E a euforia não tem necessariamente a ver com a data de hoje, dia de são-joão. O ano todo, semanalmente, a cada quinta-feira, média de 500 pessoas, a maioria entre 20 e 30 anos, comparece ao Arena do Forró. Muitos repetem a dose no dia seguinte, no Forró Ispilicute, do Clube Cota Mil. Mas quando inaugurou o projeto do Arena, o produtor Gilson Mendes, 43 anos, não imaginava que estava dando início a um fenômeno curioso: o apaixonado culto de jovens brasilienses de classe média ao forró pé-de-serra, como é chamada a tradicional música nordestina que tem na base sanfona, triângulo e zabumba. Favor não confundir com ;forró universitário;. Os forrozeiros fervorosos agradecem.
No entanto, o culto não se limita aos encontros semanais. Procurar raridades do gênero em velhos discos de vinil e tomar excursão de ônibus para participar de festivais de forró em cidades como Itaúnas (ES), São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte é comum para esse público. ;São pessoas esclarecidas que percebem que o que se ouve por aí é comercial e sentem necessidade de resgatar as raízes, o original;, define a jornalista Adriana Caitano, 23 anos, forrozeira assumida.
O interesse de Adriana pelo forró começou assim: entusiasmada com as aulas de dança na hora do almoço, na UnB, onde estudava jornalismo, resolveu ir sozinha em uma excursão para o Festival de Forró de Itaúnas, no litoral do Espírito Santo. No ônibus, ouviu pela primeira vez a música da paraibana Marinês. ;Era um disco antigo, com aquele chiado de vinil, e todo mundo vibrava, mas estranhei. Forró para mim era Falamansa, Forroçacana. Depois é que entendi que aquelas pessoas tinham interesse em toda uma cultura. A maioria começa a se interessar por meio da dança, mas depois descobre que o forró é algo maior.;
O contato despertou o interesse na então estudante em entender melhor aquela paixão. E assim o assunto virou tema de seu projeto de fim de curso, o videodocumentário Por amor ao forró. Feito no ano passado em parceria com o colega de turma Galton Sé, 24 anos, o filme de 25 minutos viaja dos forrós brasilienses a Itaúnas para mostrar essa tribo que conhece de cor letras de forrós de artistas como Trio Nordestino, 3 do Nordeste, Marinês e sua Gente, Zinho, Edson Duarte e, claro, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, além de saber separar joio e trigo no assunto. ;Se eu trouxer um grupo ruim, só para preencher a programação ou ganhar dinheiro, vou ouvir muita reclamação;, diz Gilson, explicando o nível de exigência dos forrozeiros.
Na verdade, a paixão de jovens pelo forró pé-de-serra não se restringe a Brasília, se espalha por Centro-Oeste e Sudeste, fazendo com que uma rede de contatos se estabeleça a partir dos encontros nos festivais. ;Hoje tenho amigos no Rio, em São Paulo e Belo Horizonte que conheci no forró;, conta Adriana. A amizade também se dá entre público e bandas, grande parte delas radicada em São Paulo, embora Brasília também tenha seus grupos: Forró Lunar, Xote o Mundo, Raízes do Sertão; E se não tem sanfoneiro, cabe ao DJ segurar a animação. É quando entram em cena Leozinho Pé-de-Serra, Lêu, Chico Gorman, Cacai Nunes. Cada um com seu perfil, pode tocar só pé-de-serra ou ser mais flexível. ;Mas pé-de-serra é diferente. A sensação é de estar no Nordeste, no interior;, ressalva Adriana Caitano.
AMANTES DO FORRÓ
Paixão no braço
; O DJ Carlos Caddah, 24 anos, toca de tudo, de acordo com a festa para a qual é contratado, mas a paixão verdadeira ele traz tatuada no antebraço. Lá está escrito ;pé-de-serra;. Carlos chegou ao forró levado pelo irmão, após um término de namoro. Virou paixão. ;Toco house, technohouse, mas o forró é tem mais alegria;, avalia. Além de tocar, é pé-de-valsa; Ou melhor, de forró. Ano passado, ele ganhou um concurso de dança em Ilha Grande (RJ).
Aonde o forró está
; A psicóloga Tatiana Moreira, 26 anos, frequenta os forrós desde 2003. Já foi ao Forró do Magnata, em São Paulo, a um festival em Santana do Parnaíba, ao Forró da Melancia, em Belo Horizonte, e, claro, a Itaúnas. Antes de descobrir o pé-de-serra, curtia ;forró estilizado;, como ela chama o que tocava em lugares que frequentava, como Don Taco e no Café Cancun. Já tem tudo acertado para voltar a Itaúnas este ano.
