Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Exposição propõe reflexões sobre a integração do homem com o meio ambiente

poeta. "Ele era um ávido crítico do racionalismo na arquitetura e entendia que o homem pode interagir com seu espaço fazendo a transmutação orgânica e trazendo a natureza para o concreto", conta Simões. "Hundertwasser já falava em desenvolvimento sustentável nos anos 1970, antes de todo mundo." A arquitetura do austríaco nascido em 1928 e morto em 2000 era o oposto da proposta pelo suíço Le Corbusier, que ocupa a galeria ao lado. Enquanto o último defendia a ideia de uma lei para proibir o ângulo reto, Hundertwasser desprezava a linha reta. Só aceitava sua existência se fosse traçada à mão livre, sem réguas. A primeira galeria traz fotografias de projetos executados na Áustria, Japão e Alemanha. Os prédios têm dezenas de janelas adornadas. De muitos saem árvores e plantas que parecem tão à vontade quanto os inquilinos. O arquiteto cultivava a ideia da árvore locatária, hóspede da construção como um habitante qualquer. "O homem não pode ser inquilino? Por que a árvore não? Hundertwasser andava por Viena com uma arvorezinha debaixo do braço", conta o curador. Ecologicamente correto A mesma sala abriga dois conjuntos de cartazes realizados para campanhas institucionais ecologicamente corretas ou simplesmente dentro da perspectiva de um artista militante ambiental. Mensagens como "salvem as baleias", "salvem os mares", "utilizem o transporte público", "cuidem de suas cidades" estampavam os cartazes. O colorido quente, a sobreposição caótica e espontânea das figuras e, às vezes, pequenas inserções de brilhos revelam o diálogo intenso do artista com o movimento de art nouveau austríaco, do qual o maior expoente foi Gustav Klimt. Também é possível reconhecer a arquitetura de Hundertwasse na maneira como organiza e colore os cartazes. A segunda sala apresenta reproduções de litografias e selos criados em diversas épocas para as Nações Unidas, nos quais o artista apresenta um sensível leque de qualidades e símbolos que representam os mais profundos anseios humanitários. A janela abre o olhar para o mundo, a criação salva o homem, o sonho o conduz e a natureza o abriga. Com tais ideias, Hundertwasser constrói a narrativa dos trabalhos. Mas Simão não queria apenas montar a exposição e ir embora. Para que as reflexões do arquiteto se completassem era preciso estabelecer uma ligação com o local e o curador criou uma série de atividades. Reuniu um grupo de jovens de São Sebastião para intervir na maquete do Centro Administrativo da cidade de acordo com a noção de transmutação de Hundertwasser e os versos de Os estatutos do homem. Com a Secretaria de Patrimônio, quer instituir o projeto da árvore locatária em casas de voluntários que morem no Plano Piloto. OLHARES SOBRE A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E O MEIO AMBIENTE - HUNDERTWASSER E MELLO Exposição com obras de Friedrich Hundertwasser e curadoria de José Carlos Simões. Visitação até 19 de julho, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (SBS Qd. 4).