Um estudo do Instituto de Medicina Social e Preventiva na Universidade de Berna, na Suíça, mostra que a alta taxa de mortalidade em decorrência da tuberculose está ligada a falhas na realização de exames diagnósticos. Segundo os autores, casos da doença resistente a antibióticos não são detectáveis devido a testes imprecisos, o que leva os pacientes a serem tratados incorretamente, aumentando a chance de morte.
Os pesquisadores coletaram amostras e dados clínicos de 634 pacientes, moradores de países fortemente afetados pela doença — entre eles, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Quênia, Nigéria, África do Sul, Peru e Tailândia —, ao longo de quatro anos. As amostras foram analisadas no Centro Nacional de Micobactérias da Universidade de Zurique, considerado laboratório de referência. De acordo com o estudo, 7% das bactérias culturais mostraram-se resistentes a um fármaco (monorresistentes), 26%, a vários fármacos (multirresistentes) e 5% eram resistentes à maioria dos fármacos (extensivamente resistente).
Porém, em 20% dos casos, os resultados dos laboratórios locais foram diferentes da conclusão do laboratório de referência. Quase 60% dos pacientes que não tiveram a resistência identificada e que receberam tratamento insuficiente morreram. A taxa de mortalidade entre aqueles cujos testes deram resultados diferentes foi quase duas vezes maior do que a dos casos em que as conclusões diagnósticas foram iguais.
“Pacientes com tuberculose resistente a remédios dependem de resultados rápidos e corretos e do tratamento, que deve começar imediatamente”, destaca, em comunicado, Kathrin Zürcher, uma das autoras do estudo, divulgado na revista Lancet Infectious Disease. O tratamento para esse tipo de tuberculose é caro e prolongado, podendo durar até dois anos, e tem taxa de sucesso de apenas 60%. “Isso torna o diagnóstico correto ainda mais importante nos países mais afetados”, frisa a autora.
Os exames disponíveis têm resultado obtido após oito semanas, impossibilitando o início rápido de intervenções médicas. “Precisamos de testes moleculares novos e abrangentes no ponto de atendimento que apresentem resultados dentro de horas ou dias”, defende Matthias Egger, coautor do artigo. Marie Ballif, também autora, reforça que o caminho para vencer os casos de resistência a medicamentos é investir no desenvolvimento de mais exames moleculares. “Sequenciar todo o DNA da bactéria oferece a abordagem mais promissora quando se trata de encontrar mutações e, com elas, qualquer resistência às drogas”, explica.