Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Livro de fotógrafo mostra o tempo de inocência dos Stones

Em 1965, os Rolling Stones apenas sonhavam em ser a maior banda de rock do mundo. Mas a popularidade crescia a cada disco. Fora do Reino Unido, vê-los ao vivo era uma novidade e os shows pelo mundo foram marcados por muita histeria e tumulto. Quem não conseguia entrar nos ginásios ou auditórios causava confusão do lado de fora. Lá dentro, policiais posicionados entre o palco e a plateia tentavam manter a ordem (e a segurança dos músicos). Foi numa dessas viagens que o caminho da banda cruzou com o do fotógrafo dinamarquês Bent Rej(1).

Fotos de Bent Rej. Prefácio e comentário de Bill Wyman. Textos de Richard Ravers. 320 páginas. Editora Larousse do Brasil. R$ 180." />Assim que pousaram na Dinamarca (começariam por lá sua primeira turnê europeia), em 25 de março de 1965, Mick Jagger, Keith Richards, Bill Wyman, Brian Jones(2) e Charlie Watts foram conduzidos ao Royal Hotel de Copenhague para uma coletiva com 33 jornalistas e 101 fotógrafos. Bent era um deles. ;Identifiquei os dois palhaços da banda ; Charlie e Brian ; e estabeleci sintonia com eles na hora;, conta o fotógrafo, fazendo referência ao baterista e ao guitarrista do grupo. Amigo dos produtores dos shows dos Stones na Dinamarca, Bent foi apresentado ao grupo e logo surgiu uma amizade entre eles. ;Percebi imediatamente que aqueles cinco sujeitos eram diferentes dos integrantes de outras bandas;, comenta o fotógrafo na introdução do livro Rolling Stones ; O começo.

Publicado originalmente em 2006, o título que este mês chega às livrarias em versão nacional compila uma série de fotos feitas entre 1965 e 1966 (e algumas, posteriormente) com os integrantes da banda em diversas situações: no palco e fora dele, em coletivas de imprensa, fazendo turismo, fazendo graça, e até na intimidade do lar. Essa proximidade, aliás, permitiu que Bent Rej fizesse não só retratos dos cinco integrantes dos Rolling Stones, mas traçasse um perfil que apenas alguém próximo da banda conseguiria. O fotógrafo chegou a hospedar Brian Jones em sua casa em Copenhague após a turnê pela Europa. Em retribuição, o guitarrista lhe deu uma cópia da chave de seu apartamento em Londres, para que ele e a mulher entrassem quando quisessem. Mas a amizade de Bent e Brian azedaria em 1966, quando a relação do músico com drogas se intensificou ; a maioria das festinhas até então, conta o fotógrafo, eram aditivadas por uísque e Cola-Cola.

As lentes de Bent Rej capturaram os Stones ainda ;inocentes;. Longe dos holofotes, eles eram, no geral, bons moços ; apesar da fama de bad boys que lhes perseguia. No livro, esse perfil é mais bem representado pelas série de fotos nas residências dos membros das banda. Elas revelam o lado mais caseiro de cada um deles. Charlie Watts e o baixista Bill Wyman, por exemplo, viviam com mulher e filhos. Tais cliques descontraídos contrastam com as fotos dos shows: uma banda carismática e autêntica (e de latente apelo sexual) diante de jovens enlouquecidos.

A edição da Larousse só não é impecável por alguns pequenos erros de digitação, tradução e revisão. Rolling Stones ; O começo tem um preço salgado, mas o papel é especial, a impressão de primeiríssima qualidade e as fotos de Bent Rej fazem valer cada centavo.

; Nas estantes

A discografia dos Rolling Stones é facilmente encontrada nas lojas brasileiras. Porém, até recentemente, apenas parte dela estava disponível em versão com remasterizada (com o áudio tratado digitalmente a partir das fitas originais, o que garante um som de melhor definição). Neste mês, chegam ao mercado os discos Sticky fingers (1971), Goats head soup (1973) e Black and blue (1976) ; o primeiro, dos sucessos Brown sugar e Wild horses; o segundo, contém o hit Angie; e o terceiro, o baladão Fool to cry.

1 - BENT REJ
Bent Rej nasceu em 1940 na Dinamarca e começou a trabalhar como fotógrafo para um dos principais jornais de seu país no início da década de 1960. Em 1965, passou a fotografar músicos de rock e música pop. Nesse período, teve início sua amizade com os Rolling Stones. Desde então, Bent ganhou renome internacional, tendo trabalhado com moda e publicidade. Atualmente, divide seu tempo entre Inglaterra, França e Dinamarca.

2 - BRIAN JONES
Lewis Brian Hopkin Jones nasceu em Cheltenham, Inglaterra, em 1940. Ainda na infância começou a se interessar por música. Fundador dos Rolling Stones, foi ele quem, em 1963, convidou Mick Jagger e Keith Richards para formar a banda. A cabeleira dourada e as roupas estilosas (sempre diferentes das dos músicos do grupo) colocaram o multi-instrumentista em uma posição de destaque. Mas a parceria criativa de Jagger e Richards eclipsou sua liderança. Os primeiros sinais de conflito interno começaram a aparecer em 1965. O uso desregrado de drogas a partir do ano seguinte desgastou ainda mais a relação entre ele e a banda. Em junho de 1969, ele deixa os Stones. Em 3 de julho do mesmo ano, é encontrado morto na piscina de casa ; aparentemente, ele estava sob o efeito de barbitúricos.