Jornal Correio Braziliense

Exame Toxicologico

FHC apoia uso de tecnologia para combater consumo de drogas

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC) é conhecido pela luta em prol da descriminalização das drogas


;As novas tecnologias no combate ao uso abusivo de substâncias tóxicas podem ajudar com eficiência a população por meio de parceria entre o Estado e o setor privado;, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Precisamos continuar avançando nesse processo de modernização, o Estado e a sociedade ao mesmo tempo. O que vemos é a implantação de uma política pública baseada nos avanços tecnológicos que asseguram a saúde e a segurança à população", disse.
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Conhecido pelo posicionamento a favor da descriminalização das drogas, FHC justificou o apoio à obrigatoriedade do exame toxicológico para caminhoneiros. Em sua segunda participação na discussão ; a primeira foi no Rio de Janeiro, há pouco mais de seis meses ; ele garantiu que sua atitude não é contraditória, pois é preciso combater e regular de maneira efetiva a questão das drogas no país. ;De lá para cá, os progressos foram significativos. Hoje, os resultados mostram que trata-se de um processo em marcha;, relembrou.

O ex-presidente lembrou que, durante seu mandato, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, insistiu para que o Brasil entrasse na guera contra os cartéis colombianos, o que não era prioridade do Brasil na época. Mesmo assim, ele ajudou a criar uma Comissão Latino-americana para estudar as políticas de drogas. Nesse período, Álvaro Uribe era presidente da Colômbia e, apesar de o país ter uma das legislações mais duras no combate às drogas, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um estudo que mostrava que a oferta de drogas na Colômbia não havia diminuído. A área produzida, sim. ;Os traficantes melhoraram a produtividade e a oferta não caiu. Apesar de matar, prender e desapropriar, o negócio é tão lucrativo que para cada um que morre, vêm dois pra substituir;, explicou FHC.

Sem proibição

Ele acredita que o motivo é o foco equivocado. ;Em vez de combater o uso, estão combatendo a produção. Enquanto houver uso, a regra do mercado impera e o lucro vai ser muito grande. Assim, sempre vai ter quem queira produzir;, justificou. Para ele, deveria ser feito com as drogas o mesmo que ocorreu com o cigarro: regulação, controle e educação. Sem proibição. "Proibir não resolve. A droga no país é livre, na mão do traficante. O acesso é fácil. Não há incoerência em defender políticas diferentes quanto às drogas;, afirmou o ex-presidente.

No entender dele, o exame toxicológico faz parte do processo da luta inteligente contra o uso de drogas. ;O uso de novas tecnologias está mostrando que temos que nos adaptar a essa nova realidade. Por razões de segurança e de saúde pública;, disse Fernando Henrique. ;Não sou incoerente ao pregar uma mudança no enfoque da luta contra as drogas. Temos que entender o problema e buscar a solução que seja desejável para a maioria. Temos que transformar aquilo que é necessário em possível;, concluiu.


"Melhor resultado são as vidas salvas"

O ministro das Cidades, Bruno Araújo, comemorou os resultados positivos de um ano da implementação do teste toxicológico. Contudo, ressaltou a responsabilidade do Estado de tentar descobrir novas ferramentas para aprimorar, cada vez mais, a segurança no trânsito. ;O melhor resultado são as vidas preservadas. É isso que nos leva a buscar novas soluções para preservar vidas no trânsito;, disse. E completou: ;A educação no trânsito não é uma função só do Estado. É também das famílias, das escolas, é uma compreensão coletiva;.
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Araújo afirmou que ;somos um país de muitos contrastes;. Ao mesmo tempo que não temos o nível de saneamento condizente com a posição que ocupamos na economia mundial, somos um país que apura os resultados de uma eleição presidencial em poucas horas. ;E nós somos, em termos de administração pública, um país moderno. Como no exemplo dos exames toxicológicos, o poder público deve incentivar a iniciativa privada a trabalhar em prol das políticas públicas necessárias;, afirmou.

Para o ministro, os números apresentados no balanço de um ano da obrigatoriedade do exame toxicológico são importantíssimos. ;Não são só 14 mil condutores que foram pegos no resultado positivo ao longo desse ano. Os números mais relevantes são os dos que deixaram de renovar suas carteiras. É onde se vê o impacto da tecnologia na segurança do trânsito, no orçamento brasileiro e na saúde pública;, justificou.

O ministro comparou a resistência inicial ao teste toxicológico com a obrigatoriedade de uso do cinto de segurança e a necessidade de trafegar com faróis acesos nas rodovias federais. ;Toda novidade gera uma certa resistência. Mas quando os resultados mostram que as mudanças são importantes para a sociedade, os novos hábitos são incorporados com naturalidade na vida coletiva;, destacou.

Mais que os números que foram divulgados no balanço de um ano de obrigatoriedade do teste toxicológico, Araújo acredita que o motivo de comemoração é a decisão acertada do Estado de usar a nova tecnologia para garantir um trânsito mais seguro.