quem já foi ao Japão algumas vezes, nada mais parece tão distante assim.
Rapidamente mudamos tudo. Passagens, hotéis, aluguel de carro. Tudo certo.
Aí é que fui me dar conta de que estava indo visitar um país que nem cogitava anteriormente. Muitas vezes temos em mente aqueles roteiros dos sonhos que são bem previsíveis: Europa, Estados Unidos, praias paradisíacas brasileiras, enquanto existe o resto do mundo todo e mesmo recantos do nosso país nos reservando surpresas e lugares insólitos.
Quando tive a oportunidade de fazer intercâmbio uma vez em Tucson, Arizona - que antes eu só conhecia por causa da música Get back dos Beatles - nem cogitava ir pro deserto. Desmilinguir em pleno verão, naquelas temperaturas amenas de 41 graus à sombra. Mas foi um episódio muito importante pra minha vida adulta. E aprendi a gostar de vários seres do deserto, sua arquitetura, comida e a admirar a adaptação humana em climas assim. Sem contar as pessoas do lugar que foram muito afetuosas comigo.
De volta às minhas expectativas em ir pela primeira vez ao Novíssimo Mundo, lembrei-me de que a Nova Zelândia foi cenário de alguns dos filmes mais lindos que eu tinha assistido: O piano, de Jane Campion, A encantadora de baleias, de Niki Caro, e claro, a trilogia de O senhor dos anéis, de Peter Jackson. Paisagens deslumbrantes nos esperavam.
Só fiquei um tanto reticente na hora de decidir dirigir ou não na mão invertida. Como piada, me disseram que era um pouco confuso, mas que quase não havia muitos carros mesmo, ia ser menos difícil... além disso iria alugar o carro apenas em Queenstown, cidade de 12 mil habitantes que fica na Ilha Sul. Depois de ligar o limpador de pára-brisa no lugar de dar a seta muitas vezes, a gente começa a se acostumar um pouco com a direção contrária. Pelo menos os pedais de freio e acelerador não eram trocados. Quem dirige invertido pela primeira vez, se recorda dos tempo de autoescola, toda a insegurança que se sente nos cruzamentos, conversões e paradas. É tudo muito estranho no começo. Depois vai.
Posso dizer que foi um dos países mais interessantes que já visitei. A variedade de geografia, clima, comida e a gentileza das pessoas nos encantou de um jeito mágico. Lá você pode ver montanhas cobertas de neve, florestas tropicais, lagos de águas calmas, fiordes, praticar todo tipo de esporte radical, conhecer a produção de vinhos nas inúmeras propriedades ao longo das principais estradas, conhecer mais sobre navegação, cultura maori ou simplesmente descansar nos hotéis que são preparados pra tornar sua vida muito boa.
Claro que chegamos lá um tanto ignorantes quanto à história da Nova Zelândia, mas nada como um turista feliz para aprender e se interessar sobre uma nova cultura. O animal mais importante de lá é o kiwi. Um pássaro de hábitos noturnos, um pouco maior que uma galinha, com penas que parecem pelos, um bico bem comprido e bota um ovo quase do seu próprio tamanho. E são os machos que cuidam do ovão até que nasça o filhote. É uma ave que sofre risco de extinção por predadores ferozes - bichos que parecem uma fuinha - que foram levados pra lá pra controlar uma praga e acabaram se deliciando com os indefesos kiwis.
O rúgbi é o esporte mais popular, a toda hora há jogos transmitidos pela televisão e os uniformes dos All Blacks, a seleção nacional deles, é vendido em todos os lugares. Uma opção boa de presente de viagem.
Há vários passeios pelas trilhas das locações dos filmes, pra quem gosta de longas caminhadas e contato com a natureza. É tudo tão bonito que você acha que a qualquer momento o Frodo vai passar na sua frente sorrindo.
Acho que no fim, nunca fiquei tão feliz por uma viagem ter dado errado pra outro destino inesperado ter acontecido no lugar.