As estimativas internacionais apontam que a fibrilação atrial (AFib), o distúrbio do ritmo cardíaco mais comum, afeta 2% da população ocidental. O tabagismo continua a ser um dos principais fatores de risco modificáveis para doenças cardiovasculares, incluindo a Afib. Acredita-se que 7% de todos os casos sejam atribuídos ao cigarro.
Usando dados do Framingham Heart Study original e do Framingham Heart Offspring Studies, dois estudos epidemiológicos de longo prazo que acompanharam a saúde cardiológica de norte-americanos, os pesquisadores analisaram um total de 5.124 pessoas, todas eram descendentes dos participantes originais dos levantamentos e tinham menos de 18 anos entre 1971 e 2014. Os pais foram avaliados por um médico a cada dois a quatro anos, e as crianças a cada quatro a oito anos.
O tabagismo foi definido, em ambos os estudos, como participantes que fumavam mais de um cigarro diariamente durante o ano anterior ao estudo. O status de fumante foi calculado em termos de maços por dia, onde um maço de cigarros representava 20 cigarros e meio maço, 10. A exposição ao fumo passivo foi definida como a presença de um dos pais fumando um ou mais maços por dia.
Por maços
O diagnóstico de Afib foi concluído por meio de uma avaliação dos resultados de prontuários, eletrocardiogramas e monitores de Holter. Havia informações disponíveis sobre o status de fumante dos pais para um total de 2.816 (55%) das crianças estudadas. A exposição ao fumo passivo foi vivenciada por 82% delas, e o status de fumante dos pais foi de 10 cigarros por dia.Entre a coorte de descendentes (os filhos dos participantes fumantes), 14,3% desenvolveram AFib durante um período de acompanhamento de 40,5 anos. Para cada maço por dia a mais que os pais fumavam, as crianças tiveram um aumento de 18% na incidência da doença cardiovascular.
;Nossas observações fornecem novas informações pertinentes à cessação do tabagismo, destacando os danos que podem estar associados não apenas a outras pessoas, mas a membros próximos e mais vulneráveis da família;, disse Gregory Groh, professor da Divisão de Cardiologia da Universidade da Califórnia, em San Francisco, e um dos principais autores do estudo. ;Com a crescente prevalência de AFib, é imprescindível abordar fatores de risco modificáveis, como o tabagismo, para reduzir a carga global da condição.;
Propensão a fumar
Os pesquisadores também descobriram que 17% dos filhos de pais tabagistas eram mais propensos a fumar, sugerindo outra maneira de o hábito paterno e/ou materno predispor as crianças ao AFib a longo prazo. Pesquisas anteriores mostraram que um dos pais fumantes aumenta a probabilidade de uma criança fumar mais tarde na vida. A cessação do tabagismo pelos familiares pode levar a uma menor incidência do hábito nos filhos.;Os resultados desse estudo indicam que a exposição ao fumo passivo na infância é um fator de risco para o desenvolvimento de AFib;, disse Alanna M. Chamberlain, epidemiologista do Departamento de Pesquisa em Ciências da Saúde da Clínica Mayo, em um comentário editorial que o acompanha. ;Esse estudo foi realizado com uma metodologia rigorosa para determinar diagnósticos de AFib na prole de fumantes, como avaliações repetidas com ECGs (eletrocardiogramas) e vigilância de rotina para resultados cardiovasculares;, destacou.
Os pesquisadores, contudo, destacam que o estudo também tem limitações, incluindo a falta de dados disponíveis para o status de fumante dos pais em quase 45% dos participantes da prole, bem como variações na exposição em relação a filhos de pais separados, divorciados ou solteiros. A composição demográfica do Framingham Heart Study é uma coorte predominantemente branca que vive em uma área geográfica específica, o que também restringe os resultados. No entanto, os pesquisadores enfatizaram a importância de esforços contínuos para a cessação do tabagismo e a prevenção do início desse hábito.
Para saber mais
Ameaça também alimentarRelatório divulgado, nesta semana, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta para outro problema na infância que pode comprometer a saúde ao longo da vida. Uma a cada três crianças com menos de 5 anos no mundo está desnutrida ou sofre de sobrepeso, indica o documento. Isso equivale a pelo menos 227 milhões de crianças afetadas por esses problemas alimentares.
O relatório, o maior sobre o assunto nos últimos 20 anos, mostra ainda que 340 milhões de crianças sofrem de carências alimentares. De acordo com os autores, a globalização dos hábitos alimentares, a persistência da pobreza e a mudança climática estão fazendo com que um número crescente de países acumule essa ;tripla carga;: desnutrição, sobrepeso e carência de nutrientes.
;Muitos países na América Latina, no leste da Ásia e do Pacífico acreditavam ter relegado a desnutrição ao passado, mas, agora, descobriram que têm um problema novo muito importante;, disse à agência Fraace-Presse (AFP) de Notícias Victor Aguayo, chefe do programa de nutrição da Unicef. Aguayo citou como exemplo o México, em que ;ainda há uma grande proporção de crianças desnutridas e, ao mesmo tempo, uma grande pandemia de sobrepeso e obesidade infantil, considerada uma emergência nacional pelo governo.;
A desnutrição segue sendo o principal problema: afeta as crianças quatro vezes mais que o sobrepeso. O número de crianças que não recebem comida suficiente para as suas necessidades nutricionais retrocedeu 40% entre 1990 e 2005, mas prevalece como um grande problema em muitos países, especialmente na África Subsaariana e no sul da Ásia, segundo o relatório.