C.J. Ramone é um punk rocker à moda antiga. Para ele, o punk é muito mais que música e vestimenta - é atitude. Baixista dos últimos anos de carreira dos Ramones (entre 1989 e 1996), ele entrou para a banda quando Dee Dee Ramone pediu as contas. Christopher John Ward trocou o uniforme de fuzileiro naval pelo jeans surrado e a jaqueta de couro aos 24 anos. Desde então, a música tem sido sua principal ocupação. Com o fim da banda, ele formou o Los Gusanos, grupo com sonoridade mais voltada para o hard rock. Apaixonado por motocicletas, o músico batizou sua atual banda de Bad Chopper. E mais uma vez, C.J. veio ao país (ele se apresenta hoje em Brasília, no Arena Futebol Clube) para prestar tributo aos Ramones, no ano que a banda formada Joey (vocal), Johnny (guitarra), Dee Dee (baixo) e Tommy (bateria, depois substituído por Marky) completaria 35 anos de formação. Oportunismo? Talvez. Mas, para ele, é preciso ter certeza de que a música da banda nunca morrerá. Em entrevista ao
Correio, ele discorreu sobre sua relação com os antigos companheiros de banda, sobre punk rock e seus próximos projetos.
O fim dos Ramones
"Como fã, foi um momento muito triste. Eu queria que os Ramones pudessem continuar para sempre. Como integrante, eu estava feliz por Johnny e Joey. Àquela altura, eles estavam em turnê por 22 anos e prontos para se aposentar. Joey, especialmente, estava muito cansado. Ele já estava doente naquele momento. Da minha parte, eu estava pronto para seguir em frente. Há um ano, planejávamos a aposentadoria. Então, mesmo estando triste de ver o fim, eu estava disposto a seguir em frente."
Legado
"Para mim, não é um fardo ser um ex-Ramone. Tenho orgulho de ter participado dos sete últimos anos da maior banda de punk rock de todos os tempos. Não penso sobre o que as pessoas esperam de mim. Espero mais de mim do que qualquer um poderia. É por isso que eu quero cair na estrada e manter o espírito dos Ramones vivo."
Joey, Johnny e Marky
"Joey era meu amigo e irmão. Sempre tivemos ótimas conversas sobre tudo, de música a política, vida em geral. Costumávamos ir a shows juntos quando não estávamos em turnê e eu sempre tomei conta dele. Quando entrei na banda, eu ia ao apartamento de Joey e lhe apresentava as novas bandas que estava ouvindo e ele tocava para mim todas aquelas ótimas bandas antigas. Ele era uma cara especial e eu o amava muito. Johnny era meu professor e mentor. Eu nem sempre concordava ou mesmo gostava do que ele dizia, mas olhando para trás agora, ele me ensinou mais do que qualquer um, depois do meu pai. Desde a aposentadoria dos Ramones, muitas pessoas disseram um monte de coisas negativas sobre ele. Muitos deles nunca diriam na cara dele o que disseram depois de ele morrer. Johnny ria do que ouvia as pessoas dizerem sobre ele e se divertia com o fato de que falavam tanto dele. Para mim, ele fez as coisas à sua maneira e não se importava com o que as pessoas pensavam. Isso era punk. Marky era o cara que fazia a estrada suportável. Ele estava constantemente fazendo piadas e mantendo todos rindo. Em alguns dias teria sido muito difícil não desistir se Marky não estivesse lá para melhorar o clima."
Punk rock
"Punk rock pode ser resumido em duas palavras: f***-se! Não me importo com o que você pensa ou quem você é. Não sei se isso ainda existe porque todos estão ocupados demais sendo espertos e vivendo o sonho de tentar aumentar seu lucros tocando música boazinha. Venderam para todos nós a ideia de que se você não é rico ou não está tentando ficar rico, você não é esperto. Punk costumava ser sobre soltar a raiva e a frustração em nós. Agora é sobre sites, mercadorias e o modelo correto de negócios. Não estou dizendo que você deva tocar de graça e viver nas ruas, mas tocar punk rock é mais que fazer dinheiro."
As melhores
"Não conheço nenhuma das "novas" bandas punk. As melhores são The Damned, The Clash e Sex Pistols."
América do Sul
"Tem algo na cultura de todos os países da América do Sul que faz as pessoas serem fanáticas pelas coisas que amam. Seja futebol ou punk rock, as demonstrações dos fãs são sempre extremamente passionais. Olhando o público do palco de um show dos Ramones, o gargarejo parecia o oceano durante uma tempestade: revolto, violento e belo."
Futuro
"Lancei um CD intitulado
Bad Chopper em 2007 e gravarei um CD solo no fim do ano. Também vou lançar um livro sobre meus anos com os Ramones em 2010."
Conselho para a molecada
"Toque o que você sente. Se você for bom, as pessoas vão perceber."
Cover dos Ramones
"Precisamos ter certeza de que a música dos Ramones nunca morra. É a semente que deu origem a muitas coisas diferentes, é a eterna voz da juventude. Raivosa, frustrada, confusa, mas sempre procurando se divertir"
Memória
Hey! Ho! Let?s go!
Os Ramones surgiram em 1974, no bairro do Queens, em Nova York. Quatro jovens entediados e de saco cheio do rock vigente na época (pomposo, grandioso, cheio de solos intermináveis), montaram uma banda mesmo sem dominar seus respectivos instrumentos. Se lhes faltava técnica, sobrava entusiasmo. Adotaram como nome de guerra o sobrenome que Paul McCartney usava em hotéis no começo da carreira dos Beatles, Paul Ramon. Influenciados pela surf music, pelos girls grops, pelas bandas da invasão britânica e pelo rock de garagem dos anos 1960, os amigos Joey (vocal), Johnny (guitarra), Dee Dee (baixo) e Tommy (bateria) criaram um som rápido, cru e personalíssimo. Nas letras, cultura pop, sátira social e bom humor se misturavam. Em pouco tempo, os pioneiros do punk rock saíram do CBGB, onde fizeram os primeiros shows, para turnês pelo mundo. No meio do caminho, influenciaram milhares de jovens e plantaram a semente para uma série de novas sonoridades. Divisora de águas na história da música pop, a banda se desfez em 1996. Joey (Jeffrey Ross Hyman) morreu de linfoma em 2001; Dee Dee (Douglas Colvin), de overdose de heroína, em 2002; e Johnny (John William Cummings), de câncer de próstata, em 2004. (PB)