O escritor mexicano Mario Bellatin deve surpreender na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, entre os dias 1º e 5 de julho, no litoral fluminense. Primeiro, pela persona que criou para si - filho de pais peruanos, 49 anos e mais de 15 livros editados, Bellatin gosta de parecer um ilusionista, confundindo realidade e ficção. Ele questiona a própria origem (já afirmou, por exemplo, que nasceu no Peru) e cria situações em que a verdade se torna duvidosa (em um congresso em Paris, ele apresentou um jovem como sendo José Agustín Ramírez Gómez, apesar de seus 64 anos ).
E, segundo, por sua literatura seca, breve, pulverizada em pequenas narrativas como as que formam Flores (tradução de Josely Vianna Baptista, 80 páginas) lançado agora pela Cosac Naify e já incensado por parceiros como Marcelino Freire e Joca Reiners Terron. São textos fragmentados em que os personagens são vítimas de deformações congênitas - aqui, uma aproximação com a realidade, pois Bellatin nasceu sem o antebraço direito.
Sem limitar, a deformidade o incentiva a colocar próteses artísticas, como um gancho ou uma flor metálica na extremidade. E, ao lado do artista plástico Aldo Chaparro, planeja peças %u201Cmais funcionais%u201D, ou seja, com um celular ou um iPod acoplado. Sobre o trabalho, gosta de confundir e não de explicar. Já alardeou, por exemplo, que vai escrever a biografia da Frida Kahlo - não a pintora, mas uma cozinheira que vive na Cidade do México, parecida com a artista. Fã de Chico Buarque, Bellatin rascunhou um conto que vai integrar uma coletânea organizada por Ronaldo Bressane, baseada nas canções do músico.
Bellatin é autor de Salão de beleza (2000), Damas chinas (2006) e El gran vidrio (2007), entre outros. Professor de uma escola de escritores no México, ele admite tudo - menos que o candidato a ficcionista inspire-se na própria vida para criar sua história. Um dos mais premiados autores brasileiros dos últimos anos, Cristovão Tezza fez exatamente isso em seu Filho eterno.