O sarampo é uma infecção viral respiratória cujos sintomas incluem febre, tosse, conjuntivite e uma erupção cutânea extensa em todo o corpo. Também é totalmente evitável, pois sua vacina é segura e muito eficaz. Mas nas últimas décadas, temores infundados sobre a imunização fizeram com que a doença ressurgisse como um problema da saúde em todo o mundo, com um número crescente de casos em adolescentes e adultos.
“Em 2017, o número global de mortes por sarampo atingiu 110 mil pessoas. A maioria dessas mortes ocorreu em crianças pequenas”, destacam, no artigo, os autores do estudo, liderado por Thelma Xerri, pesquisadora do Departamento de Medicina do Hospital Mater Dei em Malta. “Grandes surtos com fatalidades estão ocorrendo em países europeus que, anteriormente, eliminaram ou interromperam a transmissão endêmica. Apenas nos primeiros seis meses de 2019, foram registrados 10 mil casos de sarampo na Europa”, ressaltaram os cientistas.
Xerri e sua equipe trataram três pessoas com sarampo que enfrentaram complicações adicionais como resultado direto da infecção. O primeiro caso foi de um jovem que havia tomado apenas a primeira das duas doses da vacina quando criança. Ele também foi diagnosticado com hepatite. O segundo caso envolveu uma jovem que desenvolveu apendicite. O terceiro, um homem de meia-idade, se queixava de visão turva e dor de cabeça intensa e foi diagnosticado com meningite viral.
Segundo os pesquisadores, as três pessoas se recuperaram completamente após os tratamentos adequados, e nenhuma apresentou problemas de saúde duradouros. Mas os cientistas explicam que, como o sarampo suprime o sistema imunológico, ele pode gerar problemas mais graves. De forma geral, quase um terço dos casos relatados estão associados a uma ou mais complicações. Entre as enfermidades geradas estão pneumonia, convulsões febris e encefalomielite (inflamação do cérebro e medula espinhal), que causa problemas neurológicos. “Outra possível é a panencefalite esclerosante subaguda (PESS), um distúrbio neurológico progressivo que causa dano permanente ao sistema nervoso e leva ao estado vegetativo”, diz Xerri.
Prevenção
Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), acredita que os dados do estudo científico são importantes, pois servem para mostrar à população como o sarampo é uma doença que precisa ser prevenida. “Esses dados servem como auxílio para dar fim à ideia de que o sarampo é uma doença benigna, ou seja, ‘mais leve’. Muitas pessoas acham que ela é fácil de ser resolvida e, por isso, não se cuidam”, explica.
Marinho também destaca que a pesquisa americana mostra como a doença pode atingir indivíduos de qualquer idade. “Grande parte das pessoas acha que apenas crianças e jovens sofrem com o sarampo, mas temos, no estudo, o caso de uma pessoa mais velha que teve complicações graves. É importante ilustrar com essas situações reais os riscos que estão envolvidos. Dessa forma, os alertas tomam uma força ainda maior”, diz.
Educação
Os pesquisadores atribuem o aumento de novos casos à publicidade negativa, iniciado no começo dos anos 2000, ligando a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola (MMR) ao autismo, apesar de uma série de estudos provarem o contrário. Isso levou a uma queda na captação de vacinas e na imunidade coletiva, chamada pelos especialistas de rebanho. “São necessários esforços urgentes para garantir a cobertura global com vacinas de duas doses contra o sarampo por meio da educação e do fortalecimento dos sistemas nacionais de imunização”, defendem os autores do estudo.
Para Ana Karolina Marinho, apenas a informação pode ajudar a combater os mitos relacionados à vacinação e, dessa forma, retomar as taxas de proteção. “A melhor maneira de sanar esse problema é falar para a população que a vacina é segura, que os boatos são infundados, que é importante evitar algo que pode gerar problemas mais graves, como uma meningite e uma pneumonia. Tudo isso pode ser prevenido apenas com a vacina. Apenas com esse tipo de movimento vamos conseguir retomar os avanços que já tivemos em relação ao sarampo”, reforça a especialista.