Paloma Oliveto
postado em 14/12/2019 07:00
[FOTO1]Exonerado por Jair Bolsonaro por ter respondido às acusações do presidente de ;estar a serviço de alguma ONG; depois de divulgar dados sobre aumento do desmatamento na Amazônia em agosto, o cientista Ricardo Galvão, 71 anos, ex-diretor do Inpe, foi escolhido pela revista britânica Nature como uma das 10 pessoas que mais contribuíram para a ciência em 2019. Todos os anos, a publicação divulga os nomes, que serão revelados na terça-feira. Galvão, porém, admitiu em entrevistas nesta sexta-feira (13/12) que está na lista de destaque mundial.O atual professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), para onde retornou após sair do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), chamou Bolsonaro de ;pusilânime e covarde;. Nesta sexta-feira (13/12), ele afirmou à imprensa que ficou surpreso com a homenagem e destacou que a revista reconheceu o posicionamento do físico ;de defesa da ciência perante a comunidade internacional em um momento de obscurantismo;.
Para o cientista e ambientalista Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, a inclusão de Galvão na lista da Nature foi uma homenagem justa. ;Ele sacrificou o cargo em nome da ciência. O Inpe é uma das instituições científicas mais respeitadas do mundo. A postura do Galvão de não aceitar as ofensas (de Bolsonaro) foi extremamente relevante;, avalia.
O pesquisador estava no Inpe desde a década de 1970 e, em 2016, foi convidado a assumir a direção do instituto, onde ficaria até o ano que vem. Doutor em física de plasmas aplicadas pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e livre-docente de física experimental da USP desde 1983, Galvão retornou à universidade e passou a fazer palestras pelo mundo. Ao retornar à USP, em agosto, fez uma dura crítica às tentativas políticas de calar a ciência.
;Quando tomei a decisão de responder de forma contundente, claro que sabia que seria exonerado. Por outro lado, o retorno que tive da sociedade e do meio acadêmico não só do Brasil como do exterior, me ajudou a passar por esse período difícil de transição. De certa forma, posso dizer que digeri (a exoneração) e retornei à USP, onde estou refazendo minha vida como pesquisador. Difícil de digerir é o fato de que eu tinha mais um ano de mandato e muitos planos do que fazer;, afirmou, na época. ;Sempre que a ciência for atacada, temos de nos levantar. As autoridades sempre se incomodam quando escutam o que não querem. Mas será que esse seria um momento de volta às trevas? Não. Porque a comunidade acadêmica e científica e o povo brasileiro não se calarão;, sentenciou.
COP25
A notícia de que o ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão está na lista dos 10 nomes mais importantes da ciência chega em um momento em que líderes mundiais, incluindo Jair Bolsonaro, são acusados de fazerem pouco pela redução das emissões de gases de efeito estufa e de colocarem em risco o Acordo de Paris, documento elaborado há quatro anos com objetivo de frear o aquecimento global.A 25; Conferência do Clima (COP25), realizada em Madri, que deveria ter sido encerrada nesta sexta-feira (13/12), se arrastará por mais um ou dois dias devido à falta de acordo entre as delegações. Segundo observadores que acompanham as negociações, a quantidade de colchetes em aberto ; partes do documento final da conferência que precisam ser definidas por consenso ; era, nesta sexta-feira (13/12), a mesma de terça-feira, quando os chefes de Estado entregaram para seus ministros de Meio Ambiente o bastão da conferência.
Além de não se comprometerem com os avanços necessários para colocar em prática o Acordo de Paris, não demonstraram interesse em aumentar o nível de ambição das metas apresentadas há quatro anos na capital francesa, e que deveriam passar pela primeira revisão em 2020, na conferência de Glasgow (Reino Unido). Por trás da falta de comprometimento e mesmo do retrocesso em relação às negociações de anos anteriores, especialistas apontam interesses nacionalistas e acordos bilaterais, em detrimento do caráter multilateral do Acordo de Paris. Além de os Estados Unidos terem se retirado do acordo, grandes emissores, incluindo o Brasil, avisaram que não aceitarão ações em curto prazo.
Fóssil Colossal
Sede da primeira conferência climática da ONU, a Rio 92, o Brasil sai da COP25 com a imagem arranhada e, no lugar do protagonismo assumido desde o início das negociações, há 28 anos, leva para casa ;troféus; que reconhecem o retrocesso ambiental do país tanto interna como externamente. Nesta sexta-feira (13/12), pela primeira vez na história das COPs, o país foi ;condecorado; com o Fóssil Colossal, que aponta o desserviço de um país para o meio ambiente em âmbito global.;O ministro Ricardo Salles (meio ambiente) já chegou com um discurso arrogante, cobrando dinheiro para evitar o aumento do desmatamento;, afirma o cientista e ambientalista Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima. ;O Brasil é o país onde a convenção das Nações Unidas sobre mudanças climáticas nasceu, em 1992. Ao longo da história das COPs, o país teve um papel muito importante em questões como o Protocolo de Kyoto, os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) e o próprio Acordo de Paris;, lamenta.
Ao contrário de anos anteriores, quando acadêmicos, cientistas e membros da sociedade civil eram convidados a discutir com a delegação brasileira, na COP25, eles não tiveram acesso aos negociadores do país, critica André Ferretti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário e integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. ;Nas outras edições, essa era uma troca importante. Todos os dias, a delegação organizava essas reuniões da comunidade brasileira, para dividir problemas e soluções;, recorda.
Ferretti destaca que o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), prometeu, em Madri, que a Casa não vai permitir retrocessos. ;Ele lembrou que as decisões ambientais não dependem só do Executivo e disse que os parlamentares não vão deixar que tudo que o Brasil alcançou até agora seja perdido.;