O português António Lobo Antunes declarou seu amor pelos livros e desabafou as angústias de um escritor, emocionando o público que acompanhava o palco principal da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (RJ) na noite de sábado (4/7). Ele deixou de lado o caráter reservado atribuído ao seu comportamento, evocou suas raízes brasileiras e explicou porque já pensa em parar de escrever.
"Há alturas que você fica desesperado, que você pensa que não vai mais ser capaz, que o livro não presta, que vai deixar de escrever. Ao mesmo tempo, é a sua alegria, é a sua razão de viver. Você não consegue viver sem escrever. Você não concebe a vida sem escrever", afirmou, na conversa com o jornalista Humberto Werneck.
Lobo Antunes é autor de 21 romances. Entre eles, o premiado O Meu Nome é Legião, sobre jovens da periferia de Lisboa. Na estreia, Memória de Elefante, com relatos de sua experiência no exército português durante a guerra em Angola.
À vontade na mesa literária Escrever é Preciso, ele disse que tem medo da escrita, que a considera "difícil", e que escreve um livro para corrigir o anterior. "Ficamos sempre aquém do que gostaríamos. É a frustração de quem trabalha com as palavras".
Em sua fala, Antunes sempre voltava à paixão pelas palavras. "O livro é como uma almofada que você faz para colocar a cabeça antes de morrer".
Para ele, João Cabral de Melo Neto é o maior poeta do século 20, mas a poesia de Fernando Pessoa não está entre as suas preferidas. E aconselhou: "Se alguém quer ser escritor tem que ver dez minutos de Mané Garrincha jogando bola. Não sai do corpo, sai da alma. Didi seria a cabeça e Garrincha, a mão. É a mão que escreve, mas a cabeça é que vigia".
Com fama de recluso, Antunes não vinha ao Brasil desde 1983, mas disse que não precisa estar aqui para senti-lo. "O Brasil é compostos por seus cheiros e sabores. E isso está sempre comigo".