Um avô pode ser o melhor amigo, o colo mais carinhoso, a companhia mais divertida, o homem mais sábio do pedaço e, por que não?, ajudar com os netos. Cada vez mais, eles têm função ativa na criação das crianças. ;Antes, o avô não constituía figura tão importante na dinâmica familiar. Em geral, a avó era a ajudante principal nos cuidados da criança pequena, ocupava um lugar relevante;, analisa o psicanalista Alfredo Naffah, professor titular da PUC-SP.
Agora, muitos vovôs cuidam dos netos pequenos enquanto os pais trabalham. Aposentados, eles contam com o tempo que os pais não têm. ;Muitos avôs têm dado (com as avós) suporte material e afetivo aos filhos e têm podido aparecer para os netos como uma figura integrada;, salienta Naffah. Eles fazem jus ao título de ;pai duas vezes;.
Desde que tinha 1 ano, Gustavo Tizzo, 3, fica na casa dos avós. Pai e mãe trabalham o dia todo, então, vô e vó se dividem nos cuidados com o pequeno. Quem costuma frequentar o parque da quadra já conhece Gustavinho e o avô: o aposentado Vasconcelos Tizzo, 67. Há dois anos, eles aparecem ali quase todos os dias. Em casa, a avó arruma o lar e prepara refeições.
Os dois jogam bola, o avô balança o neto bem alto, a criança brinca no escorregador e corre muito. Gustavinho não para, e o avô tem que correr atrás. Haja energia. Seu Vasconcelos aguenta um ritmo que deixa muita gente mais nova sem fôlego. ;É ótimo, porque, em vez de eu ficar ocioso, fico com ele.; Sobre a canseira que o neto lhe provoca, o vovô garante que é boa: ;A gente dorme melhor, porque passou o dia ativo. As doenças somem.;
Antes, Gustavinho ficava todos os dias na casa dos avós. Atualmente, são três vezes por semana, e, no ano que vem, deve entrar na escola e a frequência, diminuir. Seu Vasconcelos já se prepara psicologicamente para a falta que vai sentir.
Para ele, mesmo ficando com o menino tanto tempo, o papel dele é diferente do do pai. E é muito melhor. ;Com filho, a gente tem que educar mais rigorosamente. Com o neto, é tudo mais light e a relação, mais amorosa. E não tem birra. Só com os pais;, garante.
Recuperando o tempo perdido
Quando teve os filhos, o advogado Juarez Ferreira Silva, 62, trabalhava demais e não tinha tanto tempo para ficar com eles. Desde que se aposentou e começou a pegar apenas alguns casos e trabalhar de casa, ele aproveita para passar todo o tempo possível com o neto. ;Foi bom para preencher o vazio da aposentadoria. Eu pude acompanhar o desenvolvimento dele. Foi a chance de fazer o que não pude com os meus meninos;, alegra-se.
Desde que nasceu e a mãe, Juliana Amorim, voltou a trabalhar, Pedro, 9, fica com os avós na casa deles. Mãe e filho moravam lá. O vô levava para tomar vacina, a consultas, ao colégio. Quando fez 6 anos, os pais resolveram se casar e morar juntos. ;Quando eles foram embora, a gente até brincava que eu ia ficar com depressão, mas ele continuou presente. Às vezes, os pais viajam e ele fica aqui;, conta.
Mesmo não morando mais juntos, o vovô Juarez busca Pedro na escola, leva-o às atividades que tem à tarde e consegue passar um tempo de qualidade com o neto. ;A gente joga bola até cansar. As crianças, hoje em dia, não gostam tanto das brincadeiras de quando eu era criança, mas consigo soltar pipa com ele, que é algo que eu fazia.;
A retribuição por todo o cuidado vem em muito carinho, em cartas de amor, na preferência do pequeno por ele. ;Ele é mais ligado a mim do que a qualquer outra pessoa.Ele diz que eu sou o melhor vô do mundo, que se pudesse morava aqui. Outro dia, veio almoçar e deixou uma carta dizendo que me ama;, emociona-se. O único neto de Juarez, para ele, ilumina a casa quando chega. Vovô babão, ele também tem certeza de que tem o melhor neto do mundo.