A felicidade não se compra. Além de ser título de filme de Frank Capra, a máxima parece ter sido absorvida por Walcyr Carrasco, autor de
Caras e bocas, a atual novela das sete da Globo, e por Duca Rachid e Thelma Guedes, autoras da próxima das seis da mesma emissora, que por enquanto tem título provisório de
Pelo avesso. Coincidentemente, as duas tramas tratam de pessoas que usufruíram de todo conforto e bem estar que o dinheiro oferece, mas vão ter que descobrir outros valores depois de experimentar a vida de pobre.
A vida da elegante Dafne (Flávia Alessandra) e da filha Bianca (Isabelle Drummond) rola ladeira abaixo desde a suposta morte do avô, Jacques (Ary Fontoura), que agora retorna, vivinho da silva e sem nenhuma disposição de passar a mão na cabeça da neta. Tanto que a única coisa que oferece a ela é um teto para morar, oferta nobremente recusada pela agora cozinheira de boteco. Dafne prefere seguir ralando ao lado de Gabriel (Malvino Salvador) na lanchonete do amado - no que é seguida pela filha, habitualmente arrogante e obcecada por riqueza. Está descobrindo que até é divertido ser pobre quando se está com quem ama.
Em
Pelo avesso, quem vai passar por algo parecido é o personagem de Marcos Palmeira. Gustavo nasceu pobre, mas depois sobe na vida e se torna poderoso empresário, adquirindo uma arrogância que só vai desaparecer depois que ele perder tudo e começar a passar por dificuldades. Vai contar com ajuda da faxineira Rose (Camila Pitanga), mulher de fibra que cria sozinha os quatro filhos. "Pensamos no Buda. Ele vivia enclausurado num palácio. Seu mundo cai quando ele toma conhecimento da realidade e descobre que existe doença, miséria e dor", analisa Thelma. "Não dá mais para continuar num mundinho tão individualista", sentencia Duca.
Realmente, individualismo é a palavra que rege o comportamento de 99,99% da população do planeta atualmente. Consumismo seria a segunda. Estabilidade - conseguida por meio do dinheiro, diga-se -, poderia ser a terceira. Continuar a lista não nos levaria a conclusões animadoras. Por isso, é curioso que as novelas estejam mexendo, mesmo que de forma burlesca e despretensiosa, em tema tão urgente, que é a revisão de valores. Sabe-se que elas (as novelas) espelham e ditam comportamentos. Mas como imaginar que tais mensagens surtam efeito se são alternadas com blocos comerciais que pregam um discurso em sentindo diametralmente oposto?