Por José Regino
Dizem que os dias estão ficando mais curtos, as horas passam mais rápidas, se é real não sei. O que sei é que o tempo alivia a saudade e rouba nossas memórias, imagens e lembranças. Tenho algumas lembranças, me esforço para mantê-las e não deixar que o tempo as leve. Uma dessas lembranças foi do tempo em que tive o privilégio de conviver com José André dos Santos, o carismático palhaço Pilombeta, mais conhecido pelo carinhoso apelido de Mestre Zezito, o qual fazia jus pela sua sabedoria e bondade para com quem dividia seus conhecimentos.
Ele se interessou pelas artes quando ainda era um menino pobre que fabricava os próprios brinquedos. Na adolescência, descobriu o circo. Fugiu várias vezes de casa, até convencer os pais de que queria ser artista. Chegou a ter o seu próprio circo.
No picadeiro aprendeu o segredo das artes de ser palhaço, malabarista, mágico e bonequeiro. Quando saiu do circo, passou a viver das apresentações nas ruas e praças. Seus números mais famosos eram: a quebra de um paralelepípedo sobre o peito e a passagem de um Jeep sobre ele. Quando a situação apertou, abandonou as artes e passou a exercer a profissão de funileiro, arrumando panelas nas periferias de Juazeiro, oficio que desempenhou utilizando as técnicas que tinha aprendido na confecção de aparelhos de mágicas.
Quando o seu caminho cruzou com a Companhia Carroça de Mamulengos, o Mestre retomou sua antiga profissão de artista. Juntos, fundaram a União dos Artistas do Povo, que tem como missão unir artistas populares de várias linguagens para juntos lutarem por melhores condições de vida. Em Brasília, fundou a Escola Circo Boneco e Riso.
Arrisco a dizer que as últimas gerações de artistas que trabalham como palhaço na cidade de Brasília, a maioria carrega nas suas bagagens referências e influências do Mestre Zezito, se não pela convivência, pela experiência de um dia ter visto ele em cena e podido apreciar a incrível naturalidade e desenvoltura com que ele trazia à cena o seu inesquecível Palhaço Pilombeta.
Mais uma vez digo BRAVO! E, agradeço pelo privilégio de ter convivido e usufruído dos conhecimentos desse inigualável mestre do picadeiro e da cultura popular.
* José Regino é o criador do palhaço Zambelê e mestre em artes pela Universidade de Brasília. Autor da Pesquisa Sobre Mestre Zezito ; Uma análise dos procedimentos cômicos utilizados por ele, Bolsa FUNARTE de pesquisa em artes 2009.