Um exame de sangue poderá ajudar a aumentar as chances de cura do melanoma e também ser usado como ferramenta de monitoramento da doença. O método desenvolvido por cientistas internacionais detecta o tumor de pele de forma precoce unindo duas estratégias: a identificação de células tumorais circulantes (CTCs), presentes no sistema sanguíneo do paciente, e de genes relacionados à doença. Em testes, a tática rendeu resultados promissores, aumentando as taxas de detecção do melanoma para mais de 70%.
O estudo, divulgado recentemente na revista especializada British Journal of Cancer, foi feito em parceria com cientistas do Grupo de Pesquisa Melanoma da Universidade Edith Cowan, na Austrália, e da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Em trabalhos anteriores, o grupo havia identificado a dificuldade de descobrir as CTCs em pacientes com melanoma — a taxa de detecção varia de 40% a 87%.
Eles também perceberam que isso ocorre porque as CTCs estão entre milhares de outras células do paciente e em menor quantidade. Dentro de um mililitro de sangue, por exemplo, há, geralmente, menos de 10 células cancerígenas no meio de 1 bilhão de glóbulos vermelhos e 1 milhão de glóbulos brancos.
“É como encontrar uma agulha no palheiro”, destaca, em comunicado, Elin Gray, um das autoras do estudo e pesquisadora da universidade australiana. “Agora, entendemos que a detecção de CTC não pode ser resolvida com uma abordagem única. Há uma enorme variedade de formas e bioatividade dessas células tumorais, todas elas parecem diferentes e respondem de maneira distinta aos testes”, complementa.
Para identificar as CTCs, Gray e sua equipe criaram um método mais amplo de análise, focado na identificação das CTCs e de 24 genes relacionados ao tumor. Ao analisar 43 amostras de sangue de pacientes com melanoma metastático, os resultados foram positivos. “Ao combinar três ensaios, aumentamos as taxas de detecção para 72%, o que foi um resultado significativa e consistentemente mais alto do que o uso de um teste com foco apenas nas CTCs”, compara Gray.
Metástase
Os investigadores acreditam que os dados poderão ajudar na criação de um método de detecção do melanoma mais eficaz, além de contribuir para o monitoramento da doença durante o tratamento. “O câncer se espalha pelo corpo quando as CTCs se desprendem do tumor primário e viajam pelo sangue para formar tumores secundários (metástases) em outros órgãos (…) Se pudermos encontrar uma maneira confiável de detectar essas células, teremos a chance de interromper o melanoma em suas trilhas usando uma poderosa ferramenta de diagnóstico”, explica a cientista.
O grupo trabalha, agora, com especialistas em inteligência artificial para acelerar a identificação de CTCs e dos genes relacionados ao melanoma. “Estamos confiantes de que essa abordagem é um passo em direção à detecção confiável de CTCs, mas precisamos ajustar o ensaio para incluir uma melhor combinação para capturar a maior variedade de células tumorais circulantes”, diz Gray.
Tecnologia promissora
Allan Pereira, oncologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília e chefe da Oncologia do Hospital de Base de Brasília, acredita que o estudo mostra uma maneira de detecção do melanoma promissora, apesar de ser ainda experimental. “Essa tecnologia de identificar o câncer por meio das CTCs e dos genes relacionados tem sido usada em outros tipos de tumores. Em alguns casos, isso está bastante avançado, como no câncer de pulmão”, relata. “Isso é muito positivo, pois o método de biópsia líquida, que é como o chamamos, é menos invasivo e mais exato do que os usados anteriormente, como a biópsia normal.”
O médico acredita que o uso de tecnologia para o monitoramento do tratamento também é algo extremamente positivo. “Com esse tipo de análise, podemos mostrar se o tratamento para o melanoma está tendo os resultados esperados. Isso nos ajuda a saber se precisamos mudar a abordagem e, dessa forma, poupa o paciente”, explica. “Mas é claro que o estudo precisa ser aprofundado, até porque a tendência é fazer com que esses exames fiquem cada vez mais refinados, ou seja, os cientistas sempre buscam maneiras de fazer com que a tecnologia seja mais avançada.”