Ritmo do triângulo
; Eder Rogério, 24 anos, o Rogerinho, estava no Exército quando se apaixonou pelo forró, há seis anos. Largou a carreira militar para viver de música. Toca triângulo na Raízes do Sertão, a banda de Brasília que mais repercute fora daqui. ;O forró me mudou;, assegura. Em julho, a Raízes toca em duas casas de forró de São Paulo: Remelexo e Forró de Celinho. As expectativas também estão voltadas para a Itaúnas. ;Mandamos uma música e vamos ser o único grupo de Brasília no festival;, prevê.
Dicas de forrozeiro
; Os forrós do Arena e Ispilicute são mais fiéis ao pé-de-serra. No Caribeño toca mais forró universitário.
; Mulher que vai ao forró de salto alto demonstra que não tem intimidade com o ritmo. Forrozeira autêntica usa sapato baixo ou sapatilha.
; A galera que fica perto do palco demonstra que é mais ambientada no forró. Os que ficam no fundo do salão ou estão indo pela primeira vez ou são frequentadores eventuais.
; A dança dos forrozeiros do Sudeste e Centro-Oeste é diferente do miudinho dos nordestinos. Geralmente é mais devagar e cheia de volteios.
; As excursões para os festivais são oportunidade de se entrosar com outros forrozeiros. Um pacote para Itaúnas, em julho, custa em média R$ 700.
ONDE DANÇAR
Quarta-feira
; Forró Iscundidin ; Clube do Rocha, Setor de Clubes Sul. Não acontece toda semana. Ingressos a R$ 5 antes das 21h e R$ 10 após as 21h. Universitários com carteira de estudante têm desconto de R$ 5 após as 21h.
Quinta-feira
; Arena do Forró ; Arena Futebol Clube, Setor de Clubes Sul, trecho 3. A partir das 22h. Ingressos a R$ 15 (homem) e R$ 10 (mulher). Homens podem pagar R$ 10 se incluírem nome na lista no site www.arenadoforro.com.br.
Sexta-feira
; Forró Ispilicute ; Clube Cota Mil, Setor de Clubes Sul, trecho 3. Das 20h às 3h. Ingressos: R$ 10 (homem) e R$ 5 (mulher) até 22h. Depois, R$ 15 (homem) e R$ 10 (mulher). Não recomendado para menores de 18 anos.
Domingo
; Forró Sol e Lua ; Caribeño, Setor de Clubes Sul. A partir das 16h. Até 18h, homem paga R$ 10 e mulher, R$ 5. Depois, eles pagam R$ 15; elas, R$ 10. Não recomendado para menores de 18 anos.
Itinerante e sem data
; Forró Discreto, projeto recente que acontece pelo menos uma vez por mês em algum lugar do DF. Já foi a Águas Claras, Lago Oeste e Guará.
FESTIVAIS DE FORRÓ PÉ-DE-SERRA
Festival Nacional de Forró de Itaúnas
Anualmente, durante 10 dias, o evento reúne grupos de forró de várias partes do Brasil, com concurso de grupos e programação com músicos convidados, em Vila de Itaúnas, Conceição da Barra (ES). A próxima edição será de 19 a 26 de julho. www.forrodeitaunas.com
Rio Roots
Em Barra de Guaratiba Rio de Janeiro, uma vez por ano. Quatro dias de forró, com shows a partir das 20h até 7h da manhã. A edição deste ano foi em abril. http://arzeventos.com/rioroots/local.php
Rootstock
Ocorre anualmente em Cabreúva, São Paulo. Durante três, reúne grupos de várias partes do Brasil e abre espaço para que DJs de forró mostrem suas pesquisas. A edição deste ano foi em abril.
Camping Roots
Todos os anos na Fazenda Chaparral, a 2km de Belo Horizonte. Três com apresentações de grupos e de DJs de forró. A próxima edição será em agosto. www.campingroots.com.br
PÉ-DE-SERRA NA INTERNET
http://forropedeserradf.blogspot.com/
http://www.forroemvinil.com/
PÉ-DE-SERRA EM VÍDEO
Por amor ao forró. Videodocumentário de Adriana Caitano e Galton Sé.