No acidente, além de Fabrício, morreram duas amigas, Mariana e Juliane, ambas de 18 anos. O motorista do veículo, Marcelo Henrique Negrão Kijak, 14 anos após o crime, segue foragido, procurado pela Interpol no mundo inteiro. Foi uma carona mortal. ;Parece que foi ontem. O mundo desabou aos nossos pés. Não conseguiamos ver qualquer luz no fim do túnel, tampouco um porto seguro. O que nos acalentava era a nossa inabalável fé em Deus. E, mesmo assim, parecia que eu naufragava em um oceano profundo;, lembrou.
Fernando tinha perdido a vontade de viver. Até ser alertado por um médico que lhe perguntou se já havia ouvido falar em morto-vivo. Ele disse que conhecia a expressão. Ao que o especialista completou: ;É quando se morre em vida. Ou o senhor volta a conviver com a vida ou passará a ser um morto-vivo. E tenho certeza de que não era isso que o seu filho ia querer;. Foi quando Fernando passou a procurar outros pais que viviam a mesma experiência dramática que ele: conviver para sempre apenas com a lembrança de seus filhos.
Mas ele buscava por mais iniciativas, acreditava que era necessário desenvolver ações educativas que pudessem mobilizar a sociedade, alertando sobre a dimensão da violência do trânsito e formando uma consciência de prevenção e proteção. Aproximou-se de parlamentares e executivos, sugerindo ações que pudessem minimizar os efeitos caóticos do trânsito. Conseguiu oficializar o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito, apresentou um projeto de penas alternativas, criou um memorial, participou da fundamentação da Lei 11.705/08 (Lei Seca), participou de vários fóruns ao redor do mundo. ;Transformei o meu luto em luta. Andei por muitos lugares, viajei pelo mundo afora sempre levando a mensagem da responsabilidade e respeito com a vida alheia como uma questão de cidadania e civilidade.
Para Fernando, o teste toxicológico ;é a mais importante tecnologia para a diminuição das mortes provocadas por profissionais de veículos pesados;. ;Milhares de inocentes morreram e continuam morrendo devido à ação irresponsável, egoísta e criminosa de quem se drogou, bebeu, desrespeitou a lei, dirigiu, feriu e matou. Não podemos aceitar ter que dividir este espaço com verdadeiros zumbis do asfalto;, concluiu.
Fernando disse que sempre que lia notícias informando a redução do número de acidentes nas rodovias federais, como no último feriado de Páscoa, se comparado ao mesmo período do ano passado, não via motivos para comemorar. ;Com o balanço do primeiro ano de obrigatoriedade do exame toxicológico posso acreditar que, agora sim, podemos celebrar. Essa nova tecnologia salva vidas.;