postado em 18/04/2017 06:00
Cada real investido em saneamento básico gera uma economia de R$ 4 em gastos em saúde, estima a professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Conceição Alves. ;O maior custo de saúde está nos problemas médicos causados pela falta de saneamento básico;, disse ela. ;As doenças acometem com mais intensidade crianças e idosos, o que provoca um maior número de internações.;. Ela alertou que doenças relacionadas à água causam 3,5 milhões de mortes a cada ano na América Latina, na África e na Ásia. Um número superior à soma de mortes por acidentes de carros.
Na ponta do lápis, segundo cálculos do Instituto Trata Brasil, cada R$ 1.000 investidos na ampliação da infraestrutura de saneamento do país resultaria em economia de R$ 1.700 em ações sociais de longo prazo. O caminho é longo: em 20 anos o país precisaria investir R$ 317 bilhões para universalizar o saneamento básico.
A professora destacou que o retorno desse investimento impactaria em diversas frentes, como aumento da produtividade e da renda salarial do trabalhador, redução de gastos públicos com saúde, valorização imobiliária, aumento da receita do turismo e geração de emprego.
Retorno
Segundo ela, para trabalhar a relação entre saneamento, e saúde é preciso observar três frentes: reduzir os riscos, aumentar a resposta e expor o problema. ;No Distrito Federal temos um tratamento eficiente da rede de esgoto, mas existem outros grandes desafios, como engajar a sociedade no problema não somente no momento de crise, mas também na busca por soluções e estratégias públicas.;
A professora ressaltou que é preciso olhar a questão da água de forma ampla, pois existe a visão econômica, com impacto na indústria e no agronegócio; a social, pela qual passa a questão da saúde pública; e ainda o componente ambiental. Outro grande entrave é conscientizar os agentes econômicos. ;Nós sempre falamos em conscientizar o consumo da sociedade, mas o setor agrícola e a indústria também precisam se conscientizar. São feitas campanhas para o consumidor, mas faltam ações nesses outros setores. Se somos nós os consumidores do agronegócio e da indústria, como equilibrar?;, indagou.
Durante sua exposição, a professora perguntou para a platéia quem sabia de onde vinha a água de sua casa. Poucas pessoas responderam. ;A população precisa entender que ela não paga pela água, que é um bem coletivo. Estamos pagando por um serviço que a empresa está oferecendo para fazer a água chegar até a nossa casa com qualidade e um nível de potabilidade. O saneamento é a oferta de água potável, esgotamento sanitário e drenagem;, explicou.
Oferta
Embora rico em disponibilidade hídrica, o Brasil apresenta regiões de grande variação na oferta de água. As grandes disponibilidades estão concentradas no Norte e no Oeste do país, onde a densidade populacional é baixa. Entretanto, as grandes concentrações populacionais estão localizadas no Sudeste e Nordeste, onde grandes cidades e aglomerações urbanas se situam em regiões de estresse hídrico.
Entre 2005 e 2015, a cobertura de água no Brasil subiu de 81,7% para 83,3%, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS). Nesse mesmo período, o avanço em coleta de esgoto foi de 39,5% para 50,3%, ou seja, de 10,8 pontos percentuais em 10 anos. A meta para 2015 a 2035 é subir quase 50 pontos percentuais.
O investimento em infraestrutura é chave para o estímulo de postos de trabalho. Com base em números de 2014 do setor de saneamento, por exemplo, seria possível estimar, considerando o aporte anual de R$ 16 bilhões na expansão dos serviços, a geração de 150 mil postos de trabalho por ano. Na operação desses serviços, viriam outros 130 mil.
Em fevereiro, o Brasil superou 13,5 milhões de desempregados. De 2005 a 2015, o setor de saneamento investiu R$ 9,26 bilhões em média por ano, empregando perto de 142 mil trabalhadores e gerando R$ 11 bilhões para a economia. Nesses mesmos 10 anos, as empresas de água e esgoto em atividade no país mantiveram 340 mil empregos, com geração de R$ 43,8 bilhões em renda para os trabalhadores.
A escassez de recursos põe em risco não só o abastecimento da população, mas também o crescimento econômico. A redução no fornecimento de água acaba levando à queda de 1,4 milhão de postos de trabalho que dependem da água para serem ofertados. ;A falta de água vai limitar o crescimento econômico e a geração de empregos nos próximos anos. Investimentos na manutenção de recursos hídricos são imprescindíveis para garantir o crescimento das economias;, afirmou Conceição Alves.