Correio Braziliense
postado em 10/01/2020 06:00
De fácil preparo, barato e milenar, o chá é um importante aliado na busca por uma vida mais longa e saudável, de acordo com estudo publicado no Jornal Europeu de Cardiologia Preventiva. A pesquisa constatou que ingerir a bebida ao menos três vezes por semana está associado a menores riscos de doenças cardiovasculares e de morte por todas as causas. Quem mais se beneficiou foram aqueles que tinham hábito de tomar chá-verde ou beber qualquer tipo com frequência e há muito tempo.
A análise incluiu 100.902 participantes do projeto China-PAR2 sem histórico de ataque cardíaco, derrame ou câncer. Os voluntários foram divididos em dois grupos: bebedores habituais de chá (três ou mais vezes por semana) e nunca ou não habituais (menos de três vezes por semana). O acompanhamento médio foi de 7,3 anos.
O consumo habitual da bebida foi associado a anos de vida mais saudáveis e a maior longevidade. Por exemplo, as análises mostraram que os participantes do primeiro grupo que tinham 50 anos no início da pesquisa desenvolveram doença coronariano ou sofreram derrame 1,41 ano depois, vivendo 1,26 ano a mais do que aqueles que nunca ou raramente tomavam chá.
Além disso, comparados às pessoas que não tinham hábito de ingerir a bebida, os consumidores frequentes tiveram um risco 20% menor de sofrer doença coronariana e acidente vascular cerebral, 22% menos chance de morrer em decorrência dessas duas condições e 15% menos risco de morrer por qualquer outra causa.
Para confirmar essas estatísticas, os pesquisadores fizeram um novo acompanhamento em um subgrupo de 14.081 participantes, avaliados em dois momentos: 5,3 e 8,2 anos depois do início. Os resultados, dessa vez, foram ainda mais expressivos. Entre os bebedores habituais de chá, o risco de doença cardiovascular e de derrames foi 39% menor, e o de morrer por essas condições 56% mais baixo. Já a chance de morrer por qualquer outra causa foi 29% menor.
“Estudos sobre os mecanismos de ação da bebida já sugeriram que os principais compostos bioativos do chá, os polifenóis, não são armazenados no corpo a longo prazo. Assim, a ingestão frequente de chá por um período prolongado pode ser necessária para o efeito cardioprotetor”, diz Dongfeng Gu, autor sênior do estudo e pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Médica. “Além da frequência por longo prazo, os maiores benefícios à saúde foram observados entre aqueles que bebiam chá-verde”, completa Xinyan Wang, primeiro autor da pesquisa e cientista da mesma instituição.
Sem leite
A subanálise por tipo da bebida mostrou que o consumo do chá-verde reduziu os riscos de doenças, AVC e mortalidade por todas as causas em 25%. O mesmo não se observou em relação ao chá-preto. “Dois fatores podem estar em jogo. Primeiro, o chá-verde é uma rica fonte de polifenóis que protegem contra doenças cardiovasculares e seus fatores de risco, incluindo pressão alta e dislipidemia”, explica Dongfeng Gu. “Por sua vez, o chá-preto é totalmente fermentado e, durante esse processo, os polifenóis são oxidados em pigmentos, podendo perder seus efeitos antioxidantes. Além disso, frequentemente o chá-preto é servido com leite, e pesquisas anteriores demonstraram que, na função vascular, bebidas lácteas podem anular os benefícios do chá para a saúde.”
Outra razão possível, segundo os autores, está associada à metodologia do estudo. No leste asiático, onde a pesquisa foi realizada, a preferência dos consumidores é pelo chá-verde. Na população examinada, 49% dos usuários habituais da bebida tomavam essa versão com frequência. Entre os que admitiram ser bebedores habituais, apenas 8% optavam pelo chá-preto.
As análises específicas de gênero mostraram que os efeitos protetores do consumo frequente de chá foram pronunciadas e robustas para os homens. Contudo, apenas modestos para as mulheres. “Uma das explicações pode ser a de que, enquanto 48% dos participantes do sexo masculino eram consumidores habituais de chá, entre as do sexo feminino, o percentual foi de somente 20%”, diz Wang. “Em segundo lugar, as mulheres tiveram uma incidência de doenças e de mortalidade por doenças cardíacas e derrames muito mais baixas. Essas diferenças fizeram com que, estatisticamente, os resultados fossem mais significativos entre os homens.” Segundo o médico, o projeto China-PAR está em andamento e, com mais anos-pessoa de acompanhamento entre as mulheres, é possível que as associações se tornem mais pronunciadas.
Autor de um outro estudo recente que investigou a relação do consumo de alimentos ricos em flavonoides (do grupo dos polifenóis) e risco atenuado de doenças cardiovasculares, Nicola Bondonno, da Universidade Edith Cowan, na Austrália, adverte que o ideal é variar as fontes dessas substâncias. “Na nossa pesquisa, adultos que consumiam 500mg de flavonoides por dia tiveram menos risco de mortalidade por câncer e males cardiológicos. Mas é importante consumir uma variedade de diferentes compostos flavonoides, encontrados em diversos alimentos e bebidas, como chá, maçã, laranja e brócolis”, destaca.
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