Correio Braziliense
postado em 13/06/2020 06:00
O uso da máscara facial reduz drasticamente o risco de uma pessoa ser infectada pelo vírus da covid-19, demonstra um grande estudo conduzido por pesquisadores norte-americanos. Para chegar à conclusão, os cientistas testaram, em laboratório, a eficiência do dispositivo de segurança e analisaram dados relacionados ao uso dessa estratégia de proteção em diferentes países. As descobertas foram apresentadas na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
O material permitiu que a equipe estimasse a quantidade de infecções evitadas pelo uso de máscaras. “Analisando as tendências pandêmicas sem cobertura do rosto (…), calculamos que mais de 66 mil infecções foram evitadas pelo uso da máscara facial em pouco mais de um mês na cidade de Nova York”, detalha, em comunicado, Renyi Zhang, professor de ciências atmosféricas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e líder do estudo.
Na Itália, a medida reduziu o número de infecções em mais de 78 mil em pouco mais de um mês: entre 6 de abril e 9 de maio. “Concluímos que usar a máscara facial em público corresponde a um dos meios mais eficazes para impedir a transmissão inter-humana”, ressalta Renyi Zhang. Para o cientista, o fato de os chineses terem o hábito de usar o acessório há muitos anos, em função da poluição atmosférica, pode os ter protegido da pandemia. “A cobertura facial ajudou a China a conter o surto de covid-19”, acredita.
Fala
A equipe também analisou, em testes laboratoriais, formas de disseminação do Sars-CoV-2 e a participação das máscaras nesse processo. “Nossos resultados mostram claramente que a transmissão aérea através de partículas atmosféricas emitidas durante a fala, os aerossóis, representa a rota dominante”, conta o líder do trabalho. “Nosso estudo também estabelece que a máscara é crucial para que as pessoas não infectadas evitem respirar aerossóis que as infectadas emitem ao falar. Essas partículas podem permanecer na atmosfera dezenas de minutos e viajar dezenas de metros”, completa Mario Molina, professor da Universidade da Califórnia e coganhador do Prêmio Nobel de Química de 1995.
O líder do estudo destaca que a máscara é um recurso simples, além de um importante aliado no período da pandemia. A dica é de que seja ela usada com outras medidas que também se mostraram eficazes no combate ao novo coronavírus. “Essa prática barata, em conjunto com o distanciamento social e outros procedimentos, é a oportunidade mais provável de interromper a pandemia da covid-19”, diz Renyi Zhang.
Para o cientista, o estudo emite uma mensagem protetiva clara a autoridades de saúde e pessoas comuns. “Nosso trabalho sugere que a falha em conter a propagação da pandemia da covid-19 em todo o mundo é atribuída, em grande parte, à importância não reconhecida da transmissão de vírus no ar”, justifica Zhang. “O distanciamento social e a lavagem das mãos devem continuar, mas isso não é proteção suficiente. Usar a máscara facial, fazer a boa higiene das mãos e respeitar o distanciamento social também reduzirão bastante as chances de alguém contrair o vírus da covid-19.”
OMS: amamentação deve continuar
Após analisar “cuidadosamente” os riscos de lactantes transmitirem o coronavírus aos bebês, a Organização Mundial da Saúde decidiu recomendar que o aleitamento materno não seja interrompido em função da pandemia. “De acordo com as evidências disponíveis, o conselho é que os benefícios da amamentação superam qualquer risco potencial de transmissão”, disse o diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Segundo Anshu Banerjee, diretor do Departamento de Saúde Materno-infantil, Infantil e Adolescente da entidade, até agora, o Sars-CoV-2 não foi encontrado no leite materno. É por isso, diz Tedros Ghebreyesus, que “as mães sob suspeita ou confirmação de contaminação devem ser incentivadas a iniciar ou continuar a amamentar e não devem ser separadas de seus bebês, a menos que estejam muito doentes.”
Suspeita de causar diabetes
Um grupo internacional de cientistas alerta para o risco de a covid-19 desencadear o diabetes. Em uma carta publicada na revista New England Journal of Medicine, eles explicam que a suspeita tem como base observações clínicas de dados de pacientes infectados pelo Sars-CoV-2. Para isso, a equipe, formada por 17 especialistas em diabetes, montou o projeto CoviDiab Registry, que tem como objetivo construir um registro global de novos casos da doença em pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Até o momento, as análises indicam uma relação bidirecional entre as duas complicações. Entre 20% e 30% das pessoas que morreram em decorrência da covid-19 eram diabéticas. Por outro lado, o diabetes de início recente e complicações metabólicas atípicas do diabetes preexistente, incluindo as que ameaçam a vida, foram observadas em pessoas infectadas pelo novo coronavírus. “O diabetes é uma das doenças crônicas mais prevalentes e, agora, estamos percebendo as consequências do inevitável choque entre duas pandemias”, destaca, em comunicado, Francesco Rubino, professor de cirurgia metabólica no King’s College London, no Reino Unido, e coinvestigador do projeto CoviDiab Registry.
A equipe ainda não sabe como Sars-CoV-2 afeta o diabetes, ressalta Rubino. Eles, inclusive, cogitam que essa relação pode desencadear uma nova versão da doença. “O mecanismo exato pelo qual o vírus influencia o metabolismo da glicose ainda não está claro, e não sabemos se a manifestação aguda do diabetes nesses pacientes representa o tipo 1, o tipo 2 clássico ou possivelmente uma novo forma de diabetes”, detalha.
Proteína-chave
Pesquisas anteriores mostraram que a ACE-2, proteína que se liga ao Sars-CoV-2, permitindo que o vírus entre nas células humanas, não está apenas localizada nos pulmões. Pode-se encontrá-la, também, em órgãos e tecidos envolvidos no metabolismo da glicose, como pâncreas, intestino delgado, tecido adiposo, fígado e rins.
A hipótese levantada pela equipe do CoviDiab Registry é de que, entrando nesses tecidos, o coronavírus pode causar disfunções múltiplas e complexas no metabolismo da glicose. O fenômeno não seria raro. É provado que infecções por vírus podem precipitar o diabetes tipo 1. “Ainda não sabemos a magnitude do novo diabetes de início na covid-19, se ele persiste ou desaparece após a infecção e se a covid-19 aumenta ou não o risco de diabetes no futuro”, afirma Paul Zimmet, professor de diabetes na Universidade Monash, na Austrália, e um dos autores da carta. Os especialistas acreditam que, com o avanço do registro global, será possível sanar essas dúvidas.
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